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20 HISTÓRIAS DE PESSOAS CONVIVENDO COM OS FANTASMAS ou VIDA DE FANTASMA ou OS FANTASMAS SÃO OS OUTROS

ESPECIAIS/VE FANTASMAS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data12/01/2017
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1

 

EL FANTASMA DEL CONVENTO (1934)
Direção de Fernando de Fuentes.
 

El Fantasma del Convento (Producciones FESA/ Films Exchange).

Até onde se sabe, esse filme mexicano não chegou ao Brasil.
No livro The Aurum Film Encyclopedia: Horror (1985), o pesquisador e crítico Phil Hardy apresenta o diretor Fernando de Fuentes como “o primeiro mestre do cinema mexicano”. Ainda segundo Hardy, “A história macabra e lírica pode ser lida de duas maneiras”. Cristina (Marta Ruel), seu marido Eduardo (Carlos Villatoro) e o amigo deles, Alfonso (Enrique del Campo), perdem-se no caminho que seguiam e são guiados por um homem misterioso até um monastério. Lá, ouvem do padre local (Paco Martinez) uma história a respeito de um monge que seduziu a esposa de um amigo. Quando morreu, o monge não conseguiu encontrar a paz e retornou à sua cela amaldiçoada. A história tem paralelo com o que está acontecendo entre eles, uma vez que Cristina está tentando seduzir o amigo Alfonso, que encontra a antiga cela do monge, onde está seu corpo mumificado, que aponta para um livro pingando sangue. Alfonso entra num estado de delírio, vendo igualmente o cadáver do amigo Eduardo. Ele acaba dormindo e, quando acorda, os três percebem que se encontram num monastério que é uma ruína há muitos anos, e a cripta com a múmia do monge tornou-se uma atração turística.
Phil Hardy diz que, no filme, “desejo e repressão são vistos como dois lados da mesma moeda”.

 

 

2

 

UMA MULHER DO OUTRO MUNDO
(Blithe Spirit, 1945)
Direção de David Lean.
 

Uma Mulher do Outro Mundo (Two Cities Films/ Noel Coward-Cineguild).

Ainda que tenha sido bem recebido pela crítica e, hoje, seja visto como um clássico, o filme não foi bem nas bilheterias. A produção inglesa foi dirigida por David Lean – conhecidíssimo por filmes espetaculares como Lawrence da Arábia, Doutor Jivago, A Ponte do Rio Kwai, Passagem para a Índia, além das adaptações de Charles Dickens, Oliver Twist e Grandes Esperanças.

Kay Hammond, como o fantasma de Uma Mulher do Outro Mundo.

Este é uma adaptação da peça humorística de Noël Coward que, pode-se dizer, originou uma nova linha de comédias com fantasmas no cinema, copiada, com variantes, ainda hoje.
Rex Harrison interpreta o escritor Charles Condomine. Sua primeira esposa, Elvira (Kay Hammond) morreu, e ele se casou novamente com Ruth (Constance Cummings). Seus problemas começam quando ele resolve fazer uma sessão espiritualista, liderada pela médium Madame Arcati (Margaret Rutherford), esperando apenas mais uma sessão fraudulenta. Só que o espírito de Elvira não só aparece como resolve permanecer. Só o marido consegue vê-la, mas ela também atormenta a vida da atual esposa, que deseja um exorcismo para mandá-la de volta ao mundo dos mortos.
Baird Searles (em Films of Science Fiction and Fantasy, 1988), escreveu que Margaret Rutherford foi a essência de todas as senhoras meio maluquinhas devotadas ao espiritualismo. Ela consegue chamar o espírito de Elvira sem querer, mas não consegue fazer com que ele vá embora. A atuação de Rutherford foi um dos destaques da crítica na época, repetindo seu papel na peça original, assim como Kay Hammond.
O filme também recebeu o prêmio da Academia por Melhores Efeitos Especiais, a cargo de Tom Howard.

Foto de divulgação da peça (1941), com Margaret Rutherford, Kay Hammond e Fay Compton (do livro Noël, de Charles Castle, 1974).

A peça de Noël Coward estreou em 1941, em Londres, e teve 1.997 apresentações. No ano seguinte, estreou na Broadway, em Nova York, chegando a 657 apresentações.

 

 

 

3

 

A DUPLA DO OUTRO MUNDO
(Topper, 1937)
Direção de Norman Z. McLeod.
 

Cary Grant e Constance Bennett, translúcidos, em A Dupla do Outro Mundo (Hal Roach Studios).

Comédia com produção de luxo da MGM, com orçamento em torno dos 500 mil dólares – alto para a época – com Cary Grant e Constance Bennett como o casal rico que tem um acidente de carro e viram fantasmas, vagando pela Terra, uma vez que não mereceram ir para o Céu devido às suas excentricidades e irresponsabilidades.

 

Roland Young, como Cosmo Topper, assediado pelos fantasmas.

