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NOVEMBRO DE 63

Livros/Lançamentos

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data07/03/2014
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Livro de Stephen King lida com viagens no tempo, escolhas pessoais e um dos maiores mitos da história dos EUA.

O livro Novembro de 63 (11/22/63) foi publicado nos EUA em 2011, e só agora chega ao Brasil, em edição da Suma de Letras, e tem como tema central um dos assuntos mais discutidos no país – o assassinato de John F. Kennedy – ainda hoje, tantos anos depois, sujeito a inúmeras revisões e teorias da conspiração.
King disse que tentou escrever este livro pela primeira vez em 1972, abandonando o projeto porque a pesquisa necessária para tanto “parecia assustadora demais para um homem que dava aulas em período integral”.
Pelo que se pode perceber pelas críticas ao livro – pelo menos nos Estados Unidos – a recepção foi boa, e não é para menos. Mais uma vez, o autor consegue lidar com uma situação complicada com imensa competência, prendendo a atenção do leitor em mais de 700 páginas de uma narrativa que precisa se dividir entre detalhes históricos precisos, viagens no tempo, realidades alternativas, histórias pessoais e a tentativa – bem sucedida, no meu entender – de não optar por soluções fáceis, até mesmo no que diz respeito a optar pelas teorias conspiratórias mais alucinadas, que até poderiam facilitar o desenvolvimento do enredo.
E escrever histórias de viagens no tempo nunca é fácil. É só perguntar a qualquer escritor de ficção científica e ver com que alternativas ele tem de lidar. Além de estarem entre os temas mais comuns da ficção científica, esses deslocamentos temporais também estão entre os mais cabeludos, os mais difíceis de serem abordados. Não apenas pelas descrições que o passado requer – ou seja, muita pesquisa – mas também pelos chamados paradoxos, que recheiam as melhores histórias do gênero.
Os paradoxos não são levantados no livro de Stephen King, mesmo porque ele trabalha basicamente com o conceito de que qualquer alteração temporal implica no desenvolvimento de uma nova linha de tempo. O que o viajante faz no passado realmente provoca alterações no presente – a teoria do efeito borboleta é até mesmo citada – mas, mais do que isso, pode provocar alterações perigosas na realidade, na própria estrutura do universo. Claro que não existe qualquer explicação cientificamente embasada nas páginas do livro, e até mesmo o personagem que poderia falar mais alguma coisa sobre o assunto não sabe muito bem o que dizer. Entre outras coisas, porque a sua proximidade com o “portal” temporal fez algumas coisas com sua mente, e não foram muito favoráveis ao seu discernimento da realidade.
O viajante – ou viajantes – é casual, e não está preocupado em determinar a verdadeira natureza de sua aventura no tempo. Ele tem uma missão, que aceita com muita relutância, e precisa se concentrar nela. Além de não ter conhecimento científico para discutir a questão.
O que me parece é que, basicamente, trata-se de uma história sobre escolhas pessoais. E não importa se são escolhas que podem alterar o universo, ou pequenas ações que, no máximo, irão causar algum estremecimento na vida de algumas pessoas. O comportamento dos personagens que estão no centro da ação, daqueles que têm o poder momentâneo de causar essas alterações, é o que importa.
O personagem central é Jake Epping, um professor de inglês que é “recrutado” por Al, dono da lanchonete onde Jake costuma comer, para uma missão improvável. Ele mostra a Jake o local onde existe uma “passagem” no tempo, que leva diretamente ao dia 9 de setembro de 1958. Não importa quantas vezes a pessoa atravesse, no outro lado do tempo será sempre aquele dia. Foi assim que Al teve a ideia de alterar a história, impedindo o assassinato de Kennedy. Porém, incapaz de terminar a tarefa, pede que Jake realize a proeza, o que irá causar transformações vitais na vida do professor, e do planeta.
O resto, só lendo para descobrir. E é o mesmo prazer de sempre, ler Stephen King. Apesar de não ser um livro de terror, as referências a outras obras suas aparecem – como já é comum em seus livros: A Dança da Morte; Rita Hayworth and the Shawshank Redemption (conto que originou o filme Um Sonho de Liberdade); Christine; It, esta talvez a mais facilmente identificável para os fãs do autor.