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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data03/01/2022
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THE EXPANSE – THE FEED – UPLOAD – STAR TREK: PICARD – PERDIDOS NO ESPAÇO – OUTRA VIDA – THE ONE – THE OA

Só recentemente assinei o Amazon Prime Video e a Netflix, de modo que comecei a assistir a séries alucinadamente. Eu tinha lido em algumas matérias e comentários que as duas empresas estavam dando sequência a seriados que tinham sido cancelados, o que é ótimo, como no caso de The Expanse. Mas ao começar a assistir percebi que elas também cancelam séries com a mesma facilidade com que outras empresas. Por exemplo, comecei a assistir a The OA, que foi cancelada após a segunda temporada, apesar de ter sido planejada para ter cinco. A história foi criada por Brit Marling – também responsável pelo bom filme de fc, A Outra Terra – que também interpreta a personagem central, Prairie Johnson, uma jovem adotada e cega que desaparece por sete anos e reaparece misteriosamente, e com a visão restaurada. Ela agora se chama OA – de original angel, anjo original – e deseja retornar ao local de onde veio. Para isso, precisa da ajuda de cinco pessoas para abrir um portal dimensional. Como não terminei de ver, não sei se eles conseguiram fechar a história em apenas duas temporadas.
Com algum atraso, vou falar sobre algumas das séries a que assisti nos últimos meses.


Para começar, The Expanse (2015-2021). Já conhecia a história básica do livro Leviatã Desperta (Leviathan Wakes, 2011), de James S.A. Corey, o primeiro da série e, até onde sei, o único publicado no Brasil. E gostei bastante. Mas não estava preparado para a intensidade da série para TV. Foram cinco temporadas e a sexta que começou em dezembro de 2021 e que, segundo os produtores, deve ser a última, ainda que a série de livros tenha nove volumes, além de vários contos.
Com história situada centenas de anos no futuro, apresenta o sistema solar já devidamente colonizado e com um sistema de navegação estelar que permite viagens relativamente rápidas pelo sistema solar, ainda que a aceleração necessária para tanto obrigue os tripulantes e passageiros a utilizar uma droga especialmente desenvolvidas para tal.
Segundo os autores explicaram, para a elaboração do anel alienígena que se forma no espaço eles se inspiraram em A Porta das Estrelas (Gateway, 1977), de Frederik Pohl, porém com uma variante que dá à última temporada um impacto ainda maior.
Como em outras histórias de ficção científica, o que se destaca na colonização humana do sistema é o fato de que as intrigas políticas e as diferenças regionais permanecem e ainda causam tensão entre as relações. A Terra e a Lua formam um bloco político, Marte forma outro bloco, também muito influente, e um terceiro bloco é formado pelos chamados belters, os habitantes do cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, além de algumas luas de Júpiter e Saturno. Esses últimos, bastante explorados, tanto pela Terra quanto por Marte, e divididos em diferentes grupos, incluindo alguns piratas espaciais e rebeldes que lutam contra a Terra e Marte.
Essas tensões permanecem ao longo da série; na verdade, só se intensificam, especialmente quando novos interesses surgem, em particular a descoberta de uma protomolécula, um elemento alienígena que causa uma transformação radical no sistema.
A série inicia quase como uma história de detetive no espaço, com o personagem Joe Miller (Thomas Jane) obcecado em desvendar o mistério envolvendo o desaparecimento de Juliette Mao (Florence Faivre), mas também com eventos tensos no espaço, com a destruição de um cargueiro belter e uma nave marciana. Os sobreviventes fogem em uma nave marciana, e a tripulação e a nave, renomeada Rocinante, serão fundamentais nos eventos ao longo do seriado, com tripulantes da Terra, de Marte e do cinturão.
Demora um pouco para pegar e para podermos entender exatamente a situação real de cada uma das forças envolvidas nos eventos, mas quando esquenta, é sensacional, com ótimos efeitos especiais e interpretações consistentes.
Se alguém ainda não viu, vale a pena. É um dos bons momentos da fc na televisão nos últimos anos.

The Feed (2019), também no Prime Video, segue um caminho diverso, olhando para a própria Terra, mais exatamente para um desenvolvimento de mídia social levado ao extremo. A história é baseada no livro com o mesmo título de Nick Clark Windo, e tem 10 episódios disponíveis da primeira temporada. Até agora, a Amazon não definiu se vai haver uma segunda temporada ou se será cancelada.
A história centra-se na família Hatfield, responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia que chamaram The Feed, um dispositivo implantado no cérebro das pessoas e que permite acesso imediato entre as pessoas, podendo compartilhar não apenas informações, mas também emoções e memórias. Apesar de existirem pessoas que se opõem vigorosamente à tecnologia, a maioria do planeta está conectada, o que complica bastante a situação quando alguns usuários tornam-se viciados, ou pior, assassinos.
O mistério envolve uma ação passada de Lawrence Hatfield (David Thewlis), o desenvolvedor da tecnologia, e causa um problema internacional, exigindo a atuação do filho Tom Hatfield (Guy Burnet), que mantém um distanciamento da família.
Existe uma clara crítica aos excessos das redes sociais e a possíveis perigos envolvendo o desenvolvimento indiscriminado de novas tecnologias, mas o andamento da série às vezes é prejudicado por atuações e situações não muito bem resolvidas. É legal, mas nem tanto.

