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Pontypool

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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data21/09/2012
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Na seção de filmes que vale a pena procurar, Pontypool traz uma visão interessante para um novo vírus que se espalha pelo planeta e cria zumbis.

Como fazer um filme de zumbis sem cair nos clichês? Ou, o que mais se pode inventar de novo para os tão populares filmes de zumbis? Parece uma tarefa difícil, mas Pontypool conseguiu alguma coisa diferente, e com um orçamento de 1,5 milhão de dólares, o que é pouco para um filme do gênero, mesmo no Canadá. E fez isso filmando em apenas uma locação, o interior de uma estação de rádio.
Talvez seja pouco para os fãs que gostam de vísceras e sangue se espalhando pela tela, mas é o suficiente para quem gosta de uma boa história, bem contada. O diretor Bruce McDonald já teve participações no gênero fantástico dirigindo episódios dos seriados de TV Lexx, ReGenesis e The Ray Bradbury Theater, e aqui trabalha com um bom roteiro de Tony Burgess, sem grande experiência no cinema, a partir de seu livro Pontypool Changes Everything.


Stephen McHattie, transmitindo a nova epidemia de zumbis.

A inspiração para o formato escolhido para o filme veio da famosa transmissão radiofônica de A Guerra dos Mundos, feita por Orson Welles nos anos 1930. Stephen McHattie interpreta Grant Mazzy, que já foi uma celebridade do rádio, agora contratado para um trabalho de menor importância numa estação da pequena cidade de Pontypool, em Ontário, Canadá. Trabalhando com ele estão a produtora Sydney Briar (Houle) e a técnica de estúdio Laurel-Ann Drummond (Reilly).
Mazzy é um falador, e dos bons, que gosta de contar histórias e descobrir assuntos interessantes e misteriosos onde parece não haver nada. E o assunto do momento chega a ele e aos que estão no estúdio quando o repórter Ken Loney (Roberts) começa a falar de eventos perturbadores que estão ocorrendo em torno do consultório do dr. Mendez (Alianak); as pessoas estão agindo de forma estranha, como se estivessem enlouquecidas, e passam a atacar outras pessoas.
A história vai sendo composta aos poucos, sem pressa, com os eventos se sucedendo e crescendo em intensidade. Poucos zumbis serão vistos na tela, mas o clima de suspense e de tensão é criado com imensa competência e, eventualmente, os problemas vão atingir as pessoas que estão isoladas na rádio.


Como conter um vírus que se espalha pela linguagem? Os zumbis chegam à rádio, atraídos pela transmissão.

O conceito mais interessante do filme é a forma de transmissão desse novo vírus, que torna as pessoas em criaturas famintas por carne humana. O vírus é transmitido pelo idioma; mais especificamente, pelo idioma inglês; e ainda mais especificamente, por algumas palavras, que ninguém sabe quais são. Um comunicado enviado à rádio por algum tipo de autoridade que já está lá fora tentando solucionar o problema, é transmitido em francês e pede que as pessoas não conversem umas com as outras usando linguagem infantil ou mesmo palavras de carinho e amor. Tudo indica que isso desperta o vírus e inicia uma rápida transformação das pessoas; primeiro, elas começam a falar coisas sem sentido, repetindo algumas palavras; depois, começam a seguir a voz de outras pessoas, tentando encontrar alguém para morder e arrancar pedaços.
A escolha de uma estação de rádio para a locação é perfeita diante da situação, uma vez que tudo o que eles podem fazer é falar e tentar informar as pessoas, justamente o que não devem fazer. A questão é: como conter um vírus que se transmite pela palavra, através da informação? Um vírus que é ativado pela compreensão do que foi dito?
O final do filme deixa algumas questões em aberto, mas também a sensação de que não é possível conter um vírus com essas características, ou que pelo menos isso representará a mais longa e difícil guerra na história da humanidade, pois o que mais se faz hoje em dia é falar e transmitir informações de um lado para outro, sem cessar. Como combater um vírus que se transmite através das palavras se não sabemos quais são essas palavras, ou se as palavras-chave podem mudar de um momento para outro? E como será a civilização humana após essa guerra, mesmo que vençamos? Em que os humanos, sem poder se comunicar verbalmente, irão se transformar?
Um filme sensacional, ainda que pouco comentado, fazendo tudo o que os bons filmes fazem de melhor, que é apresentar discussões e possibilidades, mais do que respostas prontas e fáceis.


PONTYPOOL (2008)
Canadá
(Ponty Up Pic./ Shadow Shows)
Direção de Bruce McDonald.
Roteirode  Tony Burgess.
Com Stephen McHattie, Lisa Houle, Georgina Reilly, Hrant Alianak, Rick Roberts, Beatriz Yuste.
93 minutos.