Eles chegam à conclusão que, para conseguir o acesso ao Céu, precisam realizar algo de bom na Terra e resolvem “ajudar” seu amigo Cosmo Topper (Roland Young), gerente do banco do qual eram acionistas. A ideia é fazer com que Topper tenha uma vida menos entediante, mais emocionante, o que causa algumas confusões, mas também uma transformação sadia na vida de Cosmo Topper e de sua esposa Clara (Billie Burke).
Além de ter sido bem recebido pela crítica, o filme foi muito bem nas bilheterias e deu uma alavancada na carreira de Cary Grant.
Originalmente rodado em preto e branco, o filme foi o primeiro a ser digitalmente colorizado, sendo relançado em 1985. Essa versão chegou a ser lançada em vídeo no Brasil pela Top Tape. O filme também foi lançado com o título Topper e o Casal do Outro Mundo.
Foram produzidas duas sequências: Marido Mal-Assombrado (Topper Takes a Trip, 1938) e A Volta do Fantasma (Topper Returns, 1941. Também com o título O Retorno de Topper). O primeiro, também dirigido por Norman Z. McLeod, teve novamente Constance Bennet, Roland Young, Billie Burke e Alan Mowbray repetindo seus personagens, mas já sem Cary Grant. No segundo, dirigido por Roy Del Ruth, Young repete seu papel como Cosmo Topper.
Um seriado – Topper (Topper) – ainda foi produzido entre 1953 e 1955, com Leo G. Carroll como Topper, e Robert Sterling e Anne Jeffreys como o casal de fantasmas.

 

 

 

Seriado Topper, com Leo G. Carol. 


Em 1973, uma nova tentativa de fazer um seriado resultou apenas em um piloto, com Roddy McDowall como Cosmo Topper Jr.
E em 1979 uma produção para a TV, Topper (Topper), apresentou Jack Warden como Cosmo Topper, e o casal fantasmal interpretado por Andrew Stevens e Kate Jackson, mais conhecida como uma das panteras do seriado As Panteras.

 

 

4

 

O FANTASMA APAIXONADO
(The Ghost and Mrs Muir, 1947)
Direção de Joseph L. Mankiewicz.
 

Rex Harrison e Gene Tierney, em O Fantasma Apaixonado (Twentieth Century-Fox).

Muito antes do sucesso comercial de Ghost, este filme fez sucesso entre a crítica, apresentando um romance entre habitantes de mundos distintos. O fantasma é o Capitão Daniel Cregg (Rex Harrison), que continua habitando sua antiga moradia à beira mar, na Inglaterra, que é alugada pela viúva Lucy Muir (Gene Tierney). No início do século 20, ela se muda para a residência com sua filha Anna, interpretada pela então jovem Natalie Wood, e a empregada Martha (Edna Best).
A senhora Muir não dá muita atenção aos boatos de que o local é assombrado, mas aos poucos começa a perceber que de fato existe uma presença no local. O fantasma tenta assustá-la para que deixe a casa, mas a viúva resiste e o enfrenta. Aos poucos, estabelecem um bom relacionamento, a ponto do fantasma ditar suas memórias para Lucy para que sejam publicadas em forma de livro, com os rendimentos indo para ela, que perdeu os investimentos que a sustentavam.
Os dois se apaixonam, mas, é claro, não há como o relacionamento funcionar, de modo que ele prefere se afastar para que ela encontre alguém que esteja, digamos, vivo. Ela pensa ter encontrado o companheiro num escritor de histórias infantis, mas posteriormente descobre que ele já era casado.

 

Aos poucos, a senhora Muir começa a perceber que os boatos sobre um fantasma são verdadeiros.

O Capitão Daniel consegue implantar uma sugestão na mente de Lucy, enquanto ela estava dormindo, de que ela mesma escreveu o livro e que o próprio fantasma era apenas um sonho que ela teve.
A história tem um encerramento menos triste quando, 10 anos depois, Anna retorna à casa com seu noivo e diz à mãe que ela também conheceu o Capitão Daniel. Lucy vive o resto de seus dias sozinha na casa, em companhia de Martha, até o dia em que ela morre, na casa, e o Capitão reaparece para levá-la com ele.

                                           Enfim sós, no Além. O capitão retorna para levar sua amada com ele.

Em The Encyclopedia of Fantasy, John Grant lembra que O Fantasma Apaixonado foi um de uma série de filmes da época apresentando histórias românticas envolvendo fantasmas – entre eles Uma Mulher do Outro Mundo e O Retrato de Jennie – “e é provavelmente o melhor, em grande parte devido ao roteiro, que tem mais profundidade do que muitos deles e inclui algumas especulações interessantes sobre o que os fantasmas realmente são”.
Em Films of Science Fiction and Fantasy, Baird Searles diz que nas “fantasias suaves dos anos 1940, quase todos os seres sobrenaturais eram benevolentes, até fantasmas que assombravam casas”, como no caso desse filme, com o que ele chamou de “fantasma cavalheiro”, ainda que inicialmente o fantasma do Capitão Cregg se apresente como sendo um tanto durão.
O filme foi baseado numa história de 1945, de R.A. Dick, pseudônimo de Josephine Leslie, publicado no Brasil como Vozes na Casa, da Editora O Clarim.
O filme originou um seriado.

 

 

 

NÓS E O FANTASMA
(The Ghost and Mrs. Muir, 1968/ 1970)
 

A série foi criada por Jean Holloway e traz Hope Lange como a senhora Muir, agora com o nome Carolyn, e Edward Mulhare como o Capitão Daniel Cregg. A viúva tem dois filhos e também uma governanta chamada Martha. O ambiente foi adaptado para os Estados Unidos e para os anos 1960. E, como era uma comédia, o clima foi suavizado e dado mais destaque para as situações em que o fantasma atrapalha a vida de algumas pessoas que tentam se infiltrar na vida da família Muir, às vezes com más intenções.
Curiosamente, o cenário do filme original, apresentado como o litoral britânico, na verdade era o litoral da Califórnia. A série rendeu dois prêmios Emmy a Hope Lange, mas durou apenas 50 episódios, com a audiência caindo bastante. Segundo alguns críticos, um dos problemas era o romance platônico e impossível entre a humana e o fantasma. Mas era uma série bem divertida.

