Assim como em seu livro Quem Teme a Morte, em Binti a escritora norte-americana Nnedi Okorafor visita suas raízes africanas para apresentar a epopeia da jovem Binti, pertence ao grupo étnico himba, que a autora baseou na população himba existente na Namíbia.
Binti é a primeira himba a frequentar a UniOoomza, uma universidade que reúne estudantes com capacidades especiais, de diversos planetas, humanos ou não. Mas para isso ela precisa ir contra as tradições de seu povo e de sua extensa família.
O livro foi publicado originalmente como uma trilogia, iniciando com Binti (Binti, 2015) – que ganhou os prêmios Hugo e Nebula de 2016 – e seguindo com Lar (Binti: Home, 2017) e O Mascarado da Noite (Binti: The Night Masquerade, 2018). A edição atual traz as três histórias.
A história é situada em um futuro indeterminado, provavelmente muito distante, no qual maravilhas tecnológicas convivem com antigas tradições, sociais e religiosas. Ao mesmo tempo em que humanos e alienígenas viajam a outros planetas a bordo de naves que são organismos biológicos inteligentes, tanto humanos quanto extraterrestres mantêm tradições religiosas que, em muitos aspectos, são semelhantes.
Okorafor elabora sua história navegando em uma linha tênue, na qual ficção científica e fantasia se misturam e, mais do que isso, ao mesmo tempo em que considera a importância da manutenção de alguns valores tradicionais da sociedade, em particular as relações familiares, também questiona alguns aspectos desses valores. A todo momento, Binti se vê diante de situações nas quais o preconceito leva as pessoas a ações violentas, e o apego a antigas formas de pensar impede que os relacionamentos entre as espécies – e também entre os humanos – progrida para um convívio mais harmonioso.
O ambiente é o futuro distante, mas o passado está sempre presente, às vezes ameaçando a estabilidade das relações, outras vezes apresentando caminhos possíveis de convivência que, até então, eram ignorados. A cada passo a autora mostra que as criaturas, humanas e alienígenas, nem sempre são o que imaginamos. A complexidade da vida, seja lá qual for essa vida, é tamanha, que não permite que sejam tomadas conclusões apressadas, simplistas ou baseadas em tradições que, geralmente, são marcadas pelo desconhecimento perpetuado ao longo do tempo.
Não foi por acaso que o livro ganhou duas das premiações mais importantes do gênero. Nnedi Okorafor escreveu mais um livro excelente e já se apresenta como uma das principais autoras modernas da ficção científica e fantasia.
BINTI (Binti)
Nnedi Okorafor
Editora Record/ Galera
378 páginas