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COM UMA AJUDINHA

ESPECIAIS/VE A VINGANÇA DA NATUREZA

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data24/02/2023
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Humanos participando na transformação da fauna e da flora.

Vários dos filmes na linha vingança da natureza apresentam fauna ou flora que se desenvolvem de forma anormal devido à ação humana, direta ou indireta. Às vezes, a ação humana fica bem explícita nas histórias, mas é comum que essa ação não esteja muito clara.
Mais uma vez, vamos evitar falar dos monstros mais conhecidos e já citados nas matérias Gigantes Atômicos e Outros Monstros e Alguns Filmes Com Monstros Mutantes, no especial Alguns Monstros. Mas sempre sobram alguns, que vamos ver nos textos a seguir.


O ATAQUE DAS SANGUESSUGAS GIGANTES (Attack of the Giant Leeches, 1959)
Direção de Bernard L. Kowalski.

(Roger Corman Productions).

Também com o título Demons of the Swamp. Uma produção de Gene Corman, o irmão menos famoso de Roger Corman, que trabalha como produtor executivo, e com direção de Kowalski que, como lembra o crítico Phil Hardy, teve uma carreira mais interessante na televisão do que no cinema (dirigiu episódios de séries como O Homem do Rifle, Perry Mason, Os Intocáveis, Missão Impossível e Columbo, entre tantas outras).
A história se passa nos pântanos da Florida (os Everglades), onde vivem sanguessugas inteligentes do tamanho de humanos. Elas capturam humanos, levam para sua caverna subterrânea e alimentam-se deles.
Aqui, não fica muito claro a origem da mutação dos bichos, mas é sugerido que se deva a radiação atômica, a grande vilã da época. O crítico John Stanley diz que as mutações foram provocadas por detritos que caíram de foguetes movidos a energia nuclear, lançados do Cabo Canaveral, nas proximidades da região.
O filme geralmente é considerado pavoroso, daqueles que só servem para dar risada, mas o crítico Geoffrey Stevens (em The Encyclopedia of SF), disse que “Ainda que frequentemente ridicularizado, especialmente pelas roupas das sanguessugas, O Ataque das Sanguessugas Gigantes é bem feito, considerando seu orçamento (cerca de 70 mil dólares), e a sequência em que as sanguessugas drenam suas vítimas na caverna submarina é apavorante até mesmo por padrões modernos”.
Mas, no geral, entende-se que é apenas um filme muito ruim.
No Brasil, lançado em DVD duplo, com A Mulher Vespa (Fantasy Music).


FASE IV: DESTRUIÇÃO (Phase IV, 1974)
Direção de Saul Bass.

Nigel Davenport e Michael Murphy, observando a obra das formigas (Alced Productions/ Paramount Pictures).

Esse é um dos mais famosos filmes na linha vingança da natureza, ainda que não seja uma unanimidade entre os críticos. É o único longa-metragem dirigido por Saul Bass, mais conhecido como designer de títulos e cartazes de cinema.
A ação situa-se no deserto do Arizona, onde formigas desenvolvem-se de forma espetacular após destruírem seus inimigos naturais, e dirigem-se a um laboratório experimental, onde se encontra o cientista interpretado por Nigel Davenport, tentando entender o que está acontecendo com as formigas. Segundo a história, as formigas ganharam alguns poderes devido à poluição química, ganhando inteligência e sendo capazes de hipnotizar pessoas.

                                                                                                                                                                 Lynne Frederick.

Phil Hardy disse que a ação, os diálogos e a caracterização são forçados, e o filme copia muitos clichês de outros filmes, mas que “(...) apesar disso, Bass reúne os elementos de seu filme para um grande impacto”, no que é ajudado pelas cenas de um documentário filmadas por Ken Middleham. Hardy ainda disse que algumas cenas são impressionantes, como quando os cientistas tentam se comunicar com as formigas.

(Pan Books, 1973).

