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COM MUITA AJUDA

ESPECIAIS/VE A VINGANÇA DA NATUREZA

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data24/02/2023
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Humanos participando direta e ativamente na transformação da natureza.

Nessa série de filmes a participação humana é mais claramente definida, muitas vezes realizando experiências genéticas ou de outro tipo que resultam em alterações e mutações drásticas nos animais.
Mais uma vez, muitos desses filmes foram comentados em outras matérias como Gigantes Atômicos e Outros Monstros e Alguns Filmes Com Monstros Mutantes, no especial Alguns Monstros, e também em Alguns Filmes e Séries com Mutações, Engenharia Genética e Outras Transformações, no especial Corpos Alterados.

 

A PICADA MORTAL (The Deadly Bees, 1966)
Direção de Freddie Francis.

(Amicus Productions).

Filme da famosa produtora inglesa Amicus, que nos anos 1950 e 60 rivalizou com a Hammer. Tem direção de outro nome conhecido do cinema de terror e ficção científica da época, e roteiro de Anthony Marriott e de Robert Bloch, o autor de Psicose, a partir do livro A Taste For Honey (1941), de H.F. Heard.
É um dos filmes que geralmente são incluídos no subgênero “vingança da natureza”, porém com grande participação dos humanos. Aqui, um apicultor desenvolve uma forma de fazer com que suas abelhas possam atacar quem quer que ele deseje. Não faz muito sentido, mas ele é uma espécie tardia de cientista louco, então...

                                                                                                                                                                                                                (Vanguard Press).

Segundo os críticos Geoffrey Stevens e David Langford explicam, Robert Bloch afirmou que ele escreveu o roteiro originalmente para ser interpretado por Boris Karloss e Christopher Lee, mas nenhum deles estava disponível. Assim, o diretor contratou o roteirista Marriott sem que Bloch soubesse, e ele reescreveu quase tudo, de modo que “(...) o resultado final do filme tem pouca semelhança com o roteiro de Bloch. A Picada Mortal não foi bem nas bilheterias, e ainda foi atrapalhado por efeitos visuais tão pouco convincentes como abelhas de plástico coladas no rosto dos atores durante os ataques”.
Phil Hardy (em Horror) disse que o filme é uma adaptação sem brilho do romance de Heard e um dos piores filmes de Francis; para ele, mesmo o corte de 40 minutos no original não disfarça o fato de que o filme é obviamente derivado de Os Pássaros. “Ainda que as cores sejam agradáveis”, diz Hardy, “e o rosto das vítimas das abelhas adequadamente terríveis, as pistas falsas do roteiro são tão óbvias e a direção tão enfadonha que o filme acaba irremediavelmente sem sabor”.
 


A NOITE DOS COELHOS (Night of the Lepus, 1972)
Direção de William F. Claxton.

(A.C. Lyles Productions/ MGM).

Baseado no livro The Year of the Angry Rabbit (1964), do escritor australiano Russell Braddon. O livro tem um tom cômico, o que falta ao filme, que com o tempo acabou se tornando um cult, daqueles tão ruins que fazem rir. A ação se passa no Arizona, com cientistas desenvolvendo um projeto para exterminar parte da crescente população de coelhos, que aumentou após os coiotes serem exterminados. O projeto dá errado e os coelhos crescem até atingirem proporções imensas, ameaçando os humanos.
Geralmente, os críticos apontam como o maior problema do filme o fato de não terem conseguido fazer com que os coelhos parecessem ameaçadores, mas apenas coelhos imensos andando em maquetes de um cidade. O fato é que nada se salva, nem mesmo a presença de atores e atrizes experientes como Stuart Whitman e Janet Leigh; também tem a presença de DeForest Kelley, o McCoy de Jornada nas Estrelas.
No entanto, o crítico Phil Hardy não foi tão mordaz quanto a maioria. “Cheio de deleites incidentais”, ele disse, “tais como coelhos monstros galopando em câmera lenta enquanto se ouve cascos trovejantes na trilha sonora, essa produção é bem superior à série de faroestes de baixo orçamento de Lyles (o produtor A.C. Lyles) com atores e atrizes mais velhos”. Segundo Hardy, apesar do roteiro previsível, o diretor consegue criar arrepios suficientes para tornar a ideia de coelhos gigantes mais do que apenas humorística.
Mas ele está sozinho nessa avaliação. O filme é tenebroso.


