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3 HISTÓRIAS DE PESSOAS ENLOUQUECENDO COM OS FANTASMAS

ESPECIAIS/VE FANTASMAS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data12/01/2017
fonte

1

 

OS INOCENTES
(The Innocents, 1961)
Direção de Jack Clayton.
 

Deborah Kerr, Martin Stephens e Pamela Franklin, em Os Inocentes (Achilles/ Twentieth Century Fox Film Corporation).

Clássico do terror, baseado na história A Outra Volta do Parafuso (The Turn of the Screw, 1898), de Henry James. Além de ser baseado em história de um dos maiores escritores de língua inglesa de todos os tempos, tem a direção do perfeccionista Jack Clayton, a fotografia excepcional de Freddie Francis – que se tornaria um dos grandes diretores dos filmes de terror ingleses dos anos 1960 e 1970, especialmente trabalhando para as produtoras Amicus e Hammer – a interpretação precisa de Deborah Kerr, e ainda a participação de Truman Capote na elaboração do roteiro.

 
Miss Giddens (Kerr) pode ou não estar sendo assombrada pela presença do malévolo Peter Quint (Peter Wyngarde).

Os Inocentes faz parte de uma categoria cada vez mais rara de filmes de terror não explícito, sem utilização de efeitos especiais, e nos quais nunca se sabe muito bem se o que está sendo narrado é real ou imaginação da personagem central, a doce e ingênua governanta Miss Giddens (Kerr), contratada por um ricaço para dirigir a casa e cuidar de seus dois sobrinhos, que ficaram aos seus cuidados após a morte dos pais.
A governanta anterior, Miss Jessel, morreu há menos de um ano, em circunstâncias não muito bem explicadas, e tudo o que o tio deseja é ser deixado em paz, sem saber dos possíveis problemas das crianças e da casa, para poder viajar e cuidar de sua vida.

 
A governanta e a jovem Flora, com o possível fantasma da antiga governanta (Clytie Jessop) do outro lado do lago.

As duas crianças, Flora (Pamela Franklin) e Miles (Martin Stephens), ainda que muito educados, parecem ter algum segredo entre eles e, de vez em quando, têm comportamentos estranhos que começam a perturbar a governanta.
A senhora Grose (Megs Jenkins) ajuda a cuidar da casa, e é ela quem começa a dar a Miss Giddens algumas informações sobre o passado do local, em particular sobre o quente relacionamento sexual entre a antiga governanta e o criado, Peter Quint, em atos que, talvez, as crianças tivessem presenciado.

Miles e o fantasma de Peter Quint ao fundo, que pode estar apenas na imaginação de Miss Giddens.

A governanta começa a ficar obcecada com a história e com as vozes e ruídos que começa a ouvir na casa, e principalmente quando começa a ter visões de uma mulher, provavelmente o fantasma de Miss Jessel, aparecendo próximo ao lago local. Não demora muito para ela acreditar que os fantasmas de Jessel e Quint de alguma forma influenciam as duas crianças de modo que possam continuar o relacionamento que tinham em vida.

Miss Giddens, enlouquecendo lentamente e questionando as crianças sobre os fantasmas.

Há um clima de tensão crescente, em cenas excepcionalmente construídas, até chegar a um final em que ocorre um conflito fatal, ainda que jamais o espectador fique sabendo se os fantasmas existiam ou não. Uma maravilha, ainda hoje entre os melhores filmes de terror de todos os tempos.

A história teve outras adaptações, ainda que jamais se aproximando da qualidade de Os Inocentes.

 

THE TURN OF THE SCREW (1974)
Direção de Dan Curtis
Produção para a TV, com duas horas de duração, com Lynn Redgrave e Megs Jenkins, que repete seu papel em Os Inocentes.



 

SOB A PROTEÇÃO DE HELEN WALKER (The Haunting of Helen Walker, 1994)
Direção de Tom McLoughlin
Feito para a TV, esse foi baseado na história de Henry James, mas com locação e nomes diferentes, com Valerie Bertinelli como a governanta americana contratada para trabalhar na mansão inglesa e cuidar das duas crianças. Nada demais. O diretor Tom McLoughlin tinha dirigido Sexta-Feira 13, Parte 6: Jason Vive (1986), mas teve uma carreira voltada para a televisão, geralmente em filmes e seriados de terror.