A série Upload (2020), também do Prime Video, tem 10 episódios disponíveis e uma segunda temporada já programada, e também lida com uma tecnologia futura que muda a sociedade. E, apesar de algumas situações mais pesadas, segue um caminho diferente, mais para a comédia, com alguns momentos bons e bem engraçados, outros nem tanto.
O ponto de partida é que, no futuro, as pessoas têm a possibilidade de fazer um upload, ou uma transferência mental, após a morte, para um ambiente virtual especialmente construído. Alguns ambientes são mais caros, outros bem baratinhos. E, como na vida real, quem tem dinheiro consegue muito mais vantagens.
A história segue a vida virtual de Nathan Brown (Robbie Arnell), que morre prematuramente em um acidente de carro que, teoricamente, não deveria ser possível. Ele faz o upload para o ambiente conhecido como Lake View, caríssimo e que ele não poderia pagar, mas que é pago por sua noiva rica (Allegra Edwards), que passa a ter direito a tomar várias decisões em seu nome.
Nathan passa a ter um relacionamento mais próximo com Nora (Andy Allo), responsável pelo contato com ele na empresa que dirige Lake View, aparecendo para Nathan na forma de um avatar. Aos poucos, a situação de Nathan vai se complicando ao mesmo tempo em que ficamos sabendo das circunstâncias que envolveram sua morte.
A primeira temporada termina com Nathan em uma situação bem ruim, quase desesperadora, e a segunda temporada promete. Não dá para dizer que se trata de uma série memorável, mas é bem agradável.

Star Trek: Picard (2020), outro que está no Amazon Prime Video e que recebeu muitos elogios, com grande audiência, em especial dos trekkers. Confesso que não tinha grandes expectativas, principalmente pelo excesso de histórias envolvendo o universo de Jornada nas Estrelas e, em especial, depois dos filmes de J.J. Abrams.
Mas foi uma série legal, com 10 episódios na primeira temporada e uma segunda já anunciada. Começa com o famoso Jean-Luc Picard (Patrick Stewart) aposentado e com uma certa mágoa da Frota, bastante afetado pela morte de Data (Brent Spiner) e pela decisão da Federação em não mais permitir a existência de androides.
Picard acaba sendo envolvido em uma trama perigosa ao ser visitado por uma estranha mulher (Isa Briones) que precisa de sua ajuda e que, ele vai descobrir, tem relação com Data. Como não está mais na Frota, Picard precisa de ajuda para poder viajar pela galáxia, e vai parar na nave de Cristóbal Rios (Santiago Cabrera), com a companhia de Raffi Musiker (Michelle Hurd) e a dra. Agnes Jurati (Alison Pill).
Antigos personagens das séries Jornada reaparecem, como Seven of Nine (Jeri Ryan), o próprio Data, Will Riker (Jonathan Frakes, que também dirigiu dois episódios) e Deanna Troi (Marina Sirtis). Até um cubo Borg desativado ressurge na história, além dos romulanos e uma estranha seita romulana sobre o fim dos tempos.
Como não esperava grande coisa, não fiquei decepcionado, nem entusiasmado. É uma série legal e que, espera-se, possa melhorar na segunda temporada.

E tem o novo Perdidos no Espaço (Lost in Space, 2018-2021), da Netflix, que teve seu encerramento em dezembro de 2021. O que tem de diferente da série original e do longa-metragem? Quase tudo. Claro que os efeitos especiais são um destaque, e nem é possível se comparar com o que se fazia nos anos 1960.
A história foi bastante alterada. Ainda que centrada na família Robinson, dessa vez existem inúmeras naves Júpiter que deverão realizar a viagem a Alpha Centauri, onde já existe uma colônia humana em um dos planetas do sistema. Elas são acopladas a uma nave imensa, a Resolute, que consegue transpor imensas distâncias com uma tecnologia misteriosa.
O robô, um dos pontos altos da comédia da série original, é agora um de muitos, e alienígenas. E, é claro, o tipo de relações existentes na família Robinson foram completamente alteradas e adaptadas para os tempos atuais, com Maureen Robinson (Molly Parker) como a cientista responsável por boa parte do projeto, ao contrário da dona de casa dos anos 1960, que simplesmente acompanhava o marido John Robinson (Toby Stephens) que, dessa vez, é um militar com problemas com a esposa. A filha mais velha, Judy Robinson (Taylor Russell) é fruto de uma união anterior de Maureen com o afro-americano Grant Kelly (Russell Hornsby); e, é claro, tem Will Robinson (Maxwell Jenkins) e Penny Robinson (Mina Sundwall), e o doutor/doutora Smith mais irritante de todos (Parker Posey).
Em algum lugar da internet li a chamada de um texto sobre a série com um título mais ou menos assim: “Será que alguém poderia dar um tempo para a família Robinson?” Não só é engraçado como bem exato. Talvez seja o maior problema da série, a quantidade de problemas que surgem para a família resolver, um atrás do outro, sem tempo para acalmar e respirar. Parece que foram amaldiçoados, ou fizeram bonecos vudu de toda a família. Chega a ser irritante. Mas, como ação, fica legal de se ver.
Mais uma vez, nada memorável, mas pelo menos dessa vez a história teve um encerramento.

