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Novas Ameaças ao Planeta

ESPECIAIS/VE FIM DO MUNDO

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data17/05/2015
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A bola da vez nas prováveis ameaças ao planeta é a possibilidade do aquecimento global, que pode ter consequências imprevisíveis.

A "ameaça nuclear" vem sendo substituída gradual, mas amplamente, pelo perigo de uma catástrofe planetária que modifique radicalmente a natureza da Terra.
Não que o perigo de um conflito nuclear tenha sido afastado; enquanto existirem os arsenais com mísseis nucleares e seres humanos alucinados, a ameaça se mantém. Mas de uns anos para cá, as preocupações de grande parte da humanidade e de alguns cientistas têm se voltado para a destruição da natureza que está em curso. Fala-se, ou já se falou, de poluição industrial, destruição da camada de ozônio, devastação das matas, poluição dos mares, efeito estufa, aquecimento global, elevação do nível dos mares, e muito mais.
Quando o tema tomou as páginas de jornais, revistas e passou a ser discutido abertamente nos telejornais de todo o mundo, os governos mundiais deram a entender que iam fazer alguma coisa a respeito, começando com a reunião do Rio de Janeiro, a Eco 92, continuando com Kyoto –, que resultou no ineficiente Protocolo de Kyoto, em 1997 –, e no final de 2009, em Copenhagen.
A Eco 92 apresentou para o mundo uma série de medidas que, para alguns, de nada serviram. O Protocolo de Kyoto, visando reduzir a emissão de gases e outras medidas para impedir o aquecimento global, foi assinado por todos os países do planeta, menos os Estados Unidos, o que praticamente invalidou o acordo. E, em Copenhagen, parece que as diferenças aumentaram entre os países ditos ricos e os mais pobrezinhos ou em desenvolvimento.
Mais que isso, cresce um movimento no sentido de apresentar propostas opostas no âmbito científico, afirmando que o aquecimento global não está ocorrendo e não vai acontecer; que os dois graus de aumento global de temperatura fazem parte de alterações comuns ao planeta.
Alguns dos países em desenvolvimento alegam que quaisquer medidas no sentido de deter um possível processo de aquecimento global irá prejudicar imensamente suas economias. Resumindo: os países mais ricos do planeta já derrubaram todas as matas que tinham à sua disposição, e são os que mais poluem o planeta, de modo que pouco ou nada iriam sofrer com reduções drásticas, enquanto os que estão em desenvolvimento ficariam prejudicados.
O aquecimento global é exatamente o que a expressão indica: um aumento na temperatura do planeta, mares e oceanos, medida a partir de metade do século 20. Acredita-se que esse aumento se deve à concentração de gases que provocam o chamado efeito estufa; o uso de combustíveis e o desflorestamento estão entre os principais responsáveis.
As estimativas para o século 21, seguindo os mesmos padrões do século 20, é que a temperatura aumente em até cerca de 6 graus Celsius. Uma situação dessas provocaria o derretimento total ou parcial das camadas de gelo polares, com consequente aumento do nível dos mares – e, é claro, inundação das áreas litorâneas – além de mudanças climáticas mais ou menos radicais, surgimento ou aumento dos desertos em áreas subtropicais. Isso pode provocar a extinção de algumas espécies animais e vegetais
Algumas previsões catastróficas apontam para uma mudança radical nas correntes marítimas, que seriam, então, as principais responsáveis por catástrofes com efeito final oposto ao que se imagina quando ouvimos a expressão "aquecimento global". Com a alteração do clima, pelo qual as correntes marítimas são grandemente responsáveis, poderia ocorrer uma nova era glacial no planeta; por exemplo, o hemisfério norte poderia ficar praticamente inabitável por muito anos. Alguns cientistas afirmam que o que se viu no filme O Dia Depois de Amanhã é uma amostra razoável do que pode acontecer, ainda que, evidentemente, isso não vá ocorrer num período de tempo tão curto quanto o apresentado no filme.
Já se fala do desprendimento de partes imensas da Antártida, do tamanho de países de tamanho considerável, que já estaria em curso. Fala-se de alterações já sentidas no clima de diversas regiões do planeta.
O medo de uma situação caótica instalando-se no planeta aumenta a cada dia. A verdade é que, até o final dos anos 1980, o assunto praticamente não aparecia na mídia internacional, e mesmo agora a população em geral é muito mal informada a respeito, em parte devido à complexidade da situação, e em parte devido às opiniões não serem sempre concordantes. Para um leigo, fica praticamente impossível saber o que realmente pode ou não acontecer num futuro próximo.
A visão popular é a de que alguns graus a mais ou a menos não podem ter tanta importância para nossas vidas. O que os cientistas afirmam, no entanto, é que nos últimos 10 mil anos, ou seja, desde que a civilização humana começou no planeta, a variação de temperatura esteve em torno de 1 ou 2 graus, exatamente o aumento ocorrido em apenas algumas dezenas de anos, a partir de meados do século 20.
Alguns dos que se colocam contra o controle de emissão de gases poluentes afirmam que os problemas econômicos e sociais que isso causaria seriam mais devastadores do que uma possível mudança climática. Para alguns, no entanto, essa postura diz respeito exclusivamente à tentativa de manter certos privilégios econômicos de grandes corporações, que pouco ou nada pensam nos resultados globais de suas ações.
Diz-se que alguns dos cientistas proeminentes que se colocaram abertamente contra o conceito de aquecimento global estão ou estiveram ligados a grandes corporações que sofreriam com as medidas tomadas, empresas ligadas à exploração de petróleo e tabaco. Por outro lado, existem suspeitas de que combustíveis alternativos não poluentes – como o hidrogênio, por exemplo –, têm sido descartados como perigosos ou caros por força das grandes empresas, que não querem ver seus negócios prejudicados.
O pior cenário possível, caso se confirme que o planeta está aquecendo e que as atividades humanas é que são as responsáveis, aponta para uma transformação radical no modo de vida humana. Isso, é claro, se nenhuma medida efetiva for tomada. Existe a possibilidade de que grandes porções do planeta se tornem inabitáveis, o que implicaria em alterações geopolíticas que, hoje, são inimagináveis: para onde iria a população do hemisfério norte?; Como seriam produzidos os alimentos para a população do planeta, com metade do globo incapaz de ser utilizado?; E as implicações sociais, de costumes, religião?
O acompanhamento e previsões climáticas relacionadas ao efeito estufa têm sido feitos pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). Organismo intergovernamental que avalia o risco provocado pela atividade humana, estabelecido em 1988 pela World Meteorological Organization (WMO) e o United Nations Environment Programme (UNEP), ambas organizações da ONU. O IPCC ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007, juntamente com o vice-presidente dos EUA, Al Gore, que ficou mundialmente conhecido com seu filme Uma Verdade Inconveniente (An Inconvenient Truth, 2006. Paramount). O filme foi visto por alguns críticos como um alerta oportuno sobre os problemas que estamos enfrentando e, pior, que ainda poderemos enfrentar se nada for feito para contê-lo; e por outros, como um exagero que faz parte da agenda política do ex-vice-presidente.

