Artigos

PIANO MECÂNICO

Livros/Lançamentos

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data31/08/2020
fonte
Relançado no Brasil o primeiro romance de Kurt Vonnegut Jr., um dos mais importantes escritores de sua geração.

Aos poucos, os livros de Kurt Vonnegut Jr. vão sendo relançados no Brasil. Agora, é a vez de Piano Mecânico (Player Piano, 1952), o primeiro romance do autor, que havia sido publicado no Brasil com o título Revolução no Futuro – pela Artenova e, depois, pelo Círculo do Livro, em 1974; e em Portugal, pela coleção Argonauta, em 1970, com o título Utopia 14, título pelo qual o livro foi relançado nos EUA em 1954.
Não é tão bom quanto o que viria depois, mas ainda assim é muito interessante, já apresentando um pouco do humor, ironia e sarcasmo mordazes do autor.
A história se passa em algum momento após a Terceira Guerra Mundial, inicialmente dando a impressão de tratar-se de uma utopia, mas logo revelando uma face tenebrosa da sociedade. Durante a guerra, sofrendo com a falta de mão-de-obra, uma nova revolução industrial dividiu a sociedade de maneira dramática, com o desenvolvimento de máquinas capazes de realizar os trabalhos nas fábricas. Depois disso, aumenta o número de desempregados, e todas as máquinas são controladas por um supercomputador, o EPICAC, que Vonnegut já tinha utilizado como base de seu conto EPICAC, de 1950.
Os engenheiros e os dirigentes controlam todos os aspectos da vida e são os únicos privilegiados, e mesmo dentro dessa casta qualquer falha significa o fim dos privilégios. O povo vive de subsídios e empregos paralelos, recebendo os bens materiais que as fábricas produzem quase de graça. A casta privilegiada, na verdade, não tem de fazer quase nada, uma vez que as decisões são tomadas pelo computador. Até mesmo a arte é programada, seguindo os padrões desejáveis.
Tudo na sociedade é aparência, superficial, mas alguns engenheiros sentem-se descontentes, alguns enlouquecendo ou sendo levados a situações extremas. Assim, arma-se o cenário para um golpe de estado, uma revolução com o objetivo de tomar o controle do país e com a ideia de extinguir o uso da computação como forma de resolver todos os problemas.
Mas, como trata-se de uma história de Vonnegut, não existem soluções fáceis ou definitivas. Vonnegut costuma apresentar em suas histórias uma descrença com relação a algum tipo de futuro brilhante da humanidade, de algum crescimento intelectual, artístico ou espiritual, e em Piano Mecânico não é diferente.
Vonnegut ainda iria muito mais longe em suas críticas mordazes, às vezes sendo visto por parte da crítica como um autor um tanto exagerado em suas ironias e humor negro, mas geralmente aceito como uma das vozes importantes de sua geração.
Para quem ainda não conhece o autor, esse livro é uma boa forma de começar.


PIANO MECÂNICO (Player Piano, 1952)
Kurt Vonnegut
Ed. Intrínseca
496 páginas