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APOCALIPSE ZUMBI

ESPECIAIS/VE ZUMBIS

autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data01/09/2023
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Os zumbis começaram a dominar o mundo nos anos 1960, mas no século 21 as pandemias de mortos-vivos dominaram o cenário do gênero.

DNA Films/ British Film Council.

Os apocalipses, os finais de mundo que ocorrem pelas mais diversas razões, são comuns na ficção científica desde o século 19, e boa parte da produção do gênero foi abordada em nosso especial Fim do Mundo.
A mais recente versão do tema, o chamado “apocalipse zumbi”, tornou-se bastante comum nos últimos anos, especialmente nos filmes e nas séries de TV. E, basicamente, os apocalipses apresentados não são muito diferentes de tantos outros que a ficção científica vem desenvolvendo desde sempre.

The Walking Dead.

Um evento catastrófico, nem sempre de origem definida, arrasa com a sociedade humana, deixando alguns poucos sobreviventes – e, em alguns casos, nem tão poucos assim – que precisam fazer de tudo para enfrentar as dificuldades em um mundo sem controle, e continuar em frente.
Esses eventos, tantos nos apocalipses iniciais do gênero quanto nos recentes apocalipses zumbis, têm como um dos aspectos principais o de revelar o que de melhor e de pior existe na humanidade. Quando colocados em situações extremas, as pessoas tomam decisões extremas. Alguém já disse que as crises são reveladoras, e não é diferente nessas histórias.
Pessoas que eram exemplos de bondade podem se transformar para salvar suas próprias vidas ou a de seus familiares; ou podem tentar manter sua bondade e seus princípios éticos e morais custe o que custar. As pessoas más por natureza, que já eram assim antes da catástrofe, tendem a piorar e tentar exercer algum tipo de poder que, talvez, não conseguissem obter antes.
Uma sociedade sem controle, sem justiça, sem punições e sem regras, abre imensas possibilidades para o comportamento humano, dependendo da personalidade de cada um. Pensamentos e atitudes até então enterrados emergem e podem tomar conta dos indivíduos. Então, eles podem tentar reunir-se em grupos afins, para ajudar uns aos outros ou para dominar os que são mais fracos ou apenas diferentes deles.
Assim tem sido com muitas das histórias mais recentes de apocalipses zumbis, nos quais os mortos-vivos funcionam mais como um gatilho para os comportamentos humanos extremos, que são o foco central das histórias. Não que os zumbis não representem uma ameaça real nas histórias; eles são, mas em alguns casos essas ameaças podem ser contornadas com ações apropriadas, e o mesmo nem sempre pode ser dito das ameaças humanas, mais engenhosas e maldosas.

                                                                                                                                  All of Us Are Dead.

Geralmente, a maioria dos críticos e estudiosos da ficção científica e terror apontam o filme de George A. Romero, A Noite dos Mortos Vivos (Night of the Living Dead, 1968), como o iniciador do ciclo de produções com o tema, ainda que no filme não exista uma indicação clara de que a epidemia de mortos-vivos tenha se espalhado de forma incontrolável por todo o planeta.
Peter Dendle disse que o “primeiro genuíno apocalipse zumbi das telas” foi Invasores Invisíveis (Invisible Invaders, 1959), comentado anteriormente. Além disso, ele lembra que a série de quatro filmes de Amando de Ossorio, iniciando com A Noite do Terror Cego (1971. Comentado anteriormente), foi a que realmente ligou os zumbis a um apocalipse total, e não o ciclo de filmes de Romero, uma vez que o apocalipse de Romero só surgiria como um elemento definido em Despertar dos Mortos, em 1979. Por outro lado, parece claro que foram os filmes de Romero que tornaram o tema popular e abriram caminho para uma série de produções do gênero.

Dendle também diz que, quando os filmes de zumbis começaram a reaparecer em 1979, eles já não apresentavam os temas dispersos dos primeiros filmes. “As histórias não eram aventuras sobre um pequeno grupo de pessoas superando um ataque localizado de monstro, mas focava especificamente no tema mais amplo do apocalipse total. Os zumbis carregam um contágio poderoso e horrível que se espalha com velocidade estonteante, e os mortos-vivos ameaçam nada menos do que o armagedom global”.

Zumbi - A Volta dos Mortos (Variety Film Production).

E, ainda que Despertar dos Mortos, de Romero, tenha iniciado essa nova tendência, Dendle diz que, no geral, é o filme de Lucio Fulci, Zumbi – A Volta dos Mortos (Zombi 2, 1979) – produzido e apresentado apenas alguns meses após o filme de Romero – o mais representativo dessa segunda fase dos zumbis no cinema. E ele foi um de uma série de produções italianas que surgiram na época, abordando o apocalipse zumbi, além de algumas poucas contribuições do cinema espanhol e francês, em um momento em que o cinema americano ainda não tinha embarcado totalmente na devastação mundial pelos mortos-vivos.
O filme de Fulci, um dos maiores diretores de terror da Itália (também com os títulos Zombie, Island of the Living Dead e Zombie Flesh Eaters), recebeu esse título como uma jogada de marketing, uma vez que o filme de George Romero tinha sido apresentado na Itália com o título Zombi. Mas não existe relação entre eles, a não ser a influência de Romero no cinema do gênero.
Anne Bowles (Tisa Farrow) e o repórter Peter West (Ian McCulloch) dirigem-se a uma ilha do Caribe para saber o que aconteceu com o pai dela, que se diz estar muito doente. Mas na ilha encontra-se o dr. Menard (Richard Johnson), que está realizando experiências na criação de zumbis, e uma verdadeira epidemia espalha-se pelo local. Eventualmente, os zumbis saem da ilha e começam a se espalhar por Nova York.

Cidade Maldita (Dialchi Film/ Lotus Films Internacional/ Televicine S.A. de C.V.).

Umberto Lenzi dirigiu Cidade Maldita (Incubo Sulla Città Contaminata, 1980), também com os títulos Pesadelo na Cidade Contaminada, La Invasión de los Zombies Atomicos, City of the Walking Dead, Nightmare City, Invasion of the Atomic Zombies (no Brasil, em DVD da Versátil).
Lenzi foi um dos mais ativos e importantes diretores do cinema de terror italiano de sua época, mas nem sempre com filmes bem realizados. E esse, apesar de ter admiradores entre alguns diretores importantes como Danny Boyle, Robert Rodriguez e Quentin Tarantino, geralmente é considerado muito ruim.

                                                                                                                                                   Cidade Maldita.