 

 


 

5

 

O RETRATO DE JENNIE
(Portrait of Jennie, 1948)
Direção de William Dieterle.
 

Joseph Cotten e Jennifer Jones, como pintor e musa, em O Retrato de Jennie (Vanguard Films/ Selznick International Pictures).


Baseado no livro com o mesmo título, de Robert Nathan, publicado em 1940 (No Brasil, publicado pela antiga Editora Globo, de Porto Alegre, com tradução de Érico Veríssimo); o filme acabou ficando mais conhecido do que o livro, ainda que isso tenha acontecido bem depois de sua estreia; na época de seu lançamento, não teve grande bilheteria ou uma recepção mais calorosa da crítica, mas acabou tornando-se um clássico dos filmes de fantasia.
Entre os inúmeros pontos altos está a direção de William Dieterle, ator e diretor alemão que emigrou para os Estados Unidos em 1930, fugindo da situação política em seu país, e tornou-se um dos grandes nomes da indústria em Hollywood. Também o destaque para a fotografia de Joseph H. August, que utilizou diversos recursos de filtros para fazer com que as imagens parecessem pinturas, que é um dos pontos centrais da história. E ainda as presenças de Jennifer Jones, ganhadora do prêmio da Academia em 1943, e de Joseph Cotten que, por essa atuação, ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Veneza.

Jennie já adulta e virando a cabeça do pintor.

Ela é Jennie Appleton, ele é o pintor Eben Adams, sem inspiração, que vagueia por Nova York tentando vender seus quadros. Sua vida começa a mudar quando encontra a menina chamada Jennie no Central Park, estranhando a forma como ela se veste, com roupas que alguém usaria no início do século 20. Depois, de memória, ele desenha um esboço de seu rosto e resolve pintar um quadro de Jennie. Porém, estranhamente, a cada vez em que eles se encontram, ela está um pouco mais velha, como se envelhecesse muitos anos em poucos dias. Sua forma de agir também é diferente, e ela se refere a eventos passados como se estivessem ocorrendo naquele momento.
O romance toma forma quando ela atinge a idade adulta e pede ao pintor que espere por ela. Ele se apaixona por Jennie e, ao pesquisar para saber mais sobre sua vida, descobre que ela morreu anos antes, naufragando com seu pequeno barco durante uma tempestade, próximo a um farol. Ele se dirige ao local exatamente na data do naufrágio e vê Jennie saindo do mar e dirigindo-se ao farol. É a última vez que a vê, mas realiza um retrato que é uma obra-prima.
O filme foi uma produção do famoso David O. Selznick, que não apenas ficou com o quadro de Jennie (a própria Jennifer Jones, é claro), pintado pelo artista Robert Brackman, como se casou com Jennifer Jones em 1949.

 

 

6

 

CARNAVAL DE ALMAS

 

 

7


A INOCENTE FACE DO TERROR

 

 

8

 

UMA PAIXÃO SEM PASSADO
(The Girl in a Swing, 1988)
Direção de Gordon Hessler.

 

Meg Tilly, em Uma Paixão Sem Passado (Panorama).

O filme não foi bem recebido pela crítica e não foi um sucesso de bilheteria, mas tem momentos sensacionais e um clima de suspense e mistérios constante, além de uma atuação impecável de Meg Tilly, numa história recheada de sensualidade.
É verdade que Gordon Hessler não está entre os grandes diretores do cinema, mas tem seus momentos, como em Grite, Grite Outra Vez (Scream and Scream Again, 1969) ou em A Nova Viagem de Sinbad (Sinbad’s Golden Voyage, 1973), e aqui consegue compor um filme de terror sem efeitos especiais e com um estilo pouco utilizado nos dias atuais, ou seja, construindo uma atmosfera sufocante aos poucos, adicionando mistérios e compondo, principalmente, um ambiente opressivo.
Nenhum fantasma aparece, mas ele é ouvido, como um choro de criança, constante, surgindo nos momentos mais inesperados. E esse fantasma tem uma relação não explicitada com Karin, a personagem interpretada por Tilly, que se casa com o até então solteirão convicto Alan (Rupert Frazer), e transforma sua vida num turbilhão de sensualidade.
Ele é um negociante de porcelanas raras, e ela uma jovem alemã que o conquista imediatamente durante uma viagem à Dinamarca. Ela é misteriosa e pouco ou nada se sabe sobre seu passado. À medida que sua paixão e o clima de sensualidade cresce entre eles, ela também começa a demonstrar um comportamento cada vez mais estranho, às vezes até mesmo dando a impressão de ser algo mais do que uma mulher de carne e osso, algo como uma entidade ligada às forças da natureza. Em alguns momentos, a compreensão entre eles ocorre como que por telepatia. Mas em seu passado (ou presente) também pode estar o abandono ou o assassinato de um filho.
O relato é obscuro, dando margem a diferentes interpretações. Objetos que aparecem e desaparecem repentinamente, a voz de uma criança, e uma noite interminável em que ambos são aterrorizados por um fantasma que jamais é mostrado.
Não tive oportunidade de rever esse filme em tempos recentes, mas na época achei um filme maravilhoso e nunca consegui entender as críticas pesadas dos especialistas em cinema. Pode ser que, hoje, visse de forma diferente, mas não creio.