THE TURN OF THE SCREW (1999)
Direção de Ben Bolt
Produção anglo-americana para a televisão, com Colin Firth como o proprietário da casa e Caroline Pegg como a senhorita Jessel.

Outras produções para a TV foram realizadas em 1982, 1992, 1994, 2003 e 2009. Antes de Os Inocentes, a história foi adaptada para a TV em 1959, para o programa Startime, com o título The Turn of the Screw, direção de John Frankenheimer e Ingrid Bergman no papel principal.

 

 

2

 

O ILUMINADO
(The Shining, 1977)
Stephen King.

 

O ILUMINADO
(The Shining, 1980)
Direção de Stanley Kubrick.


Ainda que Stephen King jamais tenha gostado inteiramente da adaptação de Stanley Kubrick para o seu livro, esse é um caso em que ambos se tornaram sucessos de crítica e de público.
Stephen King estreou como escritor com Carrie, A Estranha (1974), já com um sucesso imediato de vendas e de crítica, mas foi com O Iluminado que sua reputação começou a tomar forma.
A história, hoje bastante conhecida, situa-se no imaginário Overlook Hotel – baseado no real The Stanley Hotel – ambos situados no estado do Colorado. É para lá que vai Jack Torrance e sua família, para trabalhar como zelador no inverno, período em que o hotel está fechado para turistas. Torrance pretende ser escritor, de modo que o período no hotel vazio parece ideal para desenvolver seu romance, ainda mais sendo pago para isso, e para dar sequência à sua tentativa de se recuperar de seu alcoolismo.
Seu filho, Danny Torrance, possui habilidades psíquicas, que o chefe de cozinha do hotel, Dick Hallorann, chama de “shining”, que ele mesmo também possui. Os dois mantém uma espécie de contato telepático e são capazes de ter premonições. Assim, é Danny quem começa a ver os fantasmas que habitam o hotel, e sua capacidade os torna mais reais e ativos, com acontecimentos do passado sendo reencenados e se transformando em ameaças para os vivos.
O hotel, ou seus ocupantes, acabam afetando a mente de Jack, levando-o de volta ao alcoolismo e insinuando ideias de matar sua esposa, levando os eventos a um final desastroso para ele próprio.
Comentando sobre o livro em Horror: 100 Best Books, outro espetacular escritor de terror, Peter Straub, escreveu: “Eu não estou certo de que The Shining tenha sido devidamente entendido ou apreciado – tem sido imitado (até seu título tem sido imitado), filmado e analisado, sempre muito mal (...)”. Para Straub, o livro é uma obra magistral, o resultado arrojado de uma visão original, um romance de surpreendente paixão, empenho, delicadeza, compreensão e invenção.

O filme dirigido por Stanley Kubrick tem Jack Nicholson no papel de Jack Torrance, Shelley Duvall como sua esposa Wendy, Danny Lloyd como o filho Danny, e Scatman Crothers como Dick Hallorann.

Imagem clássica de O Iluminado, com Jack Torrance (Jack Nicholson) já totalmente enlouquecido arrebentando a porta com um machado (Warner Bros./ Hawk Films/ Peregrine Prod./ Producers Circle).

As primeiras críticas não foram lá essas coisas, assim como a bilheteria. Parece que tudo demorou para pegar, assim como a forma pela qual Kubrick contou a história e que muitos fãs do gênero diziam que era muito lenta para um filme de terror. Alguns anos depois, parecia que tudo tinha mudado, com as críticas negativas sendo revistas e os fãs de filmes de terror geralmente colocando O Iluminado entre os maiores do gênero. O que não mudou muito foram as críticas à atuação de Shelley Duvall.
Kubrick teve muita perícia para levar o espectador para dentro da loucura de Jack, para o labirinto que é o hotel e para dentro dos jogos de espelhos, de imagens duplicadas ou refletidas. O diretor, de fato, passa algum tempo apenas insinuando que alguma coisa está para acontecer. Usa dos recursos do cinema com cortes imprevistos e posicionamentos de câmeras fantásticos. No entanto, existe um momento no filme que parece ser definitivo. Jack e Wendy estão em seu quarto; ele está deitado no lado direito da cama e ela se aproxima com um copo de laranjada; senta-se ao lado do marido, no lado direito, e coloca o copo em cima da mesa de cabeceira. A câmera fecha no rosto de Wendy durante a conversa que ela tem com o marido e, quando a imagem volta a abrir, tudo mudou: eles já não estão no lado direito da cama, mas no esquerdo, nas mesmas posições, como em uma imagem de espelho, como se eles tivessem passado para o outro lado da realidade, de uma vez por todas. E, a partir daí, os eventos se intensificam.