PRAGA INFERNAL (Bug, 1975)
Direção de Jeannot Szwarc.

Joanna Miles (Williams Castle Productions).

Baseado no livro The Hephaestus Plague (1973), de Thomas Page, tem a participação do diretor e produtor veterano dos filmes de terror, William Castle, aqui na produção e no roteiro do filme.

                                                                   (Corgi Books/ Transworld Publishers, 1975).

A história é uma mistura do gênero “vingança da natureza” com “cientista louco”, o sujeito que ajuda muito para criar problemas. Tudo começa com um terremoto que abre uma brecha na terra, da qual surgem insetos incendiários que se alimentam de carbono, até então desconhecidos da humanidade. Ao friccionar seus membros traseiros, eles produzem fogo e incendeiam objetos e pessoas. Mas eles começam a morrer devido à pressão no mundo exterior e, quando se imagina que o filme vai acabar, entra em cena o cientista em questão, interpretado por Bradford Dillman, cuja esposa morreu devido ao incêndio causado pelos insetos, e que se torna obcecado pelos bichos. Ele resolve manter alguns deles vivos e cruzá-los com baratas. Por alguma razão desconhecida, os novos seres são carnívoros e desenvolvem uma inteligência de grupo e se voltam contra ele.
Segundo o crítico John Brosnan, o filme, assim como o livro que o originou, não deixa claro o que está tentando ser, “(...) um filme de monstro ou algum tipo de alerta alegórico à humanidade do tipo ‘vingança da natureza’.”
Phil Hardy foi outro crítico que ficou confuso com a proposta do filme. “Parecendo à primeira vista ser mais um filme vingança da natureza”, ele disse, “Praga Infernal (...) repentinamente muda de curso e se torna um filme de cientista louco rotineiro”. Segundo Hardy, quando ocorre o cruzamento dos animais, o roteiro e a direção de Szwarc desmoronam e se tornam previsíveis e implausíveis.
No Brasil, lançado em VHS (CIC Video).
 

 


PARQUE DOS DINOSSAUROS (Jurassic Park, 1993)
Direção de Steven Spielberg.

(Universal Pictures/ Amblin Entertainment).

Na lista de histórias em que a natureza se volta contra os humanos, talvez em nenhuma os animais tenham tido tanta “ajuda” dos humanos como em Parque dos Dinossauros, um dos maiores sucessos de Spielberg, com história baseada no livro com o mesmo título, de Michael Crichton.
Aqui, a natureza é simplesmente recriada, com a ajuda da engenharia genética, de tal forma que um cientista torna possível que animais extintos há muito ganhem vida. E, como não poderia deixar de ser, resolve transformar o que seria o maior desenvolvimento da ciência até então em um grande empreendimento, colocando alguns dos seres mais ferozes que já existiram no planeta em um parque, para serem apreciados por possíveis visitantes.

                                                                                                                            Sam Neill e Laura Dern.

