Livros

Outra Volta do Parafuso, A (The Turn of the Screw) – 1898, Henry James. Abril Cultural (1980), 285 páginas.

Também publicado pela Europa-América (Portugal), com o título O Calafrio. Também publicado pela Ediouro (1998), L&PM (2008), Martin Claret (2007) e Hedra (2010), com o título A Volta do Parafuso, mais adequado. É um clássico absoluto da literatura de horror, uma das grandes histórias de fantasmas já contadas. Uma governanta é contratada para cuidar de duas crianças numa mansão, a pedido do tio das duas, que não deseja ter qualquer contato com ela ou com as crianças, assim como não quer ser incomodado de forma alguma. Na casa, ela encontra duas crianças adoráveis, com inteligência acima do normal e uma conversa que, muitas vezes, assemelha-se à dos adultos. Apesar de tudo, o jovem foi expulso da escola em que estudava, sem que a governanta saiba qual o motivo.
Não demora muito para que ela comece a ter visões de um homem e uma mulher que rondam pelo local, e fica sabendo, pela descrição que fornece dos dois a uma das empregadas, que eles trabalhavam ali, ele como jardineiro, ela como a governanta que a precedeu, e que ambos já tinham morrido. Por meio de diálogos estranhos, truncados, em que a governanta é quem parece fornecer todas as respostas às suas próprias dúvidas, ela fica sabendo que o comportamento dos dois não era o que se podia considerar como aconselhável, tendo, inclusive, uma certa influência sobre as crianças. Logo ela passa a ter certeza de que os fantasmas pretendem apossar-se da mente dos dois jovens, transmitindo-lhes todo tipo de comportamento diabólico.
As cenas em que a mulher se encontra com os fantasmas estão entre as mais bem construídas do gênero, aterrorizantes, mas o grande trunfo do livro parece ser a impossibilidade em definir se o que está acontecendo de fato existe ou se tudo não passa de um truque da imaginação poderosa da governanta, numa trama em que o elemento sexual está sempre rondando por perto.
A história culmina com uma cena fortíssima, enquanto ela tenta afastar a influência do fantasma do jardineiro, que a criança pode ou não ter visto.

Escrevendo sobre o livro em Horror: 100 Best Books (1988),  o autor inglês R. Chetwynd-Hayes (1919-2001) ressalta o aspecto dúbio da história, a impossibilidade de se estabelecer em definitivo se os fantasmas existem ou se tudo não passa da imaginação da governanta. Segundo ele, após ter lido a história muitas vezes ao longo dos anos ainda era muito difícil ter uma posição a respeito. Seriam os fantasmas "meramente ficções criadas pela imaginação do narrador sem nome"? Ele diz que Henry James pretendia que a história criasse a impressão de que as crianças realmente estavam expostas ao perigo e sob a influência de um mal. Mas Chetwynd-Hayes se pergunta: mas expostas a quem? aos fantasmas?; à governanta? "Toda comunicação parece vir dela. Ela é a única que vê os fantasmas; é ela quem constrói a mais fantástica interpretação do que lhe foi dito pela empregada iletrada, a senhora Grose". Assim, toda a interpretação do que estaria acontecendo passa pela visão e imaginação da governanta e, dessa forma, todos os eventos posteriores podem ser postos em dúvida.
É, sem dúvida, um dos grandes momentos da literatura de terror em todos os tempos.

A história teve uma adaptação para o cinema, a única que vale a pena ser comparada ao original, e um clássico do gênero, um filme apavorante com o título Os Inocentes (The Innocents), em 1961.