Fazia tempo que não lia nada de Dean Koontz, especialmente porque o autor não está entre meus prediletos; longe disso. Grande parte de sua produção apresenta histórias um tanto rasteiras, com desenvolvimentos mais ou menos óbvios, com a possível exceção da série com o personagem Odd Thomas – no Brasil foram publicados Odd Thomas, Odd Para Sempre, Irmão Odd e As Horas de Odd.
O que chamou a atenção nesse Os Olhos da Escuridão foi a imensa publicidade que o livro ganhou em 2020, quando passou a ser apresentado como uma obra que teria previsto o surto de coronavírus. De cara posso dizer: não previu. Na verdade, a história não tem relação com qualquer pandemia ou surto virótico, e é incrível que alguns veículos de comunicação no mundo inteiro tenham se rendido a essa publicidade, aparentemente sem ler o livro.
Existe, lá para o fim do livro, uma referência a pesquisas realizadas em Wuhan, mas é só.
A base da história é a busca de uma mãe por seu filho, tido como morto. Inicialmente, ela começa a receber estranhas mensagens que mais parecem ser ação de um poltergeist ou algo parecido, além de sonhos muito realistas com a criança e palavras que misteriosamente surgem no quadro-negro do quarto intocado do filho, simplesmente dizendo “Não está morto”.
A partir daí, ela e um amigo partem em uma jornada para descobrir o que existe por trás das mensagens e dos estranhos eventos, sendo perseguidos por uma organização secreta com péssimas intenções.
E é isso. Alguma boa ação e aventura, mas, mais uma vez, desenvolvimentos previsíveis para as situações apresentadas.
Fúrias Despertadas é o terceiro volume da série iniciada com Carbono Alterado e que teve sequência com Anjos Partidos, mais uma vez apresentando o personagem Takeshi Kovaks. Depois de pertencer a uma gangue criminosa em sua juventude, e de ter sido incorporado aos Emissários, uma força de persuasão do Protetorado, Kovacs passa a agir por conta própria, utilizando tudo o que aprendeu como Emissário, o que não é pouca coisa.
Nesse terceiro livro, ele retorna ao seu mundo natal, o Mundo de Harlan, e volta a envolver-se com as forças que disputam o poder, inclusive as antigas forças revolucionárias dos quellistas, às quais se junta, mas nem tanto.
Kovacs é um personagem complexo; em parte, arrasado por algumas de suas ações nas guerras de repressão aos rebeldes – e por repressão entenda-se a eliminação completa de qualquer resistência, mesmo que isso implique em genocídio: as classes governantes, as Primeiras Famílias, não abrem mão do poder facilmente. Mas ele também tem pensamentos que o remetem à filosofia libertária quellista, e ele fica no centro de ações que podem trazer o movimento de volta à vida.
O livro não causa o mesmo impacto de Carbono Alterado, mas ainda assim é um excelente complemento à trajetória repleta de obstáculos de Kovacs, com uma narrativa às vezes um pouco truncada pelo excesso de termos e referências a técnicas e conhecimentos de um futuro distante.
OS OLHOS DA ESCURIDÃO (The Eyes of Darkness, 1981)
Dean Koontz
Citadel Editora (2020)
272 páginas
FÚRIAS DESPERTADAS (Woken Furies, 2005)
Richard Morgan
Bertrand Brasil (2019)
588 páginas