 

 

9

 

MARCAS DE UMA PAIXÃO
(Siesta, 1987)
Direção de Mary Lambert.
 

Ellen Barkin e Gabriel Byrne em Marcas de Uma Paixão (Lorimar Motion Pictures/ Siren Pictures).

Esse é outro que vi há muito tempo e, na época, adorei. No entanto, as críticas são terríveis e o filme foi um fracasso retumbante de bilheteria. Mary Lambert dirigiria em seguida O Cemitério Maldito (Pet Sematary, 1989, baseado no excelente livro de Stephen King), e seguiria uma carreira mais voltada para produções da televisão.
O elenco é bem legal, com Ellen Barkin, Gabriel Byrne, Isabella Rossellini, Martin Sheen, Jodie Foster e Julian Sands, com história baseada em livro de Patrice Chaplin. O filme é realmente estranho, com cortes sucessivos na ação e muitos flash-backs, aparentemente sem sentido, mas que são explicados de forma maravilhosa ao final do filme. E eu vou contar. Então, se você ainda não viu, não leia até o fim.

Ellen Barkin, prestes a entrar num mundo de pesadelo e alucinação.

Começa com uma mulher (Barkin) acordando perto de um aeroporto, com seu vestido manchado de sangue. Ela corre até um riacho, leva sua roupa e, a partir daí, começa a lembrar-se, aos poucos, do que aconteceu, com as memórias surgindo sem ordem no tempo. Vai até um amante que ela tinha na Espanha – e que ela espera que não tenha matado – retornando para sua vida nos Estados Unidos, com Martin Sheen, para uma cena dela pulando de um avião sem paraquedas e caindo numa rede, e retornando à Espanha para encontrar o antigo amante, que agora está casado.
Em sua peregrinação, ela encontra uma série de pessoas estranhas, entre elas um fotógrafo que lhe diz que é seu anjo da guarda, um motorista de táxi horroroso que faz de tudo para ter relações com ela e que acaba violentando-a, enquanto as lembranças de seu último encontro com seu amante vão retornando aos poucos.
As explicações nunca são satisfatórias, aumentando o nível de estranheza e o deslocamento da personagem. As pessoas aparecem e desaparecem de cena como se ela estivesse num sonho. E, próximo ao desfecho da história, ela pula da janela de um prédio e cai em cima de um ônibus que percorria a cidade em turismo, dirigindo-se até uma arena, onde ela novamente aparece muito bem de saúde.
Inicialmente, tem-se a ideia de que se trata de uma espécie de alucinação, ou então as memórias continuam desencontradas; mas então ela retorna ao local onde se encontrou com o amante, onde ele tirava sua siesta, e dessa vez a cena desenvolve-se inteiramente. Assim, finalmente ficamos sabendo que a mulher do amante apareceu no local e a matou. Ou seja, ela já estava morta, e não os outros, e ela tentava manter-se na Terra. Ela acompanha a cena, vendo o amante passar por ela sem perceber sua presença, enquanto um repórter pergunta à esposa assassina por que ela colocou o corpo no aeroporto.
Ela finalmente percebe que morreu e que não deve continuar aqui, e atravessa para um lugar muito luminoso. Enquanto os créditos aparecem na tela, uma multidão de pessoas translúcidas caminha para algum lugar, ou presos à Terra, como ela estava, ou em direção ao seu destino final.
Gostaria de rever o filme, desaparecido já há muito das locadoras. Chegou a ser lançado no Brasil em VHS (pela Alvorada), mas nunca cheguei a rever na televisão, se é que foi exibido. Até segundo ordem, o filme é excelente.

 

 

10

 

ILUSÕES PERIGOSAS
(Haunted, 1995)
Direção de Lewis Gilbert.
 

Aidan Quinn e Kate Beckinsale, em Ilusões Perigosas (American Zoetrope/ Lumière Pictures).

Assim como acontece com O Sexto Sentido e Os Outros, este é um filme que teoricamente só vale a pena ser visto uma vez, já que reserva a famosa “surpresa final” que explica a história, ou dá um novo rumo ao que até então estava sendo visto e imaginado pelo público. É claro que algumas pessoas juram de pés juntos que, ao assistirem a esses filmes, logo perceberam do que se tratava, mas eu não acredito muito nelas. Seja como for, eu vi Ilusões Perigosas pelo menos três vezes, e sempre gostei. Não que eu seja tão desligado a ponto de ter me esquecido do final, mas o filme é mesmo sensacional.
É uma combinação excelente de um diretor experiente como Lewis Gilbert e uma história de um escritor experiente no ramo, James Herbert, do livro Haunted (1988). Gilbert é mais conhecido por ter dirigido alguns filmes de 007 e Como Conquistar as Mulheres (Alfie, 1966). O elenco reúne Aidan Quinn e Kate Beckinsale, além do veterano John Gielgud.
Quinn é o psicólogo David Ash, atormentado pelo passado, quando sua irmã morreu afogada quando eles brincavam juntos. Ele escreve um livro sobre poderes psíquicos e se torna um especialista em investigar casos de supostas assombrações, sempre encontrando explicações plausíveis para os eventos. Em 1928, ele recebe uma carta de uma senhora pedindo que vá até a mansão Edbrook House para investigar a suposta assombração que assola o local. Ele encontra Christina Mariell (Beckinsale), moradora da mansão, que lhe diz que, na verdade, ela e seus irmãos pediram que ele fosse até lá para tentar acalmar a governanta e antiga babá, Tess (Anna Massey), que parece estar sofrendo problemas mentais desde a morte da mãe dos irmãos.

