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À Torre Negra Chegamos

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autorGilberto Schoereder
publicado porGilberto Schoereder
data01/01/2007
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Um mundo repleto de portais para outros mundos, paralelos, uma longa jornada por uma terra devastada e a possibilidade de que o universo seja destruído. A mais complexa obra de Stephen King chega ao seu final.
À Torre Negra Chegamos

Um mundo repleto de portais para outros mundos, paralelos, uma longa jornada por uma terra devastada e a possibilidade de que o universo seja destruído. A mais complexa obra de Stephen King chega ao seu final.

Gilberto Schoereder

Finalmente foi publicado no Brasil o último livro da série A Torre Negra (Ed. Objetiva), de Stephen King, obra que ele começou a esboçar em 1974, e cujo primeiro volume, O Pistoleiro, foi publicado em 1978, nos Estados Unidos, e em 2004, no Brasil.
O sétimo volume, A Torre Negra, fecha uma das histórias mais inebriantes da literatura de ficção científica, terror e fantasia, com referências a inúmeras obras e personagens elaborados por King ao longo de sua prolífica carreira.
Os livros contam a história da jornada do último pistoleiro de um mundo paralelo, Roland de Gilead, em busca da Torre Negra, o ponto de sustentação dos diferentes universos, cujo equilíbrio se encontra ameaçado pela atuação do Rei Rubro. Roland segue sinais específicos que o levam a formar seu grupo de viagem, "coletando" pessoas através de portais que levam a diferentes universos, alguns deles muito parecidos com o nosso próprio, e em diferentes épocas.
Esse mundo de King é repleto de portais para vários mundos, acessos que são chamados de locais "ralos", como se as diferentes realidades estivessem muito próximas. Um desses locais é no Maine, estado norte-americano onde King vive e onde tantas de suas histórias se passam. Os mundos se interpenetram, as realidades de um surgem em outro. No mundo de Roland, por exemplo, bem diferente do nosso, uma das canções de maior sucesso é Hey Jude, numa versão ligeiramente diferente da dos Beatles.
Acontece de a tecnologia de um mundo estar sendo utilizada em outro, mas ninguém parece ter o pleno conhecimento de como as coisas funcionam. Às vezes, trata-se de uma tecnologia avançadíssima deixada por um Povo Antigo; as pessoas utilizam-na, mas não a entendem.
O enredo é repleto de viagens no tempo, alterações no curso da história, paradoxos temporais ou supostos paradoxos.
O grupo de Roland segue o Caminho do Feixe Luminoso, como Dorothy seguiu a Estrada dos Tijolos Amarelos; num dos livros (Mago e Vidro), o grupo chega a um castelo de vidro que os personagens relacionam com o castelo do mágico em Oz. É apenas uma das comparações possíveis, numa obra repleta de citações e referências. A influência de Tolkien, por exemplo, é marcante. O grupo de Roland forma um ka-tet, unido por algo mais do que um objetivo comum, como a Irmandade do Anel, de Tolkien. O Mal, na figura do Rei Rubro e seus comandados, é constante e ameaça até mesmo a integração dos personagens. O Rei Rubro é a sua versão de Sauron, o homem ou ser que pode destruir os Feixes de Luz, destruindo o mundo.

O próprio autor é incluído na história, surgindo como personagem antes mesmo de escrevê-la. Na verdade, sua recusa em continuar a escrever a história ameaça a existência dos personagens. Numa passagem, ele brinca consigo mesmo, quando um personagem sugere que, em suas histórias, ele se utilize do artifício conhecido como deus ex-machina para resolver determinadas situações. Randall Flagg – personagem do livro A Dança da Morte, e que também surge em A Torre Negra –, chega a dizer que King é "um escritor genuinamente talentoso que se transformara num medíocre (mas rico) artista de traço rápido".
Roland também fica muito bravo com Stephen King, acusando-o de ser preguiçoso e não realizar o trabalho que teria de fazer. Roland e seu grupo também têm como uma de suas missões ir ao mundo paralelo de King e salvá-lo, uma vez que ele iria morrer ao ser atropelado à beira de uma estrada no Maine, de modo que não poderia terminar sua história. No livro, King escreve a cena, revendo o acidente que realmente ocorreu com ele em 1999, quando foi atropelado. Curiosamente, o homem que o atropelou morreu no ano seguinte, no dia do aniversário de Stephen King.
Antes de iniciar o último capítulo do livro que finaliza a série, a longa jornada de Roland, King avisa os leitores que eles podem parar por ali, uma vez que alguns poderão se decepcionar com o final da história. Poderão ficar sem saber o que Roland presenciou dentro da Torre Negra. É claro que, depois de um aviso como esse é que os leitores vão querer saber. E o final é espetacular, ainda que talvez inesperado pela maioria.