Os críticos John Brosnan e Peter Nicholls disseram (em The Encyclopedia of SF) que, embora Saul Bass seja um mestre em sua arte, visualmente, ele lida com atores de forma insatisfatória e “(...) parece ter pouca sensibilidade para a ficção científica. Esse melodrama conceitualmente bobo é um fracasso interessante, sua atração estando na maravilhosa fotografia dos insetos por Ken Middleham mais do que em qualquer conteúdo de fc”. Segundo eles, o roteiro substitui misticismo por ciência e se esforça demais para imitar 2001: Uma Odisseia Espacial, em particular no final em que dois humanos sobreviventes passam por uma transformação transcendental. “Originalmente”, eles completam, “havia também, no final, uma montagem de imagens surrealistas do tipo de 2001, mostrando uma fantástica reviravolta evolucionária, mas ela foi cortada pelo estúdio após o lançamento inicial”.
Ainda tem a participação do famoso compositor japonês Stomu Yamashta na trilha sonora. Uma novelização da história foi escrita por Barry n. Malzberg a partir do roteiro de Mayo Simon, e o filme ganhou o Grande Prêmio no Festival de Ficção Científica de Trieste, em 1975.


O ATAQUE DAS COBRAS (Rattlers, 1976)
Direção de John McCauley.

(Boxoffice International Pictures).

O xerife de uma pequena cidade da Califórnia pede a ajuda de um especialista após dois jovens serem atacados por várias cascavéis. Em seguida, o estranho comportamento das cobras faz mais vítimas, e a investigação do especialista leva-o até uma base militar nas proximidades. Eventualmente, descobre-se que o coronel responsável pela base não apenas ordenou como escondeu o descarte ilegal de um gás experimental em uma caverna, o que acabou tornando as cobras extremamente agressivas.
O filme é horroroso, mas ainda originou a sequência Rattlers 2 (2021).
 


ANIMAIS EM FÚRIA (Day of the Animals, 1977)
Direção de William Girdler.

(Montoro Productions/ Hollywood West Entertainment).

Também com o título Something Is Out There. O diretor Girdler já tinha visitado o gênero com Grizzly, a Fera Assassina (1976), e aqui envolve todo o reino animal quando problemas na camada de ozônio, causadas pelos humanos, transforma o comportamento dos animais que vivem em regiões acima dos 1.500 metros de altitude.
Pessoas que vivem ou passeiam por uma região da Califórnia são atacadas por cobras, lobos, pássaros, leões da montanha e até por humanos também afetados. O filme é horroroso, ainda que conte com alguns atores capazes como Leslie Nielsen, Lynda Day George e Richard Jaeckel, e até a trilha sonora de Lalo Schifrin. O crítico Phil Hardy disse que se trata de um filme hilariantemente inepto.


BARRACUDA – O PROJETO LÚCIFER (Barracuda, 1978)
Direção de Harry Kerwin e Wayne Crawford (cenas submarinas).

(American General Pictures/ Marketing Film/ Republic Pictures).

Também com o título The Lucifer Project. O mais incrível do filme é que teve um orçamento de mais de um milhão de dólares e, ainda assim, é terrível. O próprio Wayne Crawford, que dirigiu as cenas submarinas, interpreta um biólogo que investiga uma série de ataques de barracudas no litoral de uma pequena cidade e descobre o envolvimento de um médico que realizava experiências. Produtos químicos despejados no oceano modificaram o comportamento dos animais e também de seres humanos.
A música é de Klaus Schulze, um dos músicos mais importantes do rock alemão dos anos 1960/70, integrante do Tangerine Dream.
No Brasil, lançado em VHS (Zircon).
 


A SEMENTE DO DIABO (Prophecy, 1979)
Direção de John Frankenheimer.

(Paramount Pictures).