Hugo Stiglitz interpreta um jornalista enviado ao aeroporto para esperar o voo no qual vem um cientista que deverá explicar um vazamento de radiação em uma usina nuclear. Mas quando o avião chega, os passageiros já foram afetados pelo vazamento radioativo e uma horda de zumbis desce e começa a atacar todos que veem pela frente. Rapidamente eles invadem a cidade e iniciam uma matança, infectando outras pessoas.
O final repete uma ideia já utilizada antes em alguns filmes, como em Invasores de Marte (Invaders From Mars, 1953) ou no clássico de terror Na Solidão da Noite (Dead of Night, 1945). Quando Stiglitz e sua namorada (Laura Trotter) estão tentando fugir dos zumbis, ela mesma morre e se transforma, e o jornalista acorda, percebendo que era um pesadelo. Em seguida, ele se dirige ao aeroporto para a entrevista que tinha marcado e vê a chegada não programada de um avião, sugerindo que se trata de uma história circular, com o pesadelo tornando-se realidade e vice versa.

Cidade Maldita.

Para Phil Hardy, “O final circular frequentemente utilizado, aqui apenas mostra que os realizadores não sabiam como terminar sua história. As sugestões ecológicas são enfatizadas em diálogos expressivos e aborrecidos sobre acidentes nucleares, enquanto a história em si é manuseada com descuido despreocupado (por exemplo, o casal central, fugindo dos zumbis vampíricos, encontra tempo para tomar um café e conversar um pouco antes de continuar sua fuga alucinada). As imagens são rotineiras, os efeitos baratos e as atuações medíocres”.
Peter Dendle disse que o filme é, essencialmente, muitas correrias, pontuadas por eventuais falas moralizantes, enquanto os efeitos sangrentos e as sequências de suspense são tão banais que chegam a ser um insulto.
E são zumbis muito ativos, rápidos e inteligentes, com seus ataques dando a nítida impressão de que são organizados.

                             Pavor na Cidade dos Zumbis (Dania Film/ Medusa Distribuzione/ National Cinematografica).

Lucio Fulci voltou ao tema com Pavor na Cidade dos Zumbis (Paura Nella Città dei Morti Viventi, 1980. Também com os títulos City of the Living Dead, The Gates of Hell, The Fear, Fear in the City of the Living Dead e Twilight of the Dead. No Brasil, lançado em VHS (Dadogroup) e em DVD (Versátil)).
A história é vagamente baseada em H.P. Lovecraft, em particular ao citar a cidade de Dunwich, na qual o padre da paróquia comete suicídio, dessa forma abrindo as portas do inferno e fazendo com que os cadáveres se levantem e ameacem os vivos.
A situação é revelada à médium Mary Woodhouse (Catriona MacColl) durante uma sessão, e ela se dirige à cidade acompanhada pelo repórter Peter Bell (Christopher George), acreditando que precisa destruir o corpo do padre até o Dia de Todos os Santos, caso contrário todos os mortos vão se levantar e dominar o mundo.
O filme não foi muito recebido pela crítica em geral. Segundo Phil Hardy, “(...) O resto do filme consiste em cenas isoladas, vagamente conectadas, nas quais mulheres (na maioria) vomitam sangue enquanto suas cabeças são despedaçadas pelos dedos cheios de vermes dos mortos em desintegração”. Peter Dendle disse que se trata menos de uma história coerente de invasão zumbi e mais uma coletânea frouxa de choques gratuitos e imagens de terror sensacionalistas, entendendo que é o pior filme de zumbis de Lucio Fulci.

A Noite dos Mortos Vivos (Esteban Cinematografica).

Em 1981, foi a vez do diretor Andrea Bianchi apresentar sua versão dos zumbis, em A Noite dos Mortos Vivos (Le Notti del Terrore), também com os títulos A Noite do Terror, Burial Ground, Zombie Horror e Zombie 3.
Apresenta uma tal de “Profecia da Aranha Negra”, que diz que “a terra tremerá, os túmulos se abrirão, entre os vivos virão os mensageiros da morte e haverá noites de terror”. A partir daí, desenvolve-se uma história sem pé nem cabeça, com um grupo de pessoas que chega a uma mansão para descansar. Pouco antes deles chegarem, um professor que ali residia havia feito uma descoberta “fantástica”, que nunca ficamos sabendo exatamente qual teria sido. De qualquer forma, os mortos saem de túmulos etruscos que se encontram por todo o local, e atacam as pessoas, matando e comendo suas entranhas.
As atuações são péssimas, as filmagens horríveis, os efeitos especiais ridículos. No Brasil, foi lançado em VHS, inicialmente pela Poderosa, com o título acima, depois relançado pela Century com o título A Noite do Terror. Na distribuição em vídeo, supõe-se que algumas cenas tenham sido cortadas.
O crítico Phil Hardy aponta o filme como uma espécie de sequência ao filme Zumbi 2, de Lucio Fulci, e destaca que Bianchi foi um diretor de menor importância, realizando filmes de suspense e de sexploitation, e que este “foi planejado com a intenção de encenar o maior número possível de eventos horrivelmente viscerais”.
Peter Dendle teve uma visão mais condescendente, dizendo que “A contribuição de Bianchi para a série de filmes de zumbis da Itália é um canto fúnebre sombrio de alto impacto, que sustenta a tensão sem misericórdia, e perde pouco tempo no enredo e no motivo”. Para o crítico, não há no filme qualquer subtexto moral, anticolonialista ou ecológico, mas apenas um apocalipse abstrato, de tal forma que poucos filmes de zumbis atingiram uma visão tão clara. Claro que as opiniões sempre divergem, mas parece mesmo um exagero de Dendle, pois o filme é simplesmente horrendo.

                                                                                                                                    A Noite dos Mortos Vivos.

O ponto de vista de Dendle é explicado por ele claramente em seus livros. “Na minha opinião”, ele escreve, “talvez seja essa segunda onda de filmes franceses, espanhóis e, principalmente, italianos – com pequeno orçamento, atuações ruins, mas decididamente sinceros – que representam o ápice da era de ouro dos filmes de zumbis. O que os filmes de zumbis fazem bem, esses filmes fazem melhor, impulsionando os temas inerentes ao gênero para suas conclusões lógicas. Eles são parábolas da entropia, apresentando a devastação global com paciência enlouquecedora e implacável. Os filmes de zumbis depois dessa época às vezes são excelentes, mas raramente recapturam o charme ingênuo que dessas visões mediterrâneas do apocalipse fascinantes”.

Os filmes com apocalipses zumbi explodiram no século 21, às vezes com produções interessantes, outras vezes com repetições intermináveis dos mesmos temas e abordagens. Talvez possamos chamar esse período, que se estende até 2023 (pelo menos), de terceira fase dos filmes de zumbis, e não existe uma explicação muito clara para essa explosão de produções do gênero.

Uma zombie walk realizada em Nottingham, Inglaterra, em 2008 (Foto: David Bullock).

A fascinação com zumbis no século 21 foi além dos filmes e games, com repercussão em comportamentos sociais, certamente impulsionados pela crescente utilização das redes sociais, multiplicando o interesse no tema. As manifestações mais conhecidas foram as zombie walks – que, segundo se diz, começaram em 2.000 na Gen Con em Milwaukee e, posteriormente, espalharam-se por cidades do mundo todo, com centenas ou milhares de pessoas fantasiadas como zumbis andando pelas ruas e agindo como mortos-vivos.
Peter Dendle disse que os anos 1990 foram dominados pelos filmes de vampiros, de modo que os zumbis de certa forma deixaram de ser os protagonistas principais dos filmes de terror, mas isso também abriu caminho para novos conceitos, em particular nos quadrinhos e nos games.

