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COLOCANDO AS SÉRIES EM DIA: YEARS AND YEARS

Séries de TV

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data05/08/2019
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Excelente produção conjunta da HBO e BBC apresenta um possível futuro próximo para o planeta.

Não tem uma hecatombe nuclear. Nada de uma pandemia, um vírus aniquilando a sociedade. Alienígenas não invadem a Terra. Apenas a velha, constante e irritante imbecilidade humana e sua incapacidade em lidar de forma equilibrada com as questões mais básicas da existência no planeta.

A partir da esquerda, em cima: Jade Alleyne, Anne Reid, T'Nia Miller, Russell Tovey, Jessica Hynes, Ruth Madeley, Rory Kinnear e Lydia West.

É assim que a série Years and Years apresenta uma visão de um possível futuro imediato para o planeta. E não deixa de ser inquietante e, às vezes, apavorante, em especial porque nos coloca no centro do problema; não apenas os governantes e os políticos, que fazem o que sempre fizeram, provavelmente desde que meia dúzia de hominídeos se reuniram em torno de uma fogueira em uma caverna; mas as pessoas comuns, as que escolhem seus governantes, as que permitem que as coisas fujam ao controle, mesmo que muitas vezes as pessoas comuns simplesmente não tenham um poder real e efetivo capaz de mudar uma situação ruim.
A série me pegou de surpresa, pois não tinha ouvido qualquer referência a ela. Zapeando pelos canais, vi uma parte de um episódio, acho que o quarto, e resolvi assistir desde o início. E é uma maravilha.
É uma produção conjunta da HBO e da BBC, com a história centrada na família Lyons, de Manchester, na Inglaterra. Como é comum com as séries inglesas, resolve-se em apenas seis episódios. E, ao centrar a história na família, consegue apresentar ao espectador temas atuais, muitas vezes polêmicos, com uma proximidade e clareza refrescantes. Relacionamentos e casamentos entre pessoas do mesmo sexo e de raças diferentes são parte importante da história da família Lyons, em um período em que o mundo parece estar ficando cada vez mais fora de controle.

                                                                                                                Emma Thompson, como Vivienne Rook.

Tudo começa em 2019 e, rapidamente, avança para os anos seguintes, com a ascensão de Vivienne Rook (Emma Thompson) no cenário político britânico, mulher com opiniões controversas, quando não totalmente disparatadas, que começam a causar uma transformação perigosa no país. Ao mesmo tempo, Donald Trump consegue seu segundo mandato como presidente dos EUA, e quase provoca uma guerra mundial. A loucura invade o planeta, com a Rússia estendendo seu poder ditatorial e a Ucrânia iniciando um verdadeiro expurgo de seus “inimigos” ou pessoas indesejáveis, como os gays. A Inglaterra passa a receber cada vez mais refugiados, e um deles terá um efeito fundamental na família Lyons ao começar um relacionamento com Daniel (Russell Tovey).
Ao mesmo tempo em que, política e economicamente, o mundo passa por problemas imensos, e, em particular a Inglaterra, o avanço científico e tecnológico continua a dar saltos, o que permite que se discuta também o tema do transhumanismo, o objetivo de vida de Bethany (Lydia West), uma das mais jovens da família. Quando os pais (Rory Kinnear e T’nia Miller) descobrem que a filha estava pesquisando sobre trans na internet, resolvem conversar com ela e dizer-lhe que, para eles, não importa o que ela quer ser, pois vão continuar a amá-la da mesma forma, seja homem ou mulher; a filha diz que não quer virar homem, mas sim ser transhumana, ou seja, passar por modificações em seu corpo que, num estágio final, permitam que sua mente seja transformada em dados e ela possa viver no espaço virtual; e eles ficam loucos.
A questão do transhumanismo também é importante na série, pois determina a última, enigmática e sensacional cena da história.
Years and Years certamente está entre os melhores seriados de ficção científica na televisão nos últimos tempos. Quem ainda não viu, deve procurar.