Para quem acompanha cinema de perto, é difícil entender que o diretor desse A Semente do Diabo é o mesmo Frankenheimer de clássicos espetaculares como O Homem de Alcatraz (Birdman of Alcatraz, 1962), Sob o Domínio do Mal (The Manchurian Candidate, 1962), Sete Dias de Maio (Seven Days in May, 1964), O Segundo Rosto (Seconds, 1966) e tantos outros.
O filme não funciona em nenhum aspecto, e ainda conta com o roteiro de David Seltzer, de A Crônica de Hellstrom (The Hellstrom Chronicle, 1971), A Fantástica Fábrica de Chocolate (Willy Wonka & the Chocolate Factory, 1971) e A Profecia (The Omen, 1976).
O envenenamento de um rio com mercúrio causa mutações genéticas nos indígenas da região e nos animais, com o maior problema sendo um urso gigantesco que mata muitas pessoas.
Phil Hardy disse que o filme é o auge do ciclo de filmes “vingança da natureza” dos anos 1970, talvez não pela razão da qualidade, mas porque manifesta preocupação genuína com os efeitos do envenenamento por mercúrio na natureza, ainda que provavelmente “(...) seja mais lembrado como mais uma tentativa desastrosa do diretor Frankenheimer de se reabilitar em Hollywood nos anos 1970, participando do jogo do gênero (cinematográfico)”.
Stephen King, que falou bastante sobre o filme em seu livro Dança Macabra (Danse Macabre, 1981. Francisco Alves Ed.), disse que ele foi “O único filme que, na minha opinião, se igualou em contagem de pontos de falta de qualidade a este é O Comboio do Medo (Sorcerer, 1977), de William Friedkin".
Robert Foxworth, o cientista investigador dos eventos, é o que Stephen King chamou de “o Jovem e Dedicado Cientista com Apenas uma Mecha Grisalha em seus Cabelos”, uma figura que, diz ele, “qualquer apreciador dedicado do cinema de horror já viu antes uma centena de vezes”. Entre as vítimas do urso, que parece ter sido virado ao avesso, está o “Executivo Velho e Mau Que Falou Mentiras Em Todas as Ocasiões”.
King lembrou que, na mesma época, foi lançado o filme de George Romero, Despertar dos Mortos (Dawn of the Dead, 1978), “(...) e eu achei marcante (e engraçado) o fato de que Romero viabilizou um filme de horror com uma quantia em torno de dois milhões de dólares (N.E.: segundo as informações atuais, o orçamento foi de 650 mil dólares), no qual parecia ter sido gasto seis milhões, enquanto Frankenheimer utilizou doze milhões de dólares em seu filme e conseguiu fazer parecer ter gasto em torno de dois”.
Ainda assim, Stephen King disse que gostou do filme porque, entre outras coisas, quem assiste aos filmes de terror começa a apreciar certos padrões. Assim, para ele “A Semente do Diabo é um regresso aos filmes de horror dos anos cinquenta, de forma tão clara quanto os Ramones e os Sex Pistols são um regresso aos ‘rapazes brancos e sujos’ da explosão do rock entre 1956 e 1959”.


CROCODILO (Alligator, 1980)
Direção de Lewis Teague.

(Group 1 Films).

Também com o título Alligator: O Jacaré Gigante. Um jacaré se desenvolve de forma desproporcional nos esgotos de uma cidade ao se alimentar com hormônios despejados por um laboratório que realizava experiências. Quando o imenso crocodilo resolve deixar seu habitat subterrâneo, causa imensos problemas à população e à polícia.
A história aproveita uma das famosas lendas urbanas, segundo a qual jacarés se desenvolviam nos esgotos das cidades após serem despejados pelas privadas de residências.
Apesar de ter sido realizado com um pequeno orçamento de cerca de um milhão e meio de dólares, o resultado foi mais do que razoável, em grande parte devido ao roteiro de John Sayles que traz diálogos interessantes e humor na medida certa. O crítico Michael Weldon disse que o filme é uma prova de que baixo orçamento não significa necessariamente um filme ruim. Phil Hardy disse que o filme introduz uma das mais antigas estruturas de enredo de filmes com criaturas, e o faz com inteligência e com compreensão política habilmente insolente.
O filme teve uma sequência em 1991, Alligator 2: A Mutação (Alligator II: The Mutation), com direção de Jon Hess, e muito inferior ao original, mais uma vez apresentando um bebê crocodilo nos esgotos de uma cidade, alimentando-se com animais despejados por uma empresa química. Devido aos hormônios na carne, além de outras substâncias desconhecidas, o bicho sofre uma mutação, cresce muito e começa a comer pessoas.
No Brasil, os dois filmes foram lançados em DVD (Classicline).


