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A QUINTA ESTAÇÃO

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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data17/12/2018
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A Editora Morro Branco publica uma das mais consagradas escritoras de fantasia da nova geração.

N.K. Jemisin não é uma escritora qualquer. A trilogia iniciada com esse A Quinta Estação – e que teve sequência com O Portão do Obelisco (já lançado pela editora) e com The Stone Sky – rendeu a ela três prêmios Hugo consecutivos pelo Melhor Romance. O terceiro da série ainda levou os prêmios Nebula e Locus. E essas indicações para os maiores prêmios de ficção científica e fantasia do planeta já vem acontecendo desde 2010. O prêmio Hugo por A Quinta Estação fez dela a primeira afro-americana a conquistar nessa categoria. E o terceiro Hugo consecutivo fez dela a única escritora a conseguir o feito, e a concorrência é grande.
Depois de percorrer o mundo de fantasia da Quietude, onde se localiza a história, fica fácil entender como a norte-americana Nora K. Jemisin se tornou uma das escritoras mais consagradas da nova geração de autores fantásticos. O mundo e os personagens que ela construiu são únicos, consistentes, multifacetados e extremamente convincentes.
Aparentemente, o planeta onde se passam as histórias tem um único supercontinente – e digo aparentemente porque não sei o que vem pela frente nos outros livros – a Quietude, uma terra que de quieta não tem nada. Não apenas pelas convulsões geológicas que, de tempos em tempos, provocam Estações que quase liquidam com a vida, levando as pessoas a se reagruparem e reorganizarem suas sociedades da melhor forma possível. As Estações surgem quando grandes movimentos de terra, vulcânicos ou não, transformam o clima da Quietude, impedindo que a vida prossiga normalmente.
A sociedade também passa por convulsões sociais envolvendo os vários tipos de seres que habitam o planeta, envolvidos em situações de busca e manutenção do poder, de ocultação ou busca de conhecimentos, de preconceito declarado ou mascarado, e de medo pelo que é diferente ou novo.
Nesse ambiente, um dos destaques são os orogenes, pessoas com habilidades especiais, provavelmente hereditárias, que podem interferir com os movimentos geológicos, impedindo que maiores desastres ocorram – ou, se assim desejarem, provocando desastres. Eles são vigiados pelos Guardiões, que têm poderes para detê-los, se for o caso, e que podem fazer isso sem maiores explicações.
Os orogenes, apesar de sua importância para o planeta, são mal vistos pela população em geral. Sendo treinados desde a infância, queiram ou não seguir por esse caminho, têm uma vida difícil. Jemisin segue basicamente a vida deles, em particular de uma orogene, apresentando diferentes momentos que, ao final do livro, se unem para compor os eventos e explicar a personalidade da personagem, no momento em que a Quinta Estação vai começar em Quietude após um evento geológico catastrófico.
Jemisin disse que a ideia para o livro surgiu de um sonho e de sua tentativa de entender o sonho, no qual ela via uma mulher que olhava para ela profundamente irritada, enquanto uma montanha se movia atrás dela. A autora pensava quem seria aquela mulher capaz de mover montanhas e por que ela estava tão irritada.
Em entrevista à revista Wired, em 2016, Jemisin disse que fez uma pesquisa para escrever o livro, aprendendo sobre sismologia, visitando vulcões no Havaí, mas que esse não foi o ponto central da história. Ela diz que “fantasia é fantasia”, e que a pesquisa não pode sobrepujar a ficção.
E, ainda que alguma crítica aos preconceitos possa ser percebida no livro, Jemisin diz que nada foi planejado para funcionar como uma crítica à nossa sociedade, já que não quis escrever uma alegoria à escravidão e opressão de castas. “Eu planejei”, ela disse à Wired, “escrever uma história sobre uma mulher em luto por sua criança. Eu planejei mostrar o que a fez ser extraordinária. Eu desejei descrever um mundo no qual pessoas que são poderosas, que são valiosas, são direcionadas para sistemas de opressão autossustentados e externamente impostos, e como se evita que pessoas que podem arremessar montanhas arremessem montanhas, e governem o mundo”.
Bom... para dizer o mínimo, ela conseguiu o que planejou. E conseguiu em grande estilo. Um livro maravilhoso.

A QUINTA ESTAÇÃO (The Fifth Season, 2015)
N.K. Jemisin.
Editora Morro Branco.