                                                     Resident Evil (Constantin Film/ New Legacy/ Davis-Films).

E as coisas começaram a mudar em 2002, com o lançamento dos filmes Resident Evil: O Hóspede Maldito (Resident Evil), dirigido por Paul W.S. Anderson, e Extermínio (28 Days Later...), dirigido por Danny Boyle, o primeiro uma adaptação do game com o mesmo nome, lançado em 1996; e também com a publicação de O Guia de Sobrevivência aos Zumbis (The Zombie Survival Guide, 2003), de Max Brooks, que segundo Dendle apresentou a ideia de sobreviver a um apocalipse zumbi como um exercício de imaginação divertido e vívido. E, logo em seguida, a refilmagem Madrugada dos Mortos (Dawn of the Dead, 2004) e a comédia Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, 2004) “cimentaram o apelo comercial e popular da criatura, e foi aí que os filmes de zumbis novamente começaram a aparecer em ‘rebanhos’”, disse Dendle.

Milla Jovovich.

Resident Evil praticamente garante o papel futuro das “grandes corporações malvadas” na propagação de vírus e outros problemas que podem ou não destruir o planeta, ou pelo menos a parte humana dele. A corporação aqui é a Umbrella Corporation, operando um laboratório subterrâneo conhecido como Colmeia, abaixo de Raccoon City, e desenvolvendo um vírus geneticamente alterado que deveria funcionar como um produto para conter o envelhecimento, mas que tem a capacidade de reanimar células mortas.
O vírus é roubado e contamina todo o laboratório, que é então selado pelo computador central, uma inteligência artificial conhecida como Rainha Vermelha. Um grupo de pessoas invade o laboratório, procurando respostas e um antivírus, e descobrindo que os mortos não estão mortos, mas transformaram-se em zumbis violentos e rápidos. Milla Jovovich interpreta Alice, a personagem central da trama, que acorda sem memória na mansão que é a porta de entrada secreta do laboratório, e vai aos poucos recobrando a consciência.
O final do filme, após muitas lutas, matanças, fugas e perseguições, abre o caminho para as sequências que transformaram Resident Evil em uma franquia muito bem sucedida, tanto de público quanto de bilheteria, ainda que tenha recebido muitas críticas iniciais, inclusive dos fãs de filmes de terror, que esperavam mais sangue e vísceras e não um filme de ação.

Nemesis, o supersoldado mutante da corporação Umbrella, em Resident Evil 2: Apocalipse (Davis Films / Impact Pictures/ Constantin Film).

Os filmes seguintes foram: Resident Evil 2: Apocalipse (Resident Evil: Apocalypse, 2004), dirigido por Alexander Witt; Resident Evil 3: A Extinção (Resident Evil: Extinction, 2007), dirigido por Russell Mulcahy; Resident Evil 4: Recomeço (Resident Evil: Afterlife, 2010), dirigido por Paul W.S. Anderson; Resident Evil 5: Retribuição (Resident Evil: Retribution, 2012), dirigido por Paul W.S. Anderson; Resident Evil 6: O Capítulo Final (Resident Evil: The Final Chapter, 2016), dirigido por Paul W.S. Anderson.
Mas claro que, como a série rendia milhões de dólares a cada capítulo, aquele que deveria ser o final, não foi. Os produtores quiseram o chamado “reboot”, ou seja, iniciar um novo ciclo de histórias, o que aconteceu com Resident Evil: Bem-vindo a Raccoon City (Resident Evil: Welcome to Raccoon City, 2021), dirigido por Johannes Roberts, e o primeiro da série a não ter Milla Jovovich no elenco. Além desses, a franquia tentou uma série, Resident Evil: A Série (Resident Evil, 2022), apresentada na Netflix e muito mal recebida pelo público, durando apenas uma temporada.

Cillian Murphy, como Jim, encontrando Londres deserta, em Extermínio (DNA Films/ British Film Council).

Extermínio teve sua influência nos filmes do gênero, e chegou a gerar algumas discussões entre os fãs, debatendo se o filme seria ou não um filme de zumbis. O diretor Danny Boyle sempre disse que não, mas o roteirista Alex Garland disse que sim. Em entrevista para o site Empire, Garland disse que apesar de quaisquer discrepâncias técnicas que possam ou não existir, eles são basicamente zumbis. E tudo isso porque os humanos transformados em seres raivosos e violentos que atacam outras pessoas chegam a essa condição, pelo menos inicialmente, sem que tenham morrido, como ocorre com os zumbis tradicionais. Mas, como vimos nas matérias anteriores, esse não foi o primeiro filme a apresentar essa situação.
A história estabelece que um vírus poderoso escapou de um centro de pesquisas na Inglaterra e, em pouquíssimo tempo, infecta milhares de pessoas e causa uma devastação impensável. Os infectados ficam em um estado de fúria raivosa, atacando qualquer um que apareça pela frente e tentando matar as pessoas de qualquer forma possível, e igualmente infectando os que são atacados e entram em contato com seu sangue ou saliva. Todo o país é atingido em apenas 28 dias, e os sobreviventes tentam se virar como podem.
Um dos sobreviventes, Jim (Cillian Murphy), acorda de um coma em um hospital de Londres e vê que a cidade está deserta. Ele encontra outras pessoas não infectadas e tentam chegar a Manchester onde, segundo ouviram dizer, os não infectados estão se reunindo. O período de incubação do vírus é algo entre 10 e 20 segundos, um conceito que mais tarde seria utilizado no frenético Guerra Mundial Z (World War Z, 2013), assim como a ideia do sujeito acordando de um coma para encontrar um mundo totalmente modificado foi utilizado na série The Walking Dead (2010).
Peter Dendle disse que esse foi o primeiro filme de zumbi em uma década a obter visibilidade significativa e atenção da mídia, praticamente sozinho reacendendo o gosto do público pelos filmes de zumbis, mesmo considerando as objeções de alguns fãs, como falamos acima. Para Dendle, a aparência e a sensação dessas criaturas tornaram-se emblemáticas para os zumbis dos anos 2.000. O crítico disse que Boyle, como Romero, também deu muito atenção aos detalhes mais ásperos do dia-a-dia dos personagens em um mundo apocalíptico, e também entendeu que as imagens de Londres abandonada, com veículos tombados e lixo pelas ruas, tornaram-se o modelo para muitos filmes que se seguiram. Mas é sempre bom lembrar que os filmes apocalípticos não começaram com os zumbis, e imagens semelhantes já vinham sendo apresentadas pelo cinema de ficção científica pelo menos desde a década de 1950.

Brendan Gleeson, Cillian Murphy e Naomie Harris.

