Terceiro livro na série iniciada com O Jogo do Exterminador (1985) e que teve sequência com Orador dos Mortos (1986). Faz parte da Saga de Ender, baseada no personagem Andrew "Ender" Wiggin, no primeiro livro ainda um jovem gênio levado para fazer parte da batalha contra alienígenas insectoides que ameaçam a sobrevivência da humanidade. Ender se torna o responsável pela destruição de toda (ou quase toda) a espécie alienígena. Posteriormente, ele se torna o orador dos mortos, praticamente fundando uma nova religião.
Neste terceiro livro, a ação centra-se basicamente no planeta Lusitânia, colonizado por brasileiros, e que vive uma situação complicada, uma vez que lá existe uma raça autóctone inteligente, e também é o lar da Rainha da Colmeia, a sobrevivente da raça insectoide que Ender levou para lá. No planeta também existe um vírus mortal para humanos, mas que é fundamental para a sobrevivência dos pequenos habitantes locais. O Congresso das Vias Estelares, que governa os Cem Mundos, envia uma esquadra para o planeta, com a intenção de destruí-lo completamente, impedindo que o vírus saia do mundo e se espalhe pela galáxia habitada pelos humanos.
É um universo construído com imensa habilidade por Orson Scott Card, apresentando desenvolvimentos tecnológicos impressionantes – como o ansível, que permite que as pessoas da galáxia se comuniquem em tempo real –, mas ao mesmo tempo jamais centrando a ação nos objetos em si, ou mesmo nas batalhas que podem ser travadas. O centro da ação e do interesse do autor são as próprias personagens, envolvidas em questões filosóficas e religiosas que podem levar ao extermínio de uma ou mais raças inteligentes.
O livro também se insere de forma definitiva numa longa e gloriosa tradição da melhor ficção científica já produzida, trabalhando o tema da religião com uma profundidade poucas vezes vista no gênero. Tanto a religião quanto as questões filosóficas e psicológicas são centrais na trama, e serão elas e as discussões em torno dos problemas apresentados que irão direcionar os acontecimentos numa ou noutra direção.
Os personagens são multifacetados, densos, com problemas pessoais concretos, conscientes ou inconscientes, que determinam suas ações e o curso dos acontecimentos. Da mesma forma, Card conseguiu dar vida e credibilidade aos seres não humanos; não são apenas alienígenas que devem ser combatidos, ou eliminados, a todo custo.
Um daqueles livros indispensáveis para os que procuram por ficção científica que apresente algo mais do que porradas e guerras para todo lado, e seres, alienígenas ou humanos, apenas caricatos.
Orson Scott Card ainda escreveu alguns contos – alguns deles publicados na internet – e romances no mesmo ambiente: Children of the Mind (1996); A War of Gifts: An Ender Story (2007); Ender in Exile (2008). Outra série, chamada Shadow Saga, apresenta quatro livros com histórias situadas no mesmo ambiente, mas com personagens e histórias paralelas à de Ender: Ender's Shadow (1999); Shadow of the Hegemon (2001); Shadow Puppets (2002); Shadow of the Giant (2005).
Xenocídio (Xenocide)
Orson Scott Card, 1991
Devir Livraria (2010)
534 páginas