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FLORESTA É O NOME DO MUNDO

Livros/Lançamentos

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data16/10/2020
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Mais um grande livro de Ursula K. Le Guin, uma gigante da ficção científica.

Entre os críticos da literatura de ficção científica a opinião dominante é que Floresta é o nome do mundo é um livro que não se compara com o que Le Guin fez de melhor, em particular A Mão Esquerda da Escuridão  (mais sobre o livro na matéria Novas Visões) e Os Despossuídos (mais sobre o livro na matéria Utopias e Distopias Modernas). No caso da escritora, isso significa dizer que o livro é apenas excelente, e não um clássico do gênero.
A história ganhou o Prêmio Hugo de 1973, como melhor novella, uma classificação típica dos EUA e que tem a ver mais com o tamanho do que com o gênero literário (são histórias entre 17.500 e 40.000 palavras).
É o quinto livro do que foi chamado de “ciclo Hainish” – do qual fazem parte os livros citados acima – e que teve início com O Mundo de Rocannon (Rocannon’s World), em 1966. Na série, a humanidade teve início no mundo chamado Han, que colonizou vários planetas, inclusive realizando ações de engenharia genética, e quando as histórias iniciam-se esses mundos estão reestabelecendo relações diplomáticas, após um período em que as viagens interestelares não ocorreram.
Floresta é o nome do mundo foi publicado pela primeira vez na coletânea Again, Dangerous Visions (1972), editada por Harlan Ellison, e em formato de livro a partir de 1976.

Geralmente, é considerado uma referência à participação das forças norte-americanas na guerra do Vietnã, mas com a ação concentrada no planeta Athshe, composto inteiramente por florestas e mares, e habitado por uma raça nativa inteligente.
Para azar deles, os humanos chegam ao planeta, instalam bases controladas por militares, e começam a derrubar as árvores para enviar a madeira para a Terra, que já esgotou seus recursos. Os militares resolvem utilizar os habitantes nativos como escravos para o trabalho. Os seres são pequenos, com pouco mais de um metro de altura, com o corpo inteiramente coberto por uma pelugem verde.
O que se segue é uma série de ações violentíssimas contra os nativos, tratados como seres não inteligentes e, portanto, não humanos. Como forma de punição por não cumprirem suas tarefas eles podem ser mortos, castrados ou, no caso das fêmeas, estupradas.
Os nativos não apenas são inteligentes, mas têm uma relação com os sonhos que os terrestres não conseguem entender. Para eles, sonho e realidade fazem parte da mesma coisa, e eles conseguem dirigir seus sonhos para obter informações sobre o mundo à sua volta e sobre eles mesmos, sobre como devem agir em cada ocasião. Eles dormem a cada duas horas e são capazes de sonhar mesmo quando estão acordados, o que torna impossível que se adaptem ao período de trabalho de oito horas dos terrestres.
Poucas vezes a ficção científica mostrou uma história de contato entre terrestres e uma raça alienígena de forma tão crua e violenta, com os terrestres retratados como seres absolutamente desprezíveis em sua fome pelo poder, superioridade, riquezas, e totalmente incapazes de compreender a complexidade de uma civilização que, até a chegada dos humanos, não conhecia o significado das palavras “matar” e “guerra”.
Para os nativos, os terrestres são patéticos, passando os dias perdidos e enlouquecidos nos sonhos criados por meio da química, com os alucinógenos, mas sem poder controlar seus sonhos, como se precisassem daquelas drogas para poder esquecer o que deixaram para trás, sua própria terra e suas famílias.
Enfim, esse é mais um grande momento da ficção científica, pelas mãos de uma das maiores escritoras do gênero.
 

FLORESTA É O NOME DO MUNDO (The Word for World Is Forest, 1976)
Ursula K. Le Guin
Editora Morro Branco
160 páginas