O conhecido escritor e crítico John Scalzi é um dos admiradores do filme. Ele disse que no início do século 21 os filmes de zumbis estavam passando por algo como um renascimento, mas que a maioria desses filmes ou eram refilmagens de filmes mais antigos e melhores, ou eles simplesmente empestavam um aposento com zumbis. Mas Extermínio, diz Scalzi, “(...) é uma exceção notável a essa tendência e também representa completamente outra coisa: um roteiro de como filmes de ficção científica sem os vastos recursos financeiros de um estúdio de Hollywood ainda podem produzir filmes inteligentes e emocionantes que não apenas funcionam, mas fazem toneladas de dinheiro”. O filme foi produzido com cerca de 8 milhões de dólares e rendeu mais de dez vezes esse valor.
Scalzi disse que o filme nunca insulta a inteligência do espectador, e também faz uma jogada muito inteligente ao apresentar os zumbis como rápidos e, apesar de não serem inteligentes no sentido clássico, são espertos no sentido predatório. “Esses são zumbis dos quais você não pode ser mais rápido, e dos quais não faz sentido simplesmente se esconder em algum lugar. O roteiro e o cineasta conscientemente fazem referências a filmes anteriores de zumbis e monstros, mas esse é a evolução do gênero, não uma repetição. Os zumbis são, de novo, genuinamente aterrorizantes”.
O filme teve a sequência Extermínio 2 (28 Weeks Later, 2007) dirigido por Juan Carlos Fresnadillo, e Danny Boyle e Alex Garland como produtores. O elenco contou com nomes conhecidos como Jeremy Renner, Rose Byrne e Idris Elba. E apesar de não ter a mesma importância do original, teve boa recepção do público e da crítica.

A produção de histórias envolvendo apocalipses zumbi explodiu no século 21, no cinema, na televisão e na literatura, em grande parte impulsionada pelo sucesso dos filmes citados acima. E estendeu-se para diversas vertentes, seguindo pelo humor ou pelos livros para “jovens adultos” e até romances banais.
Na literatura, a quantidade de livros com zumbis publicados neste século é impressionante, e muitos deles seguindo a linha apocalíptica. No cinema, as comédias com zumbis também foram produzidas em número impressionante, quase sempre com resultados, na melhor das hipóteses, medianos, com raras exceções.
A seguir, apresentamos mais algumas dessas produções que foram publicadas e apresentadas no Brasil.
 


O GUIA DE SOBREVIVÊNCIA A ZUMBIS: PROTEÇÃO TOTAL CONTRA OS MORTOS-VIVOS (The Zombie Survival Guide, 2003)

Max Brooks.
Editora Rocco.
Primeiro livro de Max Brooks, roteirista premiado do consagrado programa de humor Saturday Night Live. Ele utiliza o humor de forma a compor um cenário satírico do apocalipse zumbi, e começa apresentando informações sobre o vírus Solanum, que transforma as pessoas em zumbis. Também apresenta as características dos zumbis e, posteriormente, técnicas de sobrevivência no caso de uma epidemia zumbi.
O livro teve boa recepção da crítica, mas muitas vezes os comentários expressavam dúvida sobre ser uma obra de humor ou não.


 

 

 


TODO MUNDO QUASE MORTO (Shaun of the Dead, 2004)

Direção de Edgar Wright.

Dylan Moran, Kate Ashfield, Simon Pegg e Lucy Davis (Universal Pictures/ StudioCanal/ Working Title Films/ WT2 Productions).

Produção da Inglaterra, França e Estados Unidos, com roteiro de Simon Pegg e do diretor Edgar Wright, e um dos filmes que, como disse Peter Dendle, ajudou a impulsionar a nova onda de filmes de zumbis no século 21, em particular os filmes de apocalipses zumbi.
Esse é uma comédia deliciosa e inventiva focado no momento em que as pessoas começam a se transformar em zumbis.


                                                                            Simon Pegg, totalmente desligado do apocalipse zumbi.

No meio da ação está Shaun (Simon Pegg), que não está passando pela melhor fase de sua vida, com um emprego que detesta e sua namorada deixando-o. Está tão atrapalhado e concentrado em como agir para ter sua namorada de volta que quase não percebe que as ruas estão repletas de humanos transformados em mortos-vivos. Quando se dá conta do que aconteceu, ele e seu amigo estúpido, Ed (Nick Frost), resolvem salvá-la dos zumbis para que ele possa mostrar o que é capaz de fazer quando está decidido.
O título é uma brincadeira com Dawn of the Dead (O Despertar dos Mortos), o filme de George A. Romero, e as cenas de humor são excelentes. Antes de perceber que o mundo foi tomado por zumbis, o público já percebeu o que está acontecendo, só que Shaun não presta atenção a nada do que está acontecendo à sua volta.


CELULAR (Cell, 2006)

Stephen King.
Editora Objetiva (2007).
O livro de Stephen King apresenta mais um exemplo de uma epidemia que não revive os mortos, necessariamente, mas afeta os vivos, como em Extermínio. O autor disse que o livro foi escrito como uma homenagem a George A. Romero e a Richard Matheson, e ele entra direta na ação, mostrando pessoas que repentinamente começam a apresentar um comportamento alucinado e violento.
Ele centra a ação no personagem Clayton Riddell, um artista que tinha acabado de fazer um acordo para publicar sua graphic novel, em Boston, quando todas as pessoas que estavam falando ao celular recebem um sinal, “o pulso”, que de alguma forma altera seu comportamento, transformando-as em zumbis raivosos.
O caos instala-se rapidamente, e Clayton junta-se a Thomas e à adolescente Alice em uma jornada em direção ao Maine, atravessando um país devastado, encontrando alguns sobreviventes e sabendo que os afetados atacam imediatamente qualquer um que encontrem que não tenha sido afetado pelo sinal.

                                                       Os zumbis do filme atacam (The Genre Co./ Benaroya Pictures).

Com o tempo, os zumbis começam a apresentar cada vez mais um comportamento coletivo, como uma mente gigantesca, elaborando planos para converter os sãos. A história teve um final indefinido; ainda que os não afetados descobrissem uma forma de deter o pulso, não se sabe muito bem o que aconteceu com o planeta.
O livro foi adaptado para o cinema em Celular (Cell, 2016), dirigido por Tod Williams, com John Cusack, Samuel L. Jackson e Isabelle Fuhrman nos papéis centrais, mas foi um fracasso de crítica e de público.


GUERRA MUNDIAL Z: Uma História Oral da Guerra dos Zumbis (World War Z: An Oral History of the Zombie War, 2006)

Max Brooks.
Editora Rocco.
O segundo livro de Max Brooks, uma espécie de sequência ao seu Guia de Sobrevivência a Zumbis. O livro foi composto na forma de uma série de relatos de sobreviventes de um apocalipse zumbi que quase destruiu o planeta, em entrevistas dadas a um integrante de uma comissão da ONU para avaliar os eventos, tanto para determinar como tudo começou como para avaliar a situação do planeta após a quase destruição da humanidade.
O cenário que vai sendo composto aos poucos, mostrando como um paciente contaminado foi capaz de infectar todo o planeta, e como as autoridades inicialmente simplesmente negavam haver qualquer problema, até que as coisas fogem ao controle.
A ordem social é completamente destruída e cada país lida de forma diferente com a epidemia, o que resulta em conflitos violentos, inclusive com uma guerra nuclear entre o Paquistão e o Irã. E, do espaço, os ocupantes da Estação Espacial Internacional observam hordas gigantescas de zumbis atravessando a Ásia central e as planícies dos Estados Unidos. Depois de muitos anos, o mundo consegue encontrar formas de lutar e aniquilar os zumbis, mas o mundo já está totalmente modificado.