O escritor convivendo com os fantasmas do outro lado do espelho.

Essa imagem é reforçada pelas mensagens que Danny recebe e repete sem parar, “redrum”, e que escreve na porta. Olhando pelo espelho, Wendy percebe que ele escreveu “murder” (assassinato) ao contrário. Depois que entram no espelho, nada pode voltar ao normal. No bar do hotel, Jack começa a ver e conversar com os fantasmas do passado através do espelho.

O filho Danny (Danny Lloyd), encontrando fantasmas em seu caminho.

Quando já está sem a menor capacidade para criar a história que desejava, Jack Torrance encarna com facilidade as emoções mais negativas que o local tem a oferecer. Enlouquece, não apenas por ter passado para o outro lado da realidade, mas também por frustração, por não conseguir criar, e despeja tudo em cima da família.

Jack Torrance, perdido no labirinto.

As cenas finais de perseguição são apavorantes, apesar da histeria de Duvall ser um tanto exagerada. Mas os momentos no labirinto do jardim do hotel compensam qualquer exagero, numa sucessão de imagens que entraram para a história do cinema de terror.

 

 

 

 

 

 

 


Steven Weber como John Torrance, na minissérie O Iluminado (Lakeside Productions/ Warner Bros. Television).

Em 1997, a obra foi adaptada para a TV, numa minissérie em três partes, com cerca de 270 minutos.
A direção foi de Mick Garris e o roteiro do próprio Stephen King, também produtor executivo. E, ainda que o resultado não tenha sido ruim, ficou longe do filme de Kubrick.

 

 

 

3

 

ATORMENTADO
(Tormented, 1960)
Direção de Bert I. Gordon.
 


Atormentado (Allied Artists/ Cheviot Productions).

As críticas costumam apontar este como o filme mais “adulto” de Bert I. Gordon, o que não quer dizer muita coisa. O diretor é bastante conhecido por produções “B” para o público juvenil. Seja como for, alguns de seus filmes acabaram se tornando cultuados. Este, por exemplo, foi apresentado na Mostra Estação Cult, em 1994, com o título em português, e até tem seus momentos.
Richard Carlson ficou bastante conhecido por suas atuações em filmes de baixa produção, mas também por sua participação nos clássicos da ficção científica O Monstro da Lagoa Negra (The Creature From Black Lagoon, 1953) e Veio do Espaço (It Came From Outer Space, 1953). Aqui ele é o pianista de jazz Tom Stewart, que está noivo de Meg (Lugene Sanders). Eles moram numa pequena comunidade numa ilha próxima de Cape Cod. Pouco antes da data do casamento, Tom recebe a visita de sua antiga namorada, Vi Mason (Juli Reding), furiosa com o amante e dizendo que vai fazer de tudo para impedir o casamento. Durante sua discussão no alto de um farol, ela acaba caindo, com Tom se recusando a ajudá-la quando ainda tinha oportunidade de impedir sua queda.


 

A partir daí, o filme segue o atormentado Tom tendo seguidas visões e encontros com o fantasma de Vi, ou pelo menos com partes do fantasma, já que ela aparece como uma cabeça ou uma mão, ou como uma voz lhe dizendo que vai fazer de tudo para que o que ele fez seja conhecido de todos, levando o sujeito à loucura. Sua loucura crescente faz com que ele cometa outro crime, ao matar o homem da balsa que levou Vi até a ilha e que vai até ele cobrar a passagem que ela não pagou.

 

As visões da falecida, levando o criminoso à loucura.

Claro que uma situação dessas não pode terminar bem para o criminoso atormentado, e ele acaba caindo do mesmo farol quando tentava matar a noiva que já sabia o que ele tinha feito.
O filme pode ser visto em versão legendada no Youtube, com o título Sangue no Farol.