OLHOS DA NOITE (Deadly Eyes, 1982)
Direção de Robert Clouse.

(Golden Harvest Company/ Filmtrust Productions/ Northshore Investments Ltd./ J.G. Arnold & Associates/ Paragon Films Ltd.).

Produção canadense baseada no livro The Rats (1974), de James Herbert. O tema vingança da natureza mais uma vez levado para a cidade. Uma grande quantidade de milho infectado deveria ter sido destruída, mas não é, e os ratos alimentam-se dele, o que causa um crescimento desproporcional, em tamanho e em quantidade. Quando o milho é finalmente queimado, os ratos espalham-se pela cidade e iniciam ataques violentíssimos contra os humanos, procurando espaço e comida.
O filme foi mal recebido pela crítica e também por James Herbert, que achou a adaptação tenebrosa.
No Brasil, lançado em VHS (F.J. Lucas/ Reserva Especial).


CROCODILO ASSASSINO (Killer Crocodile, 1989)
Direção de Fabrizio De Angelis (com o pseudônimo Larry Ludman).

(Fulvia Film).

Produção italiana apresentando mais um crocodilo imenso que sofreu uma mutação devido ao lixo tóxico jogado em seu habitat. O diretor teve uma carreira mais longa como produtor de vários filmes de Lucio Fulci, um dos principais diretores do cinema de terror italiano, e de outros diretores italianos.
O crocodilo do filme cresce mais do que o normal e se torna bastante agressivo, atacando os humanos.
Nada a ser lembrado, mas teve uma sequência, Killer Crocodile 2 (1990), com direção de Giannetto De Rossi, curiosamente filmado ao mesmo tempo que o original.


INCIDENTE EM CLARIDGE (The Bay, 2012)
Direção de Barry Levinson.

Jane McNeill (Automatik Entertainment/ Haunted Movies/ Hydraulx).

O filme foi feito no estilo conhecido como “found footage” (filmagem encontrada), que se tornou comum, especialmente no cinema de terror. Às vezes também é descrito como um “mockumentary”, um filme apresentado na forma de documentário, porém referindo-se a eventos fictícios.
Aqui, a história situa-se na cidade de Claridge, em Chesapeake Bay, no estado de Maryland, durante um festival de 4 de julho, quando os habitantes começam a ficar doentes com os mais variados sintomas. Algumas pessoas morrem, enquanto outras apresentam comportamentos estranhos. Ao mesmo tempo, autoridades do governo começam a tentar esconder o caso, confiscando quaisquer filmagens realizadas. O filme em questão é de uma repórter que conseguiu registrar os eventos e que vazou para o mundo.
O problema é que as galinhas da região foram alimentadas com esteroides, e muito do material foi jogado no mar junto com outras toxinas, afetando isópodos parasitas que sofreram mutações e podem afetar seres humanos, além de matarem milhões de peixes. Os parasitas comem suas vítimas de dentro para fora.
É considerado um filme acima da média no gênero, mas ainda assim está abaixo do que Barry Levinson fez de mais importante (entre eles Bom Dia, Vietnã, Rain Man e Um Homem Fora de Série).


VESPAS GIGANTES (Stung, 2015)
Direção de Benni Diez.

Matt O'Leary (Rat Pack Filmproduktion/ XYZ Films).

Em entrevista para Tasha Robinson, do The Dissolve, o diretor alemão Benni Diez disse ter sido inspirado pelos filmes de criaturas dos anos 1950, como O Mundo em Perigo (Them, 1954), um clássico do gênero, além de outros filmes em preto e branco bem antigos que não ligavam a mínima para como os efeitos iam parecer na tela, mas sim com a psicologia por trás de um ataque de um monstro ameaçador.
A ameaça aqui são vespas que crescem até atingirem mais de dois metros devido a um fertilizante ilegal utilizado em um jardim, surgindo exatamente no momento em que uma festa ocorre no jardim de uma senhora rica. E as pessoas tornam-se as presas das vespas gigantes.
No Brasil, o filme foi apresentado no Fantaspoa em 2015, o festival de cinema fantástico realizado em Porto Alegre.