                    Os irmãos de outro mundo: Anthony Andrews, Alex Lowe e Beckinsale.

No local, David percebe que a situação é bem estranha. A governanta está muito angustiada e repetidamente fala a ele sobre os fantasmas que assombram o local e que a estão deixando louca. Ela não entende como ele insiste em dizer que não consegue vê-los. Por outro lado, a sensual Christina aproxima-se cada vez mais dele, mas ao mesmo tempo David descobre o relacionamento incestuoso entre ela e o irmão mais velho, Robert (Anthony Andrews).

Uma sessão de pintura nada inocente entre os irmãos.

Claro que, eventualmente, o psicólogo descobre que os três irmãos são os fantasmas, e um novo fantasma surge na história para ajudá-lo; sua irmã Juliet, falecida quando eram pequenos, é quem o ajuda a escapar da influência nefasta e perigosa dos fantasmas. O surgimento do fantasma da irmã é certamente ponto mais fraco do filme, uma solução mais fácil para um problema difícil de ser resolvido.
Seja como for, quando David finalmente vai embora, ao descer do trem na estação e ser recebido por sua assistente, ele não percebe, mas das névoas surge o fantasma de Christina. Provavelmente, ela vai continuar com ele por algum tempo.

 

 

11

 

OS FANTASMAS SE DIVERTEM
(Beetlejuice, 1988)
Direção de Tim Burton.
 

Michael Keaton, Geena Davis e Alec Baldwin, em Os Fantasmas se Divertem (The Geffen Company/ Warner Bros.).

Tim Burton já tinha conseguido um sucesso com As Grandes Aventuras de Pee-Wee (1985), mas certamente foi com Os Fantasmas se Divertem que sua carreira no cinema decolou de vez. Este é, provavelmente, o mais alucinado filme de fantasmas de todos os tempos, em grande parte graças à atuação lisérgica de Michael Keaton como o fantasma Betelgeuse, o ser do Além mais canalha que se pode imaginar.

Michael Keaton como Betelgeuse, um fantasma revoltante.

Geena Davis e Alec Baldwin formam o casal Barbara e Adam Maitland, levando sua vida confortável e tranquila em sua casa, quando sofrem um acidente e morrem afogados. Quando surgem de volta à sua casa, percebem que não têm mais reflexo nos espelhos e levam algum tempo antes de perceberem que são fantasmas. Encontram o "Guia para Recentemente Falecidos", um livro para ajudá-los a portarem-se como fantasmas. Assim, eles continuam vivendo na casa, juntos e felizes, como se nada tivesse acontecido. Até que uma nova família resolve mudar-se para lá, com a nova moradora redecorando toda a casa de forma totalmente oposta ao gosto dos fantasmas. Eles decidem expulsá-los do local, consultando o Guia para descobrir diferentes formas de fazê-lo. Mas como são ineptos, só conseguem fazer com que os membros da família aceitem sua presença e cheguem a pensar em torná-los atração turística.
A única forma que encontram para assustá-los para valer é chamando o especialista Betelgeuse, o que é um tremendo erro, uma vez que o novo fantasma é impossível de ser controlado e completamente alucinado, para não dizer perigoso.

O jantar maluco, com os convidados sendo forçados a dançar ao som de "The Banana Boat Song".

Uma comédia sensacional de um diretor espetacular, com visual impecável e cenas antológicas, entre elas o “jantar assombrado”, no qual os fantasmas tentam assustar os convidados fazendo-os dançar ao som de “The Banana Boat Song”, cantada por Harry Belafonte.
O sucesso comercial e de crítica originou um desenho animado com o mesmo título original (de 1989 a 1991). Tim Burton anunciou o desejo de realizar Beetlejuice 2, com o retorno de Michael Keaton e Winona Ryder.

 

 

 

12

 

PASSAGEIROS
(Passengers, 2008)
Direção de Rodrigo Garcia.
 


O filme foi um fracasso de bilheteria, mas é bem interessante. É outro daqueles que algumas pessoas dizem (após verem o filme, é claro) que já tinham descoberto a verdade muito antes da história se tornar clara. A diferença para um filme como O Sexto Sentido é que o enredo torna-se claro já com 30 ou 40 minutos de filme, e não apenas ao final.
Após um acidente de avião, apenas cinco pessoas sobrevivem. A terapeuta Claire (Anne Hathaway) é chamada para lidar com o aspecto emocional e psicológico dos sobreviventes, realizando sessões de terapia da qual participam quatro deles. O quinto, Eric (Patrick Wilson), se recusa a participar, mas concorda em receber Claire em sua casa para sessões privadas, o que os leva a desenvolver um relacionamento além do profissional.
As coisas se complicam quando os pacientes começam a desaparecer, ao mesmo tempo em que um homem misterioso ronda o grupo e um sujeito que diz ser da empresa aérea acompanha o trabalho de Claire, sempre dizendo que foi uma falha do piloto, enquanto os demais sobreviventes insistem que houve uma explosão antes do choque no chão.

                                                          Anne Hathaway e Patrick Wilson, em Passageiros (TriStar Pictures).

O que é revelado posteriormente é que não houve sobreviventes, e a própria Claire estava no avião. Os espíritos estão vagando pela Terra, procurando respostas para o que ocorreu e sendo ajudados por outros espíritos a entender sua situação e “seguir adiante”. O homem que rondava o grupo é um dos espíritos, perdido, sem saber o que lhe aconteceu; o homem da empresa aérea é o espírito do piloto, que tinha saído da cabine para flertar com uma aeromoça; o chefe de Claire é o espírito de seu antigo professor de escola, e sua vizinha, sempre tentando ajudá-la, é o espírito de sua tia. Da mesma forma, todos os demais recebem visitas ou veem os espíritos que tentam ajudá-los na transição.