Outra Vida (Another Life, 2019-2021) está na Netflix e, apesar de ter uma premissa interessante, não chegou a decolar. Tudo começa com a chegada à Terra de um objeto extraterrestre com o formato de uma fita de Moebius, que aterra e constrói uma espécie de montanha cristalina em torno de si. O objeto não faz coisa alguma, apenas fica ali, enquanto cientistas tentam descobrir uma forma de comunicar-se com ele.
Enquanto não conseguem a comunicação, resolvem enviar uma espaçonave, a Salvare, para tentar chegar ao ponto de origem do objeto e estabelecer contato. A nave consegue viajar mais rápido do que a luz e tem como capitã Niko Breckinridge (Katee Sackhoff) e uma equipe bem jovem a seu comando, e mais vários especialistas que se encontram em estado de animação suspensa.
A atuação de Sackhoff – que interpretou a capitã Kara Starbuck em Battlestar Galactica – é estranhíssima; ela parece estar sempre em um ponto entre o riso e o choro. É como se ela se lembrasse de Battlestar Galactica e começasse a sorrir, mas então percebia que estava em uma série muuuito pior, e começava a chorar, e se continha. Estranho.
Existem várias situações muito mal explicadas no enredo, como o fato de a nave Salvare ter uma tripulação de jovens que parecem não querer estar ali, não gostar da capitã e de serem muito menos competentes do que os especialistas que se encontram em animação suspensa. Então, em uma missão de tamanha importância, por que não começar com o que se tem de melhor? Alguns dos “congelados” são possíveis colonos em algum planeta que encontrem pelo caminho, mas as decisões tomadas pela chefe do grupo são incompatíveis com uma cientista, a ponto de colocar toda a missão em risco.
O início é complicado uma vez que nada é explicado a respeito da situação do planeta. Nada é mostrado sobre o impacto que a chegada de um objeto alienígena causou na Terra. A segurança do local onde o objeto se encontra é algo digno de um filme B, com alguns soldados patetas apontando armas para uma montanha extraterrestre com poderes desconhecidos. Parece que gastaram toda a grana nos ambientes espaciais e na nave.
Enfim, nada a ser lembrado no futuro. É bem melhor rever Battlestar Galactica.

Não sei por que alguns fás de ficção científica e de seriados da TV chegaram a comparar The One (2021), da Netflix, com Black Mirror. A não ser por envolver uma tecnologia que pode transformar a sociedade, qualquer outra comparação é impensável.
A série foi apresentada em sua primeira temporada com oito episódios, e ainda não existe confirmação para uma segunda, ainda que tenham sido deixadas algumas pistas para futuro desenvolvimento.
A base de tudo é a descoberta realizada pelos cientistas Rebecca Webb (Hannah Ware) e James Whiting (Dimitri Leonidas) que permite, a partir do DNA de cada pessoa, localizar a pessoa mais adequada para formar seu par, aquela por quem a pessoa vai se apaixonar. E tudo parece funcionar perfeitamente, o que faz com que a empresa que eles constroem se torne uma potência, com milhões de pessoas fazendo o teste de DNA para ver se encontra o companheiro ou companheira desejada. Parece um sonho, mas ao longo da história vamos conhecendo melhor as personagens envolvidas e o que foi feito para que a empresa tivesse sucesso, e as coisas não são assim tão bonitas.
Apesar das boas atuações e da história interessante, o que diferencia a série das histórias da citada Black Mirror é que a ação centra-se mais em dramas particulares do que no verdadeiro efeito que uma descoberta como essa teria na sociedade mundial. O resultado é uma série que lida mais com o mistério e uma investigação policial do que com efeitos que podem ser devastadores e profundamente transformadores do comportamento social.
Pode ser que uma segunda temporada mude o rumo dos acontecimentos.