Os zumbis fazendo uma escada de mortos-vivos para invadir Jerusalém (Paramount Pictures/ Skydance Productions/ Hemisphere Media Capital).

O livro originou o filme com o mesmo título, lançado em 2013, mas com pouca relação com o livro de Brooks. O filme foi dirigido por Marc Forster, com Brad Pitt como astro, com uma produção multimilionária e bilheteria excepcional. E como o ritmo da vida em 1968 era bem diferente do ritmo de 2013, não é de se estranhar que o ritmo dos zumbis de 1968 fosse diferente dos zumbis de Guerra Mundial Z. A velocidade da propagação do vírus e a velocidade e ferocidade dos zumbis de Guerra Mundial Z são impressionantes. Brad Pitt interpreta Gerry Lane, ex-funcionário da ONU, especialista com relação a armas de destruição em massa, que se vê no meio da explosão de zumbis na Filadélfia, com sua esposa Karin (Mireille Enos) e duas filhas, conseguindo fugir e, eventualmente, ser resgatado por um helicóptero da ONU.
Posteriormente, ele vai em uma missão para encontrar a fonte do vírus para que se possa desenvolver uma vacina, enfrentando hordas cada vez mais numerosas de zumbis que não se detêm diante de nada, nem mesmo nas muralhas gigantescas construídas em Jerusalém, em uma das cenas mais impressionantes do filme, com os zumbis formando uma montanha de mortos-vivos para poderem pular para dentro da cidade.


PLANETA TERROR (Planet Terror, 2007)

Direção de Robert Rodriguez.

Rose McGowan, e sua perna-metralhadora (Dimension Films/ Troublemaker Studios/ Rodriguez International Pictures/ The Weinstein Company).

Com o nome de Quentin Tarantino na produção, o filme acabou se tornando um cult, como quase tudo que ele e Robert Rodriguez fizeram. O aspecto apocalíptico em si só fica evidente ao final, com a praga zumbi espalhando-se pelo planeta.
E, aqui, tudo é exagerado ao extremo, com situações impossíveis, sem qualquer explicação plausível, sucedendo-se em ritmo alucinante. E tudo propositalmente para criar o clima de “filme ruim antigo” e, claro, de humor. Sangue e vísceras espalham-se pela tela, atingem a câmera, as imagens têm borrões e riscos, como se o filme fosse mesmo antigo e mal cuidado; tem até uma parte em que o filme queima, e a ação passa para o rolo seguinte, após um aviso ao público.
Os zumbis aqui são pessoas afetadas por um agente bioquímico liberado no ar após um entrevero entre um ex-militar (Bruce Willis) e seu fornecedor de um suprimento de gás que permite que ele e seus comandados não sejam transformados em zumbis horrendos. Mas o gás espalha-se e os seres começam a surgir, talvez entre os mais nojentos zumbis já apresentados pelo cinema.
Tudo é levado ao extremo. Uma das personagens, a heroína Cherry (Rose McGowan), tem sua perna decepada em um ataque zumbi, é levada ao hospital pelo amante Wray (Freddy Rodríguez), é operada e, no momento em que os zumbis começam a atacar todo mundo no hospital, Wray simplesmente encaixa um pé de mesa no coto de perna, para poderem fugir. Posteriormente, ele dá a ela uma metralhadora instalada na perna, que ela dispara sabe-se lá como. Os zumbis despedaçam corpos como se fossem de pano; os tiros arrancam braços e abrem buracos impossíveis nos corpos; pessoas feridas seriamente (como Cherry) levantam-se e saem correndo como se nada tivesse acontecido.
Para quem gosta de humor negro, é um prato cheio.


PONTYPOOL (Pontypool, 2008)

Direção de Bruce McDonald.


MUTAÇÕES (Mutants, 2009)

Direção de David Morlet.

(Sombrero Productions/ Centre national du cinéma et de l'image animée/ Canal+).

Produção francesa, em ritmo bem diferente da maioria das produções com apocalipses zumbi. Aqui foi um vírus que atingiu a população mundial, transformando a maioria das pessoas. Uma das exceções é a paramédica Sonia (Hélène de Fougerolles) que, ao fugir da loucura que se instala do mundo, encontra um refúgio em companhia de seu marido Marco (Francis Renaud), que foi infectado com sangue contaminado e está passando por um longo processo de se transformar em zumbi, uma vez que o período de infecção total é bem maior do que na maioria dos filmes do gênero.
O filme recebeu críticas variadas, alguns entendendo que o ritmo lento das filmagens não está de acordo com o que se espera do gênero; outros entendendo que é exatamente isso que o torna não apenas diferente, mas com propostas mais profundas do que o usual no tema.
Peter Dendle disse que o zumbi Marco é um personagem complexo “(...) levando a uma das dinâmicas zumbi-humano mais pessoais e humanas dos anos 2.000”. Para o crítico “O ritmo não apressado do filme permite tomadas prolongadas e atmosféricas, e uma construção deliberada de desconforto. A paisagem circundante dos Alpes expandindo-se para o céu – e o mundo coberto pela neve silenciosa – proporciona um sabor único a esse apocalipse francês”.


LEGIÃO DO MAL (La Horde, 2009)

Direção de Yannick Dahan e Benjamin Rocher.

(Le Pacte/ Coficup/ Canal+).

Mais um apocalipse zumbi vindo direto da França, mas com proposta totalmente diferente de Mutações, ou seja, centrado na ação e violência extrema. Apresenta um grupo de policiais que enfrenta uma quadrilha de traficantes, querendo se vingar contra a morte de um colega, mas as coisas não saem bem e eles são dominados.
A briga entre eles tem de ser suspensa, porque um ataque zumbi ameaça a todos, e eles precisam se unir para enfrentar o apocalipse.
 


ZUMBILÂNDIA (Zombieland, 2009)

Direção de Ruben Fleischer.

Jesse Eisenberg, Emma Stone, Abigail Breslin e Woody Harrelson (Columbia Pictures/ Relativity Media/ Pariah).