 

 

13

 

O SEXTO SENTIDO
(The Sixth Sense, 1999)
Direção de M. Night Shyamalan.
 

Haley Joel Osment e Bruce Willis em O Sexto Sentido (Buena Vista Pic./ Hollywood Pictures/ Spyglass Entertainment/ The Kennedy-Marshall Company).

Bom... Praticamente tudo já foi dito a respeito de O Sexto Sentido. Foi o filme que projetou a carreira de M. Night Shyamalan, infelizmente com algumas previsões positivas não confirmadas. Foi o filme que revelou o excepcional ator infantil Haley Joel Osment, que também não teve exatamente a carreira que muitos imaginavam. O garoto é Cole, que vê, ouve e conversa com pessoas mortas e, aparentemente, é ajudado pelo psicólogo Malcolm Crowe (Bruce Willis) que, na verdade, é um dos fantasmas que Cole vê. O dr. Crowe não sabe que está morto e vaga pela Terra tentando continuar seu trabalho de ajudar jovens com problemas.

Haley Joel Osment numa das cenas mais famosas do filme: "Eu vejo pessoas mortas".

Como já foi comentado antes, na época do lançamento algumas pessoas disseram que já tinham percebido o que se passava antes das revelações finais, mas a direção e o roteiro foram muito cuidadosos ao não mostrar claramente a situação real do doutor antes do momento apropriado, com cortes de cena precisos, evitando dar continuidade a situações que iriam revelar a história.

Sem saber de seu destino, o psicólogo observa a esposa dormindo (Olivia Williams) e tenta entender o que está acontecendo com suas vidas.

O filme é uma beleza e é outro daqueles casos em que, mesmo sabendo o final, pode ser visto mais vezes, somente para apreciar um trabalho bem feito que consegue enredar completamente seu público.
Foi um sucesso gigantesco de bilheteria e de crítica, ainda que não tenha recebido nenhum dos aguardados prêmios da Academia.

 

 

14

 

OS OUTROS
(The Others, 2001)
Direção de Alejandro Amenábar.
 

Anne (Alakina Mann), Nicholas (James Bentley) e sua mãe Grace Stewart (Nicole Kidman), em Os Outros (Cruise-Wagner Productions/ Las Producciones del Escorpión/ Dimension Films/ Canal+).

Amenábar é o diretor do excepcional Preso na Escuridão (Abre los Ojos, 1997), que originou Vanilla Sky, com Tom Cruise, e aqui fez sua estreia numa produção norte-americana, com Nicole Kidman no papel principal.
Ela é Grace Stewart, que vive numa casa imensa no campo com seus dois filhos, Anne (Alakina Mann) e Nicholas (James Bentley), que têm uma doença rara que os impede de sair à luz do Sol. Assim, a casa é inteiramente vedada com cortinas enormes e pesadas, e as crianças devem seguir várias regras para não serem inadvertidamente expostas à luz solar. Os três aguardam a volta do marido, que foi servir o exército na Segunda Guerra Mundial.

Os fantasmas assustados com a presença dos vivos.

A situação é bastante estranha, com os empregados desaparecendo da casa e, repentinamente, três substitutos aparecem para trabalhar no local – um jardineiro, uma governanta e uma cozinheira. E, depois da chegada dos três, eventos sobrenaturais começam a ocorrer na casa, o que faz com que Grace e as crianças comecem a pensar que existem fantasmas no local.
Eventualmente ficamos sabendo que os três empregados já haviam morrido 50 anos antes, e que Grace e seus filhos também. Eles eram os fantasmas, e as vozes e presenças que sentiam eram os atuais ocupantes.

 

 

15


AMERICAN HORROR STORY (2011)
 

A casa de American Horror Story (20th Century Fox Television).

A primeira temporada do seriado do canal FX, posteriormente chamada American Horror Story: Murder House. Cada temporada contou uma história diferente, mas esta tem uma quantidade imensa de fantasmas, de todos os tipos, inclusive com revelações finais.

 

 

16

 

AS QUATRO FACES DO MEDO
(Kwaidan, 1964)
Direção de Masaki Kobayashi.


Lançado no Brasil em DVD (da Versátil) com o título Kwaidan – As Quatro Faces do Medo, o filme é um clássico das histórias de fantasmas, apresentando quatro contos baseados no livro Kwaidan – Stories and Studies of Strange Things (1904), de Lafcadio Hearn, um escritor nascido na Grécia de pai irlandês e mãe grega, mas que terminou sua vida morando no Japão, onde adotou o nome de Koizumi Yakumo.
O crítico Phil Hardy lembra que o filme chegou ao Ocidente juntamente com Onibaba, outro clássico japonês do terror, ganhando o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes, em 1965. Hardy escreveu que “Como um exercício estilístico, em que cada conto situa-se numa estação diferente do ano, o filme contém algumas sequências estonteantemente bonitas”.
O primeiro conto é “O Cabelo Negro” (“Kurokami”), adaptado de outro livro do autor, Shadowings (1900), com historia sobre um jovem e pobre samurai que deixa sua esposa para ter uma vida supostamente mais rica com outra mulher. Quando se arrepende e retorna a sua esposa, reconciliam-se e passam uma noite juntos, mas na manhã seguinte ele se vê ao lado do cadáver já apodrecido da mulher.

