Livros

Anno Dracula (Anno Dracula) - 1992, Kim Newman. Ed. Aleph (2009), 372 páginas.

Alguns críticos alertam contra o que pode vir a ser um problema sério para qualquer romance: o excesso de personagens. Uma possível tendência é a de dispersar tanto a ação central da trama quanto o interesse do leitor. E personagens não faltam em Anno Dracula. E, mais do que isso, personagens já conhecidos dos frequentadores assíduos da literatura e do cinema fantásticos.
No entanto, neste caso o efeito é o oposto da dispersão e falta de interesse, o que só depõe a favor da capacidade narrativa de Kim Newman.
No posfácio do livro, escrito por Octavio Aragão – ele próprio excelente escritor brasileiro, autor do delicioso A Mão Que Cria, igualmente repleto de personagens “emprestados” –, esse tipo de ficção é chamado de “ficção alternativa” ou “ucronia ficcional”, pelo estudioso francês Eric B. Henriet, ou ainda de “ficção científica recursiva”, pelos críticos e escritores John Clute e Peter Nicholls. E mais popularmente conhecido também como steampunk.
Com história situada na Inglaterra vitoriana, imagina uma sequência alternativa para a história de Drácula, de Bram Stoker. Aqui, o vampiro não foi derrotado e expulso da Inglaterra, mas, além de trucidar seus antagonistas, conseguiu se casar com a rainha Vitória e instaurar um reinado de terror na Inglaterra, tornando os vampiros conhecidos no mundo inteiro.
O próprio Bram Stoker e sua esposa tornam-se personagens, e pelas páginas desfilam alguns dos vampiros mais conhecidos da ficção, além de nomes “quase” improváveis como Oscar Wilde, Jack, o Estripador, o doutor Hyde (e Jekyll, é claro), além de inúmeros personagens das obras de Rudyard Kipling, Ian Fleming, Conan Doyle, Alexandre Dumas, Stephen King, Charles Dickens e muito mais.
Tudo coeso, com personagens bem desenvolvidos, um enrêdo palpitante, sinistro e intrincado, com vampiros e humanos (os “quentes”) agindo tanto a favor como contra o reino de Vlad, o Empalador.
Uma beleza de livro.