A história já é bastante conhecida, com a tentativa de roubo da tecnologia que acaba por causar uma pane no sistema de segurança e libertando no parque os seres mais violentos e perigosos, colocando em risco a vida dos cientistas (e crianças, é claro) que visitam o local antes da abertura para o público.
O filme foi um estrondoso sucesso de bilheteria – até então, a maior bilheteria do cinema em todos os tempos – e recebeu muitas críticas positivas, mas nem sempre foi uma unanimidade. Peter Nicholls (em The Encyclopedia of Science Fiction) disse que quase toda resistência intelectual do livro original de Crichton foi eliminada, além de apresentar a concepção, própria dos filmes de ficção científica voltados para o terror, de que a tecnologia é basicamente errada e de que o status quo deve ser restaurado se queremos ser salvos. O teórico da Teoria do Caos – no filme interpretado por Jeff Goldblum – que, no livro, explica porque as coisas vão dar erradas, tem quase todas suas falas cortadas no filme, e o “(...) capitalista que projeta o parque temático, no livro particularmente sujo, é apresentado como um Papai Noel fofinho”, disse Nicholls; “uma coleção variada de pendências narrativas apontam na direção do que poderiam ter sido dificuldades colossais de roteiro, nunca adequadamente resolvidas. Ao transformar o filme em algo não tão assustador para as crianças e não tão crítico do negócio do entretenimento, o filme é suavizado”. Ainda assim, Nicholls diz que as críticas não causam prejuízo a essa extravagância moderna da ficção científica, uma vez que as habilidades dos inúmeros especialistas em efeitos especiais e do cinegrafista Dean Cundey de longe sobrepujam as deficiências do roteiro para quase todos os espectadores. “Afinal de contas”, ele completa, “é antes de mais nada um filme para crianças”.
As críticas favoráveis ao filme sempre destacaram os efeitos visuais, inovadores na época. John Stanley disse que esse é “Um dos mais importantes filmes no uso tecnológico de computadores, provando que nada é impossível no mundo dos filmes enquanto artistas tiverem a imaginação para levar isso a cabo”. Ele também diz que o roteiro perde pouco tempo em caracterizações, já que o filme foi projetado para nos estimular com imagens de dinossauros como jamais tinham sido visto.
O escritor e crítico de fc John Scalzi lembrou (em The Rough Guide to Sci-Fi Movies) que, em 1993, Spielberg dirigiu dois filmes totalmente diferentes, o segundo sendo A Lista de Schindler, que deu a Spielberg seu primeiro Oscar como melhor diretor. E tornou-se moda apresentar esses dois filmes como os “dois lados da moeda dos filmes de Spielberg”, que seriam: os filmes consagrados como os que agradam grandes públicos, com grandes efeitos especiais, porém com pouca repercussão emocional; e os filmes genuína e imensamente emocionais que podem partir seu coração.
Assim, Parque dos Dinossauros estaria sem dúvida na primeira definição. No entanto, Scalzi entende que o filme é subestimado em suas qualidades emocionais. “O filme não é profundo”, ele diz, “mas o que Spielberg faz, ele faz de forma tão fluente que é fácil subestimar o trabalho envolvido. Em suma, nenhum outro cineasta tem a habilidade para investir em tecnologia de efeitos com tanto impacto emocional na audiência quanto Spielberg”.
E é claro que, como ocorre com todos os filmes que rendem centenas de milhões de dólares, esse gerou suas sequências, além de uma série de outros produtos. Os filmes, todos muito inferiores ao original, são: O Mundo Perdido: Jurassic Park (The Lost World: Jurassic Park, 1997); Jurassic Park III (Jurassic Park III, 2001); Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015); Jurassic World: Reino Ameaçado (Jurassic World: Fallen Kingdom, 2018); Jurassic World: Domínio (Jurassic World: Dominion, 2022).


A COBRA ASSASSINA (King Cobra, 1999)
Direção de David Hillenbrand e Scott Hillenbrand.

Casey Fallo (Hill & Brand Entertainment/ Trimark Pictures).

Produção feita direto para vídeo e, no Brasil, também com o título em inglês. Mais uma vez os cientistas ajudam a natureza, realizando pesquisas genéticas em um laboratório, desenvolvendo uma droga que aumenta a agressividade em humanos e animais. Mas um acidente ocorre no laboratório e uma cobra imensa é exposta à droga, e foge. Com o tempo, ela começa a atacar as pessoas. Um filme horroroso.
No Brasil, lançado em vídeo (Flashstar).


MORCEGOS (Bats, 1999)
Direção de Louis Morneau.

(Destination Films).

Dessa vez os seres geneticamente alterado são morcegos, que começam a atacar em uma pequena cidade do Texas, onde Lou Diamond Phillips é o xerife. Como os morcegos têm uma inteligência superior e os ataques não podem ser contidos, chamam uma especialista (Dina Meyer). Eventualmente, os morcegos invadem a cidade e a Guarda Nacional tem de ser chamada e ameaça destruir toda a cidade para matar os bichos.
Um filme tenebroso que, é claro, teve uma sequência apresentada no Sci-Fi Channel, Morcegos: Colheita Humana (Bats: Human Harvest, 2007), ainda pior do que o original.
No Brasil, o primeiro foi lançado em vídeo (Columbia).


RAPTOR (2001)
Direção de Jim Wynorski.

(Concorde-New Horizons).

Esse é um dos tenebrosos da época, com produção de Roger Corman, que utilizou trechos de filmes anteriores de sua série Carnossauro, que começou em 1993. O resultado é que com alguma frequência as locações mudam drasticamente, às vezes na mesma cena, uma vez que os trechos foram sendo editados sem qualquer cuidado. E acho que não importava mesmo.
Aqui ocorre uma série de ataques de animais sem explicações aparentes, até que o xerife local consegue identificar que um cientista está por trás do problema. Ele realizava experiências para o governo envolvendo clonagem de dinossauros; seu projeto e o orçamento foram cortados, mas ele conseguiu dinheiro fora do país. O nome do cientista é, nada mais, nada menos, Dr. Hyde.
 