Mais um apocalipse zumbi voltado para a comédia, e com uma dose bem certeira. Após os zumbis tomarem conta do planeta e matarem ou transformarem quase todos, dois sobreviventes encontram-se pela estrada, o estudante Columbus (Jesse Eisenberg) e Tallahassee (Woody Harrelson); os nomes são apenas o nome da cidade de destino de cada um. E eles não poderiam ser mais diferentes. A contragosto, o guerreiro Tallahassee concorda em dar carona ao tímido Columbus, e percorrem as solitárias estradas do país, o primeiro sem quaisquer regras, adorando matar zumbis e sempre procurando por twinkies, o doce que ele adora, enquanto Columbus procura seguir suas próprias regras estritas de sobrevivência.
Quando param em uma mercearia para matar zumbis (e procurar twinkies, é claro), encontram duas jovens, e uma delas diz ter sido mordida por um zumbi, o que significa que irá se transformar em breve. A irmã pede a arma de Tallahassee para matá-la antes que ela se transforme. E, com a arma dele em mãos, as duas roubam tudo o que eles têm, do carro às armas e suprimentos. Acontece que as irmãs Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) têm suas próprias regras, que consistem em não confiar em ninguém e enganar quem puderem para sobreviver.
E os quatro ainda irão se encontrar mais vezes, em situações bem engraçadas. Uma das melhores é quando vão parar na casa de Bill Murray, achando que deve estar vazia, mas Bill Murray sobreviveu. Não por muito tempo, mas sobreviveu.
O filme recebeu algumas críticas estrondosas e foi um sucesso de bilheteria.
Uma sequência, Zumbilândia: Atire Duas Vezes (Zombieland: Double Tap, 2019), também com direção de Fleischer, traz de volta o quarteto principal do primeiro filme, movendo-se para a Casa Branca e, posteriormente, para Graceland e uma comunidade hippie. E, é claro, tendo de enfrentar hordas de zumbis, inclusive os que eles chamaram de ninjas e o T-800 (referência ao robô assassino de O Exterminador do Futuro). Também foi muito bem nas bilheterias


ORGULHO E PRECONCEITO E ZUMBIS (Pride and Prejudice and Zombies, 2009)

Seth Grahame-Smith.
Editora Intrínseca (2010).
Adaptação em ritmo de paródia do clássico Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 1813), de Jane Austen, imaginando um apocalipse zumbi ocorrendo no século 18 e estendendo-se ao século 19, e envolvendo os mesmos personagens do livro de Austen. Inclusive imaginando que as irmãs Bennet têm conhecimento de artes marciais, que utilizam para combater os zumbis que invadem um baile e em outras batalhas nas quais a Grã-Bretanha enfrenta hordas de zumbis que ameaçam a existência de todos. Esses zumbis conseguem se comunicar e pensar, dependendo do seu grau de degradação, e são organizados em um exército por George Wickham, desafeto do senhor Darcy.
O sucesso de público do livro – ainda que nem sempre da crítica – levou à publicação de Pride and Prejudice and Zombies: Dawn of the Dreadfuls (2010), dessa vez escrito por Steve Hockensmith, também o autor de outra sequência, Pride and Prejudice and Zombies; Dreadfully Ever After (2011).
O livro original também resultou em um filme com o mesmo título, dirigido por Burr Steers, em 2016. Foi uma produção bem cuidada e cara, mas não chegou a ser um sucesso de bilheteria.


THE WALKING DEAD (The Walking Dead, 2010-2022)

Criação de Frank Darabont.

(American Movie Classics/ Circle of Confusion/ Valhalla Motion Pictures/ Darkwoods Productions/ AMC Studios/ Idiot Box Productions).

Um dos seriados mais populares dos últimos tempos, baseado nos quadrinhos com o mesmo título, criados por Robert Kirkman e Tony Moore e publicados entre 2003 e 2019. A série foi criada por Frank Darabond, conhecido pelo roteiro e direção dos sensacionais Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre, baseados em histórias de Stephen King.
O centro das ações é o xerife Rick Grimes (Andrew Lincoln), ferido em um confronto com bandidos, que é levado ao hospital e entra em coma. Quando ele se recupera do coma, mas ainda sentindo seu ferimento, percebe que todos os aparelhos estão desligados e que o hospital está vazio e parece um cenário de guerra. Enquanto estava em coma, um apocalipse zumbi arrasou o planeta, o que ele vai percebendo aos poucos.
Ao ver que sua esposa Lori (Sarah Wayne Callies) e seu filho Carl (Chandler Riggs) não estão em sua casa, ele parte em busca deles, o que eventualmente acaba acontecendo. Eles foram ajudados por seu colega policial Shane (Jon Bernthal) e juntaram-se a um grupo de sobreviventes.
A partir daí desenrola-se a jornada do grupo em busca de um local seguro onde possam se proteger dos zumbis, ou walkers, como são chamados na série.

                                                                                           Andrew Lincoln, como Rick Grimes.

Como era de se esperar, nem todas as pessoas que sobreviveram são boas, ou bem intencionadas, e os perigos envolvem não apenas fugir ou destruir os zumbis, mas enfrentar as inúmeras dificuldades apresentadas pelos demais grupos de sobreviventes.
Em uma época em que os zumbis velozes estavam cada vez mais comuns nos filmes e séries, The Walking Dead voltou a apresentar os zumbis lentos, clássicos, mas não menos perigosos e, às vezes, movendo-se em hordas avassaladoras. A série marcou definitivamente a história dos zumbis, elaborando relacionamentos complexos entre as pessoas, mas sempre mantendo os zumbis como uma ameaça constante.
O imenso sucesso levou, inevitavelmente, à criação de vários spinoff, começando com Fear the Walking Dead (2015-2023), criado por Dave Erickson e Robert Kirkman. A seguir veio The Walking Dead: Um Novo Universo (The Walking Dead: World Beyond, 2020-2021), criado por Scott M. Gimple e Matthew Negrete. A seguir, Tales of the Walking Dead (2022), criado por Scott M. Gimple e Channing Powell; The Walking Dead: Dead City (2023-), criado por Eli Jorne; The Walking Dead: Daryl Dixon, criado por David Zabel (2023-). Outra série está planejada para 2024, The Walking Dead: The Ones Who Live.


Z NATION (Z Nation, 2014-2018)

Criação de Craig Engler e Karl Schaefer.

Keith Allan (Go2 Digital Media/ The Asylum).

Zumbis com comédia, com os criadores Engler e Schaefer querendo fazer uma espécie de contraponto a The Walking Dead, que consideraram muito séria. A série foi apresentada principalmente no canal SyFy e posteriormente em diversas plataformas.
A história situa-se três anos após o apocalipse zumbi, depois que uma experiência do governo tentou encontrar uma cura para a zumbificação com uma vacina. Apenas um participante sobreviveu, tendo sido mordido por um zumbi, mas não se transformando completamente, de modo que ele tem os anticorpos necessários, ainda que esteja se transformando em algo entre zumbi e humano. Ele e alguns sobreviventes viajam pelos EUA em direção à Califórnia, onde se diz estar o último centro de controles de doenças do mundo.
Nem sempre bem recebido pela crítica, a série foi um sucesso de público.