Kwaidan (Bungei/ Ninjin Club/ Toho Company/ Toyo Kogyo Kabushiki Kaisha).

O segundo segmento é “A Mulher da Neve” (“Yukionna”), que foi removido das cópias apresentadas nos Estados Unidos. No folclore japonês, yuki-onna é um fantasma ou espírito que, nas noites com neve, aparece na forma de uma bela mulher, porém capaz de causar terror e morte. A história mostra um encontro de um homem com a fantasma, que poupa sua vida desde que ele não revele a ninguém o encontro. Posteriormente, ele se casa com uma jovem que se parece muito com a mulher fantasma que encontrou, e tem filhos com ela. Até que um dia ele resolve contar que ela se parece com o fantasma que encontrou, e ela diz que é ela mesma, e que ele quebrou seu juramento de nunca falar a respeito. Ele é poupado por causa dos filhos que tiveram juntos, mas ela desaparece para sempre.


 

Outro segmento é “Hoichi – O Sem Orelha” (“Miminashi Hoichi no Hanashi”), que o crítico Phil Hardy entende ser a história mais espetacular das quatro. Conta a história de Hoichi, um músico cego especialista em cantar a saga da batalha de Dan-no-ura, entre os clãs Taira e Minamoto. Ele é chamado para cantar para os nobres, mas seus amigos entendem que ele pode estar sendo chamado para cantar para fantasmas, de modo que protegem-no pintando textos sagrados em seu corpo, mas se esquecem de proteger suas orelhas, que os fantasmas arrancam. O público era a armada fantasma de soldados derrotados.
O último segmento, “Em Uma Xícara de Chá” (“Chawan no Naka”), mostra um guarda que, prestes a beber uma xícara de chá, vê no líquido a face de um samurai encarando-o. Ainda assim, ele bebe o chá e passa a ser assombrado pelo espírito do samurai.


 

John Grant (em The Encyclopedia of Fantasy) escreveu que Kwaidan é um filme lindo de uma forma impressionante, e que “sua trilha sonora é manipulada tão brilhantemente que se torna virtualmente parte dos efeitos especiais”. A trilha sonora, no caso, é de Toru Takemitsu (1930-1996), segundo Phil Hardy, um dos mais originais compositores de filmes para cinema do Japão. Na verdade, mais do que isso, ele foi um dos mais importantes compositores de sua época, ganhando fama internacional.
Sobre Lafcadio Hearn, H.P. Lovecraft escreveu, em O Horror Sobrenatural na Literatura, que ele, “estranho, errante e exótico, afasta-se ainda mais do reino da realidade; e com suprema sensibilidade de poeta tece fantasias impossíveis a um cronista do cotidiano. Seu Fantastics, escrito na América, contém passagens das mais tétricas de toda a literatura; e Kwaidan, escrito no Japão, cristaliza com incomparável maestria e sutileza as superstições e lendas sussurradas daquela cultura tão rica e pitoresca”.

 

 

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JORNADA DO TERROR
(Journey to Midnight, 1971)
Direção de Alan Gibson e Roy Ward Baker.
 

Cena do episódio "Pobre Borboleta", de Jornada do Terror (Hammer Films/ 20th Century Fox Television).

Feito para a televisão. O filme reúne dois episódios do seriado inglês Enigma (Journey to the Unknown), produzido pela famosa Hammer. No nosso caso, o episódio mais interessante é “Pobre Borboleta” (“Poor Butterfly”, originalmente apresentado em 1969), com direção de Alan Gibson e roteiro de Jeremy Paul, a partir de história de William Abney.
Um homem é convidado para uma festa à fantasia num casarão afastado da cidade, aparentemente apenas porque ele tem um carro antigo; ele não conhece ninguém na festa, nem mesmo os anfitriões que o convidaram. Ele sente um ambiente um tanto estranho ao chegar na casa, onde encontram-se muitos carros antigos que supostamente não deveriam mais existir. Tudo lembra os anos 1920 e várias pessoas tratam-no como um velho conhecido, ainda que ele jamais os tenha visto anteriormente.
Ele conhece um linda jovem, fantasiada de borboleta, e eles passeiam pelo jardim. Totalmente envolvido pela mulher, ele quer ficar com ela, mas todos insistem que já é tarde e que ela deve entrar na casa e que ninguém pode sair dali. Pela manhã, o homem vai embora e, ao conversar com algumas pessoas, fica sabendo que o casarão onde ele esteve não mais existe, tendo queimado há muitos anos, numa noite em que havia uma festa no local. Uma única garota conseguiu escapar da casa em chamas, mas morreu em seguida. Ela estava fantasiada de borboleta.
Parece uma história um tanto evidente, mas tem um clima sensacional, evidenciando o que foi o seriado, que durou 19 episódios entre 1968 e 1969. É possível encontrar alguns episódios no youtube, inclusive este, ainda que não em muito boa qualidade.

 

 

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OS ESPÍRITOS
(The Frighteners, 1996)
Direção de Peter Jackson.
 

Os Espíritos (Universal Pictures/ WingNut Films).

Na divertida comédia de Peter Jackson, o personagem central, Frank Bannister, interpretado por Michael J. Fox, não apenas tem contato com os fantasmas, mas um excelente e proveitoso relacionamento com eles. Ele desenvolveu habilidades psíquicas, ou seja, a capacidade de ver e conversar com fantasmas, após um acidente de carro que vitimou sua esposa. Assim, ele abandona sua profissão como arquiteto e se torna um especialista em livrar casas de assombrações, exatamente os três fantasmas com os quais estabeleceu uma relação de amizade e de negócios.