LOCUSTS: THE 8th PLAGUE (2005)
Direção de Ian Gilmour.

(Unified Film Organization/ Swarm Productions/ Sci Fi Pictures).

Feito para TV. Outra daquelas produções miseráveis, com resultados pavorosos. Um laboratório realiza experiências genéticas, criando gafanhotos que comem carne humana. E é claro que eles escapam do laboratório e passam a ameaçar a humanidade. E também é claro que foi exibido no canal Sci Fi.

 


THE EDEN FORMULA (2006)
Direção de John Carl Buechler.

(Motion Picture Corporation/ Fantastical Cinema LLC/ Imageries Entertainment).

Outra produção tenebrosa para televisão, exibida no canal Sci Fi. O diretor Buechler, falecido em 2019, já era um veterano dos filmes de terror e ficção científica de baixo orçamento, tendo trabalhado bastante com Charles Band, além de alguns filmes da série Sexta-Feira 13.
Esse é outro filme que utilizou filmagens do filme Carnossauro, no qual Buechler trabalhou produzindo efeitos especiais. Traz Jeff Fahey como um cientista que desenvolveu a fórmula do título, capaz de curar várias doenças, mas que também é utilizada sem o seu conhecimento para criar um tiranossauro, que é mantido em cativeiro até que espiões entram no local e acabam soltando o bichão em Los Angeles.
 


CÃES ASSASSINOS (The Breed, 2006)
Direção de Nicholas Mastandrea.

(Film Afrika Worldwide/ ApolloProMovie & Co. 1. Filmproduktion/ DEJ Productions/ First Look International).

Produção conjunta da Alemanha, África do Sul e Estados Unidos. Um jovem herda uma casa em uma ilha e convida seu irmão e amigos para passarem algum tempo lá. Logo descobrem que a ilha está repleta de cães ferozes que ameaçam suas vidas, e acabam descobrindo que do outro lado da ilha existia um local que realizava experiências genéticas nos animais, transformando-os em assassinos.

 


OVELHA NEGRA (Black Sheep, 2006)
Direção de Jonathan King.

(New Zealand Film Commission/ New Zealand On Air/ The Daesung Group/ Escapade Pictures/ Singlet Films).

Coprodução da Nova Zelândia e Coreia do Sul. Mistura de comédia com terror, a ação se passa em uma fazenda da Nova Zelândia, com os irmãos Henry e Angus. Henry desenvolveu uma fobia por ovelhas depois que seu irmão fez uma brincadeira grotesca com ele envolvendo o cadáver de sua ovelha de estimação, no mesmo momento em que ele recebia a notícia da morte do pai.
Henry só volta à fazenda 15 anos depois, mas Angus permaneceu no local e realizou experiências genéticas com as ovelhas, transformando-as em animais carnívoros e ferozes. Para completar, mordidas das ovelhas transformam os humanos em monstros sanguinários semelhantes a ovelhas.
O crítico Don Kaye disse que o diretor Jonathan King foi claramente influenciado por seu conterrâneo Peter Jackson, aspirando o mesmo sentido de insanidade que Jackson obteve em Trash – Náusea Total (Bad Taste,1987) e em Fome Animal (Braindead, 1992).


MEGA ARANHA (Big Ass Spider!, 2013)
Direção de Mike Mendez.

(Epic Pictures Group/ Film Entertainment Services/ ICE Animations/ Snowfort Pictures/ Syfy).

Outra produção misturando ficção científica e terror, porém voltada para comédia. A mega aranha do título é o resultado de uma experiência realizada pelos militares. De alguma forma, eles descobriram DNA alienígena, e estavam realizando experiências para criar um hormônio de crescimento, mas havia um ninho de aranhas no local e, exposta ao hormônio, começou a crescer absurdamente.
Ela ameaça toda a cidade de Los Angeles, mas o herói do momento acaba sendo um exterminador de pragas que estava sendo tratado em um hospital no momento em que a aranha, ainda do tamanho de um roedor, sai de um corpo que estava no necrotério e começa a crescer sem parar.
O filme recebeu boas críticas, especialmente por não se levar muito a sério.