A MENINA QUE TINHA DONS (The Girl With All the Gifts, 2014)

M.R. Carey.
Fábrica 231 (2014).
Ainda que não tenha sido o primeiro livro do gênero a narrar o ponto de vista de um zumbi, esse é um dos mais bem recebidos pela crítica, apresentando a menina zumbi Melanie, uma das poucas crianças que, apesar de terem sido afetadas pelo fungo que transformou grande parte da humanidade em zumbis, não foi totalmente transformada, e passa a ser estudada, juntamente com outras crianças, em um local controlado por militares.
As crianças zumbi são mantidas em celas, mas assistem a aulas com professores, e Melanie desenvolve uma relação de amor com uma das professoras, Helen Justineau. No local, a dra. Caldwell realiza suas experiências, tentando entender como é possível que, apesar de terem em si o fungo, as crianças não se tornaram completamente zumbificadas. Para tanto, às vezes ela disseca as crianças, que vê apenas como cobaias, para desespero de Justineau, que as vê como algo completamente diferente.
A situação se complica quando um grupo de sobreviventes, chamados de lixeiros, invade o local, utilizando um bando de zumbis como arma, e Justineau, Caldwell, Melanie e dois militares têm de fugir e tentar chegar a uma cidade distante.
A história situa-se cerca de 20 anos após o colapso que afetou a humanidade. A ideia de um fungo, e não um vírus, infectando os humanos e transformando-os, já tinha surgido em 2013 no vídeo game The Last of Us – posteriormente adaptado para a série da HBO, comentada abaixo. No caso do game e série, era o fungo cordyceps. No livro, é o Ophiocordyceps unilateralis, fungo existente em nosso mundo e que costuma afetar formigas, e que na história sofreu uma mutação e começa a agir nos humanos, transformando-os em seres raivosos que atacam os não infectados. A história tem um final que dá a entender que o mundo está condenado a passar por uma transformação absoluta, com uma nova raça de criaturas habitando o planeta.
O livro foi transformado em filme, Melanie – A Última Esperança (2016), dirigido por Colm McCarthy, com Sienna Nanua como Melanie, Gemma Arterton como Helen Justineau, e Glenn Close como a dra. Caldwell.


MAGGIE: A TRANSFORMAÇÃO (Maggie, 2015)

Direção de Henry Hobson.

Abigail Breslin e Arnold Schwarzenegger (Lionsgate/ Grindstone Entertainment Group/ Gold Star Films/ Lotus Entertainment/ Silver Reel).

Esse certamente não é um apocalipse zumbi comum, especialmente em uma época em que os filmes do gênero eram em sua maioria voltados para a ação. E é ainda menos esperado por ter no elenco Arnold Schwarzenegger, um dos maiores, senão o maior nome dos filmes de ação.
O mundo enfrenta uma pandemia zumbi provocada por um vírus chamado “necroambulismo”, que leva as pessoas afetadas a um longo e doloroso processo de transformação em zumbis. A sociedade não está totalmente destruída, ainda existem as autoridades, ainda que pouco possa ser feito, uma vez que não há cura para a doença. Quarentenas são implementadas para isolar os afetados, mas o clima é de pouco esperança.
Schwarzenegger interpreta Wade Vogel, cuja filha Maggie (Abigail Breslin) foi infectada após ser mordida, e inicia o processo de transformação, que leva semanas. Ele se recusa a mandá-la para a quarentena e os dois passam juntos os últimos dias dela como humana, com Maggie lutando para manter suas memórias e os comportamentos humanos e sociais, mas sem sucesso; o avanço da transformação é inevitável. E como ela é mantida em casa pelo pai, caberá a ele a decisão de terminar com sua vida, antes que a transformação total aconteça.
O filme recebeu muitas críticas favoráveis, tanto pela ambientação e pelo clima criado pelo diretor estreante, quanto pelas atuações de Breslin e a surpreendente atuação dramática de Schwarzenegger. E não é para menos; trata-se de um belo e comovente filme, ainda que certamente não vá agradar os fãs dos apocalipses zumbi mais violentos e com mais ação. Mas é uma abordagem interessante da destruição que ocorre dentro de uma família cuja integrante foi afetada por uma doença terrível que, irremediavelmente, vai lhe tirar toda a humanidade.


INVASÃO ZUMBI (Busanhaeng/ Train to Busan, 2016)

Direção de Sang-ho Yeon.

(Next Entertainment World/ RedPeter Film/ Movic Comics).

Produção da Coreia do Sul que teve boa acolhida do público e rendeu muito dinheiro nas bilheterias, cerca de dez vezes o custo da produção. No entanto, apesar das boas cenas de ação, é uma história básica de apocalipse zumbi, com o caos se instalando no país no momento em que um pai está levando sua filha de trem para Busan, para visitar a mãe.
Enquanto a viagem ocorre, os passageiros começam a perceber que as estações estão tomadas por zumbis, atacando tudo e todos, e o problema também afeta o interior do trem, que recebeu um passageiro contaminado. A partir daí, o pai faz tudo o que pode para salvar sua filha e levá-la em segurança para Busan, onde se diz que o exército conseguiu conter a invasão e a contaminação que, tudo indica, começou em uma indústria química.


CARGO (Cargo, 2017)

Direção de Ben Howling e Yolanda Ramke.

Martin Freeman e Simone Landers (Addictive Pictures/ Causeway Films/ Head Gear Films).

O filme não poderia estar mais distante dos filmes clássicos com zumbis, baseado no curta-metragem dirigido pela dupla em 2013.
Um vírus espalha-se pela humanidade e transforma as pessoas em zumbis em 48 horas. A história segue uma família que navega por um rio da Austrália; o pai Andy (Martin Freeman), a mãe Kay (Susie Porter) e a filha Rosie. A mãe acaba sendo contaminada ao ser mordida por um zumbi, e eles precisam chegar a um hospital em 48 horas, mas tudo sai errado, e Andy também acaba infectado quando é mordido pela esposa.
A partir daí, é uma batalha do pai para salvar sua filha, encontrando no caminho um homem que lida com a questão da pior forma possível, mas também uma menina aborígene, Thoomi (Simone Landers), que acaba ajudando a levar a filha para a segurança de sua tribo.
O cenário é completamente diferente da maioria dos filmes do gênero, sem o surgimento das hordas de zumbis, com ação em ritmo lento, mas de certa forma, como nos filmes de Romero, também observando as relações sociais e os preconceitos da sociedade, como no confronto entre o homem branco violento e ignorante que encontram pelo caminho e a recepção e visão de mundo dos aborígenes.
Como os personagens percorrem a vastidão do interior da Austrália, parcamente povoado, alguns poucos seres contaminados aparecem. E eles são bem diferentes do padrão; não apenas lentos, mas quase letárgicos, a não ser que alguém chegue perto o suficiente para ser mordido.
Não é o filme ideal para quem quer o básico das histórias de zumbis, mas é muito bonito e sempre interessante, além de contar com a atuação impecável de Martin Freeman.


A NOITE DEVOROU O MUNDO (La Nuit a Dévoré le Monde, 2018)

Direção de Dominique Rocher.