Frank Bannister (Michael J. Fox) e seus comparsas fantasmas.

As coisas complicam-se quando ele descobre que existe uma entidade, que surge como o Ceifador, um espírito maligno, que está matando as pessoas. Para enfrentá-lo, o próprio Frank precisa morrer por alguns minutos, descobrindo que ele é o fantasma de um assassino que matou 12 pessoas anos antes.

Bannister, em sua breve passagem como fantasma.

Jackson consegue equilibrar muito bem os momentos de humor, especialmente no relacionamento entre o vivo e seus amigos fantasmas, com momentos de terror, quando o fantasma assassino entra em cena.
O diretor vinha de produções bem sucedidas, ainda que em produções menores na Nova Zelândia, em particular Trash – Náusea Total (Bad Taste, 1987) e Fome Animal (Braindead, 1992), e aqui contou com um orçamento de 26 milhões de dólares, em produção da Universal, que ainda contou com a produção executiva de Robert Zemeckis.

 

 

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UM OLHAR DO PARAÍSO
(The Lovely Bones, 2009)
Direção de Peter Jackson.
 

Saoirse Ronan, em Um Olhar do Paraíso (DreamWorks Pictures/ Film4/ WingNut Films).

Outro de Peter Jackson, com produção executiva de Steven Spielberg, com história baseada no livro best-seller de Alice Sebold, Uma Vida Interrompida (The Lovely Bones, 2002. Editora Nova Fronteira).
Esperava-se bastante do filme, tanto pelo sucesso do livro quanto pela participação de Jackson e Spielberg, mas a crítica e o público reagiram de forma um tanto indiferente. Não chegou a ser um fracasso de bilheteria, mas também não atingiu grande público. Não cheguei a ler o livro, mas diz-se que é bem mais complexo, para não falar violento.
Traz a história de Susie Salmon – com interpretação maravilhosa de Saoirse Ronan – uma menina de 14 anos que, em 1973, é assassinada, e narra sua história a partir de algum lugar entre a Terra e o Paraíso, uma espécie de limbo. Desse local, ela conta o que aconteceu com ela e observa a vida de sua família que tenta assimilar o golpe da perda, sem grande sucesso. O pai (Mark Wahlberg) quase enlouquece tentando descobrir o assassino, e a mãe (Rachel Weisz) entra em crise e vai colher frutas em algum lugar dos Estados Unidos, desaparecendo por boa parte do filme. Stanley Tucci interpreta o vizinho George Harvey, o homicida com um histórico de crimes semelhantes que se estende aos anos 1960.
No livro, Susie não apenas é morta; ela é estuprada e desmembrada, o que não é mostrado ou sugerido no filme, que segue por um caminho mais ameno, que é a forma dos produtores conseguirem uma classificação mais baixa e para atrair mais público.
Algumas críticas desceram o cacete no filme, considerando-o banal, brega, excessivo no aspecto visual e sabe-se lá o que mais. Apesar de não ser um filme horroroso como alguns pretendem, ele realmente tem alguns problemas, mas não me parece que um deles seja o dos efeitos especiais. Susie encontra-se num espaço indeterminado após a morte, e a maioria das coisas que existem ali parece que foram criadas por sua imaginação. Se há um excesso de cores e flores é porque estamos falando de uma jovem de 14 anos no início da década de 1970, quando as meninas de 14 anos era, digamos, mais inocentes. Faz sentido.
Desse local, ela tem de resolver algumas questões individuais, para poder seguir em frente, e também observa e, até certo ponto, influencia a vida de sua família; o irmão menor a vê, uma noite; o pai quase consegue escutar quando ela fala com ele. A autora Alice Sebold disse que não escreveu um livro com uma visão religiosa, e o filme também parece seguir mais na linha da desestruturação familiar – ou talvez simplesmente pretenda mostrar como as coisas são difíceis aqui na Terra, onde vivem os verdadeiros monstros.

 

 

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AS FILHAS DO FOGO (1978)
Direção de Walter Hugo Khouri.
 

As Filhas do Fogo (Lynx Filmes/ Editora Três).

Um suspense de difícil interpretação, com clima carregado e andamento bem lento, com lindas locações em Gramado. Uma jovem vive isolada numa casa, com sua empregada, levando uma vida enfadonha e lembrando-se da presença da mãe, já falecida. Sua amiga e amante chega ao local vinda de São Paulo, igualmente entediada com a vida, e ambas presenciam estranhos acontecimentos depois de encontrarem a vizinha, que passeia pelos bosques locais gravando supostas conversas dos espíritos. Elas são convidadas para uma comemoração, mas ao chegarem à casa da vizinha descobrem que nada daquilo existe. O fantasma da mãe, que era amante da vizinha, ronda o local. Ao final, não existe mais ninguém, apenas a jovem, prisioneira na casa, agora totalmente coberta pela vegetação.
Como ocorre com a maioria (ou todos) os filmes de Khouri, existem vários níveis e formas possíveis de interpretação, desde as abordagens psicológicas até as sociais.
Seja como for, para quem consegue ultrapassar o ritmo lento da narrativa – e, convenhamos, hoje em dia essas pessoas estão cada vez mais escassas – o filme é bem interessante, com lindas filmagens e momentos bem tensos quando surge Selma Egrei como o fantasma.