Imagem de satélite do ciclone Catarina, em 2004 (NASA).

O IPCC fez uma série de previsões das alterações possíveis no clima: cada mais regiões sendo afetadas por secas; atividade cada vez maior de ciclones tropicais – sendo um exemplo os ciclones que começaram a ser registrados no Brasil, como o Catarina, o primeiro ciclone tropical da história, que atingiu Santa Catarina em março de 2004; e também o aumento da incidência de níveis excessivamente elevados do mar.
Acredita-se que o aumento da temperatura também vai causar o aumento da evaporação, especialmente com os mares mais quentes, o que provocaria mais chuvas e mais erosão, levando à desertificação em algumas regiões, e ao aumento das florestas, em outras. O aumento da evaporação também levaria a situações mais extremas de clima.
Diz-se que a região ártica teve aumento de 1 a 3 graus Celsius nos últimos 50 anos, de modo que o Canadá, o Alasca e a Rússia já começam a sentir os efeitos do derretimento do permafrost, o tipo de solo dessas regiões, formado por gelo e rochas.
Os efeitos dessas transformações – as que já estão ocorrendo e as que podem ocorrer no futuro, próximo e distante – são perturbadores e afetam os ecossistemas e, por consequência, as populações humanas.
Tudo indica que muita discussão ainda vai acontecer até que se chegue a um determinador comum quanto às ações a serem tomadas, e quem deverá tomá-las. No momento, parece haver pouca dúvida de que a política e os interesses econômicos internacionais dominam o cenário, impedindo qualquer leitura mais aprofundada da questão, a não ser que o "leitor" seja um especialista no assunto ou tenha muito conhecimento dos meandros, geralmente escabrosos, da política internacional.
De qualquer maneira, à medida que o tempo passa e nada é feito, fica mais fácil de se observar os efeitos (ou não) do aquecimento em nosso planeta.

Efeito estufa
O efeito estufa foi descoberto por Joseph Fourier, em 1824. Basicamente, é o processo pelo qual alguns gases agem nos raios infravermelhos que se refletem na superfície da Terra. Cerca de 35% da radiação que o planeta recebe é refletido para o espaço, enquanto o restante se mantém na Terra. Gases como dióxido de carbono e metano, entre outros, retêm a radiação e a reenviam para a superfície do planeta, mantendo a temperatura. Com o aumento desses gases, mais radiação seria retida e reenviada para a superfície, aumentando a temperatura.
O que as medições afirmam é que, nos últimos anos, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera aumentou em 0,4% ao ano, aumento provocado principalmente pela utilização de petróleo, gás, carvão e a destruição de florestas tropicais.
As estimativas de aumento de até 6 graus Celsius na temperatura global são para até o ano 2100, não apenas mudando a temperatura, mas subindo o nível do mar em cerca de 30 centímetros.
A discussão atual não é se o efeito estufa existe ou não, mas sim se as atividades humanas aumentam a concentração dos gases na atmosfera, e em que nível isso ocorre.
Segundo a ciência, o vapor de água é responsável por 36 a 70 por cento do efeito estufa; o dióxido de carbono seria responsável por 9 a 26 por cento; metano, de 4 a 9%; ozônio, de 3 a 7%. Diz-se que, desde a Revolução Industrial, ou seja, do final do século 18 em diante, os gases aumentaram na atmosfera terrestre, com a concentração de dióxido de carbono aumentando em cerca de 36%, e de metano em 148%, o que representaria níveis superiores a quaisquer outros nos últimos 650 mil anos.