Anders Danielsen Lie (Haut et Court/ Canal+/ Ciné+).

Produção francesa baseada no livro com o mesmo título de Martin Page, publicado em 2012 com o pseudônimo Pit Agarmen (no Brasil, A Noite Devorou o Mundo. Editora Rocco, 2014). É centrado basicamente no personagem Sam (Anders Danielsen Lie), que vai ao apartamento de sua ex-namorada (Sigrid Bouaziz) para recuperar umas fitas de música que fazem parte de seu trabalho, mas quando chega lá ela está dando uma festa com dezenas de pessoas. Sem conseguir o que deseja, ele acaba dormindo no escritório dela e, quando acorda, o mundo mudou completamente.

                                                                        Sam enlouquecendo e atraindo os zumbis.

Ele sai do aposento e já vê o apartamento completamente destruído, com manchas de sangue nas paredes, e ao chegar à porta é atacado por zumbis que estavam parados na escada. Ele se refugia no apartamento e inicia sua sobrevivência solitária, reunindo tudo o que precisa para viver, de comida a armas. Ele “limpa” o prédio, matando os zumbis que ficaram por lá, pegando o que pode dos demais apartamentos, e percebe que as ruas em torno do prédio estão repletas de zumbis.
E, ao contrário dos demais filmes do gênero, esses zumbis não emitem quaisquer sons, o que também não deixa de ser arrepiante. A cidade de Paris, tão cheia de vida e sons variados, está em absoluto silêncio, contrastando com a atividade preferida de Sam, que é gravar sons dos objetos mais variados.
Ele mantém algumas atividades básicas, como para manter um ritmo de vida, alguma disciplina, e não enlouquecer, mas eventualmente nada disso adianta, e ele passa por momentos de alucinação, com sérias consequências.
Esse definitivamente não é um filme padrão de apocalipse zumbi, mas é bem interessante, apesar de ter um final mal resolvido. Ainda que seja aberto a muitas possibilidades, é bastante abrupto e não tão bem elaborado quanto o restante do filme. Ainda assim, é muito bom.


BLACK SUMMER (Black Summer, 2019-2021)

Criação de John Hyams e Karl Schaefer.

Christine Lee, Jaime King e Justin Chu Cary (The Asylum/ Go2 Digital Media/ Alberta Film Projects/ Real by Fake).

A série foi apresentada como um spinoff de Z Nation, tanto que tem um dos criadores daquela série, Schaefer. Mas qualquer comparação para por aí. Não há qualquer traço de humor em Black Summer, e a série vai direto na veia. Não há qualquer explicação para como começou o apocalipse zumbi, ou quando, ou mesmo exatamente como está a situação do planeta no momento. E não há um fio condutor principal para a história, mas uma série de situações isoladas, como se cada uma compusesse um conto sobre os humanos e sua luta contra os zumbis. Às vezes, as histórias se encontram, mas nem sempre. Às vezes, a história é contada fora da ordem cronológica, de modo que só vamos entender exatamente o que aconteceu na primeira cena do episódio lá pelo fim dele.

O caos instalado na cidade, com zumbis atacando e não infectados tentando se defender do jeito que podem.

Os zumbis têm a velocidade dos humanos, mas são incansáveis nas perseguições, e são difíceis de serem detidos; às vezes, é preciso vários tiros para derrubar um deles, ainda que permanece o conceito de atirar na cabeça para resolver o assunto de vez. E os mortos transformam-se rapidamente, em questão de segundos.
O início da série – e, na verdade, toda a segunda temporada também – é um caos, com os zumbis surgindo de todas as partes, atacando sozinhos ou em grupos, e são o maior problema dos sobreviventes. Mas também não demora muito para se perceber que é preciso ter o mesmo cuidado com os humanos, porque as pessoas fazem qualquer coisa para fugir, conseguir comida ou armas.
Ao contrário do que vimos em The Walking Dead, aqui não ocorre a lenta construção dos personagens e suas transformações ao longo da jornada. Os personagens simplesmente fogem e lutam contra zumbis e contra outros humanos, que podem ser tão bons ou ruins como eles.


ALL OF US ARE DEAD (Ji-geum u-ri hak-gyo-neun, 2022-)

Criação de Chun Sung-il, Lee Jae-kyoo e Kim Nam-su.

(Film Monster Co./ Kimjonghak Production Co.).

Série coreana baseada nas histórias em quadrinhos Jigeum Uri Hakgyoneun, escritas e ilustradas por Joo Dong-geun. O apocalipse zumbi começa em uma escola quando uma estudante é mordida por um rato que era parte de um experimento de um dos professores.
Rapidamente, o caos se instala, com a infeção espalhando-se rapidamente de um estudante para outro, e formando grupos que atacam os humanos violentamente. Alguns estudantes conseguem resistir, mas logo se vê que o caos irá se espalhar por toda a cidade.
 


THE LAST OF US (2023-)

Criação de Neil Druckmann e Craig Mazin.

Pedro Pascal, Anna Torv e Bella Ramsey (Canadian Film or Video Production Tax Credit/ Government of Alberta/ Naughty Dog/ PlayStation Productions/ Province of British Columbia Production Services Tax Credit/ Sony Pictures Television/ The Mighty Mint/ Word Games).

Série da HBO adaptada do vídeo game The Last of Us (2013), com história situada 20 anos após uma pandemia causada pelo fungo Cordyceps, que transforma as pessoas em algo semelhante a zumbis. É centrada em Joel Miller (Pedro Pascal), que já teve sua filha morta quando ele tentava deixar sua terra natal, e que agora vive em uma zona de quarentena em Boston, governada pela Fedra (Federal Disaster Responce Agency), que não é exatamente uma democracia.
Junto com sua companheira Tess (Anna Torv), ele tem a missão de levar a jovem Ellie Williams (Bella Ramsey) até um grupo de estudos, uma vez que ela parece ser imune à doença. E no caminho enfrentam uma série de obstáculos e perigos.
Ao longo dos episódios vamos conhecendo melhor a história de Joel e Tess, assim como de outros personagens que os ajudam, além de perceber melhor a extensão do apocalipse em que estão inseridos. O fungo toma conta dos corpos afetados de tal forma que tudo o que eles pensam é em atacar outros humanos para propagar-se. Mais do que isso, em alguns casos eles estão conectados por extensões do fungo, de tal forma que se a pessoa pisar em uma dessas extensões irá despertar todos os afetados que estão dormentes, até mesmo quilômetros distantes, que irão imediatamente dirigir-se à origem do sinal enviado. E eles são rápidos, e muito difíceis de serem mortos.
Pode haver alguma discussão sobre se esses seres são ou não zumbis, mas os mortos-vivos já mudaram tanto ao longo dos anos que parece que ficou mais ou menos entendido que eles são zumbis, ainda que diferentes.
Seja como for, a série é tensa, com bons efeitos e excelentes atuações, mantendo o nível quase sempre excelente das séries da HBO.
A primeira temporada teve nove episódios, e a série foi renovada para uma segunda temporada.